PRINCÍPIOS
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Luís Eduardo dos Santos, / Leonardo Brandão
OS IDEAIS NORTE-AMERICANOS E O PERIGO VERMELHO NAS HISTÓRIAS EM
QUADRINHOS DO HOMEM DE FERRO (MARVEL) E DO LANTERNA VERDE (DC
COMICS)
THE NORTH-AMERICAN IDEALS AND THE RED MENACE IN THE COMIC BOOKS OF
IRON MAN (MARVEL) AND GREEN LANTERN (DC COMICS)
https://doi.org/10.46401/ardh.2024.v16.20106
Luís Eduardo dos Santos
Universidade Regional de Blumenau (FURB)
https://orcid.org/0009-0007-9463-7377
luis.dudu.santos@gmail.com
Leonardo Brandão
Universidade Regional de Blumenau (FURB)
https://orcid.org/0000-0001-8306-1092
leobrandao@furb.br
Recebido em 24 de janeiro de 2024
Aprovado em 23 de março de 2024
RESUMO: Este artigo, escrito no campo da
História Cultural, utiliza-se das Histórias em
Quadrinhos de super-heróis para se pensar
a Guerra Fria, conito ideológico que marcou
a segunda metade do século XX. O objetivo
é comparar dois gibis que, cada qual a sua
maneira, dialogaram com este fato histórico,
com um publicado pela Marvel e outro pela DC
Comics. Concluiu-se que ambas as revistas se
inseriam e fomentavam um imaginário social
ligado ao anticomunismo e ao poder bélico,
ambos valores dominantes nos Estados Unidos
do período.
Palavras-chave: Guerra Fria; Imaginário;
Histórias em Quadrinhos
ABSTRACT: This article, written in the area
of Cultural History, employs superhero comic
books to reect on the Cold War, an ideological
conict that characterized the second half of the
20th century. The aim is to compare two comic
books, each in its own way, engaging with this
historical event, one published by Marvel and
the other by DC Comics. It was concluded that
both publications inserted themselves into
and fostered a social imaginary linked to anti-
communism and military power, both dominant
values in the United States during that period.
Key words: Cold War; Imaginary; Comic
Books
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Introdução
Ao pensar o século XX, um marcante e extenso fator surge de forma predo-
minante nos anos que o compõe: a Guerra Fria, conito ideológico entre a União
Soviética e os Estados Unidos. Ela tem seu início pouco tempo após a derrota
da Alemanha, quando Josef Stalin buscava “reivindicar territórios antes alemães
para a União Soviética, assim como garantir a constituição do império externo
na Europa central e oriental” (PONS, 2008, p. 100), enquanto o novo presidente
norte-americano Harry Truman colocava à prova a soberania norte-americana no
mundo em relação ao armamento nuclear e as possíveis áreas de inuência na
Europa, que no momento e pela primeira vez na história, o tamanho do poder
militar de um país não era mais condicionado pelo tamanho de seus exércitos”
(TOTA, 2009, p. 176).
Esse conito de interesses por territórios de comando culminou em uma
conferência realizada em Potsdam, na Alemanha, dos dias 17 de julho a 02 de
agosto de 1945, onde foi denido que a Alemanha caria dividida em quatro par-
tes: uma norte-americana, uma soviética, uma francesa e uma inglesa, sendo
que a partir dessa nova confrontação de forças, as potências capitalistas pas-
saram ao enfrentamento com a URSS” (MIRANDA; FARIA, 2021, p. 15), visto que
tanto a França quanto a Inglaterra foram beneciadas com as políticas de apoio
dos Estados Unidos para a reconstrução da Europa.
É nesse período em que o medo instaurado de uma possível inltração
soviética em território norte-americano era um fator constante. A criação de um
espaço governamental, conhecido desde o nal da Segunda Guerra Mundial por
Comitê de Atividades Antiamericanas, mostrava a preocupação de governantes
estadunidenses com um suposto avanço silencioso por parte dos soviéticos,
sendo, a partir de 1950, instaurado uma caça às bruxas”, com um comitê assumido
pelo senador Joseph McCarthy, inaugurando assim o chamado macarthismo.
Para esse senador, as “bruxas” eram consideradas os supostos comunistas
norte-americanos ou apoiadores do regime soviético, levando muitos cidadãos
norte-americanos a serem exilados do país, mesmo que por falsas acusações.
Anos depois, após a crise dos mísseis cubanos e o fracasso da manuten-
ção pacíca entre as superpotências, a chegada ao poder de um novo presiden-
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te norte-americano com uma rigorosa política externa anticomunista, inaugura
o período conhecido por “Nova Guerra Fria”. Ronald Reagan, antes de tornar-se
presidente e na condição de ator de cinema, colaborou (assim como outros) com
o FBI e o Comitê de Atividades Antiamericanas, delatando vários colegas e parti-
cipando de “campanhas patrióticas”” (MIRANDA; FARIA, 2021, p. 33). Utilizando-se
da oratória pública” (GADDIS, 2007, p. 214) como um grande aporte da sua polí-
tica, o presidente voltou seus esforços para a revitalização de uma autoridade
social” (PURDY, 2007, p. 55), comandando a superpotência norte-americana até
1989, quando encerrou o seu segundo mandato. Em paralelo, após a ascensão
de Mikhail Gorbachev como dirigente da URSS em 1985, foi elaborado um proje-
to que baseava-se em longas reformas, acabando em resultar em ideias como a
Perestroika (reestruturação) que seria implantado juntamente com uma propos-
ta de abertura política (Glasnot)” (MIRANDA; FARIA, 2021, p. 71). Essa reformulação
do sistema da URSS acabaria por levar ao seu m em 1991, pouco tempo após a
queda do muro de Berlim (maior símbolo da Guerra Fria), marcando os Estados
Unidos como “vencedores” do conito.
Durante todos os períodos da Guerra Fria, um recorrente fator foi a tentativa
de criar um imaginário social que pudesse servir aos valores de cada nação. Para
o lósofo Bronislaw Bazcko (1985, p. 297), “as ciências humanas punham em des-
taque o facto de qualquer poder, designadamente o poder político, se rodea de
representações colectivas. Para tal poder, o domínio do imaginário e do simbóli-
co é um importante lugar estratégico”. Dessa forma, é possível interpretar que os
agentes responsáveis (nas posições governamentais e detentoras de meios de
produção) agiam com o nanciamento de produtos a serem consumidos pelas
massas, buscando a formação do imaginário via suas práticas discursivas.
No caso norte-americano, a importância da continuidade de um sistema
anticomunista ultrapassou a esfera política, adentrando os meios culturais por
diversas vias. No cinema hollywoodiano, o lme War Hunt de 1962 (dirigido por
Denis Sanders, roteirizado por Stanford Whitmore) trazia elementos exaltando
a ação militar norte-americana na Guerra da Coréia, idealizando e justicando o
papel dos Estados Unidos na intervenção e no combate aos núcleos de caráter
socialista. Décadas depois, lmes como “Rambo: programado para matar (First
Blood, 1982), Rambo II: a missão (First Blood – Part II, 1985) e Rambo III (Rambo III,
1988) representaram um conjunto de idéias que encontraram eco na sociedade
estadunidense na década de 1980” (SILVA, 2009, p. 3), em relação ao papel do país
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na contenção comunista do Vietnã.
Não muito distante desse universo cinematográco, as Histórias em Quadri-
nhos (HQs), também zeram parte da formação de um imaginário social. Tanto na
criação de personagens como o Homem de Ferro, um personagem originalmente
anticomunista que “estava sempre disposto a sair em defesa do bloco capitalis-
ta, comandado pelos EUA(SANCHES, 2021, p. 74), quanto na reformulação de
outros personagens mais antigos, como o Lanterna Verde, agora um policial es-
pacial “que era alinhado com os com ideais patrióticos - que prende criminosos e
ajuda a polícia” (KRAKHECKE, 2009, p. 66), serviram-se de enredos que tentavam
utilizar de um imaginário social que visava forticar os valores norte-americanos
em relação a suposta ameaça comunista1.
Por tratar-se de uma fonte documental que compõe um amplo merca-
do e altos níveis de circulação, torna-se necessário estabelecer um recor-
te editorial no ramo das Histórias em Quadrinhos de super-heróis norte-a-
mericanos, delimitam-se as duas principais editoras da área: a Marvel e a DC
Comics, abrindo assim, uma possibilidade de comparação entre as formas
com as quais essas empresas representavam os valores da nação nesse pro-
cesso de formação de um imaginário em parte de suas publicações que fa-
zem referência direta a Guerra Fria, voltadas para as temáticas da corrida
armamentista e da construção da imagem do soviético, selecionando enre-
dos dos personagens que surgiram durante a Guerra Fria, o Homem de Ferro
(Marvel) e Lanterna Verde (DC Comics), por como visto, compartilharem alguma
similaridade prévia relacionada a este conito.
Breve síntese dos quadrinhos-fonte
Antes de realizar as análises pretendidas, torna-se necessário proceder
com uma síntese das Histórias em Quadrinhos que serão utilizadas como fonte
para esta pesquisa. Constituem as histórias selecionadas, para ns de compa-
ração entre as editoras, a The Green Lantern Corps (números 209 e 210 de 1987,
produzidas por Steve Englehart e Joe Staton) para representar a DC Comics, e a
1 Não ignoramos aqui a ideia um “contra-imaginário”, constituído, como por exemplo a HQ
Watchmen de Alan Moore, que criticava as ações norte-americanas em relação a Guerra Fria. (BA-
CZKO, 1985, p. 301).
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Iron Man Volume 1 (números 315, 316 e 317 de 1995, produzidas por Len Kaminski
e Tom Morgan) representando a Marvel. Importante ressaltar que, em ambas as
histórias, ocorre a participação de personagens da vida real da época, dando
destaque para líderes políticos, como Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev.
A premissa do enredo do Lanterna Verde tem como base dois grupos de per-
sonagens da tropa, um nos EUA dialogando com Reagan e outro na URSS, dialo-
gando com Gorbachev. O primeiro discute a possibilidade de uma intervenção em
solo soviético caso os Lanternas lá se voltem contra os EUA, enquanto o segun-
do, debate as diferenças dos sistemas capitalista e socialista, esse que recen-
temente, havia ganhado uma nova frota de soldados com auxílio de tecnologia
alienígena, equiparando-se ao poder dos Lanternas. O conito esquenta e uma
terceira guerra mundial, dessa vez nuclear, quase ocorre por conta de ações da
URSS, mas é evitada graças aos Lanternas que estavam nos EUA.
Para o Homem de Ferro e seu alter ego Tony Stark, o enredo desenvolve-se
em uma Rússia que havia deixado de ser soviética há apenas alguns anos. O herói
vai até o país abrir uma lial de sua empresa e encontra-se com Gorbachev e com
o presidente Boris Iéltsin. No evento, um ataque do Homem de Titânio (inimigo
soviético que havia enfrentado o herói durante vários períodos da Guerra Fria)
ocorre, visando vingar o sistema derrotado. É então que dois heróis russos (antes
inimigos), a Viúva Negra e o Dínamo Escarlate aparecem para auxiliar Stark no
confronto contra seu inimigo.
O aspecto armamentista das superpotências da Guerra Fria nas HQs
Fator recorrente durante os anos iniciais da Guerra Fria, o medo de uma
Guerra Nuclear como terceira Grande Guerra é um dos frutos do nal da Segunda
Guerra Mundial e início da década de 1950, quando tais armamentos avançaram
de forma signicativa, de modo que gerações inteiras se criaram à sombra de
batalhas nucleares globais que, acreditava-se rmemente, podiam estourar a
qualquer momento, e devastar a humanidade” (HOBSBAWM, 1995, p. 174). Orival-
do Biagi (2004, p. 89), ao estudar o imaginário social que constituí a Guerra Fria,
aponta o medo de uma terceira Guerra Mundial como parte da construção desse
imaginário, pois tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética procuravam
“ter os arsenais nucleares mais numerosos e de tecnologia mais avançada”.
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189 Albuquerque: revista de história, vol. 16, n. 31, jan. - jun. de 2024 I e-issn: 2526-7280
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Para início das comparações sobre a questão do armamento, observemos
algumas das capas das edições analisadas. Respeitando uma ordem cronológica
de lançamento, inicia-se pela Tropa dos Lanternas Verdes:
Figura 01 - Capa de The Green Lantern Corps 209
Fonte: DC Comics. 1987
A capa da publicação referente a tropa dos Lanternas Verdes, que apresen-
ta em seu canto superior direito o selo regulamentador da Comics Code Authority
(conhecido por CCA, trata-se de um Conjunto de regulamentações autoimpostas
pelas editoras após a publicação da obra Seduction of the Innocent, de Fredric
Wertham em 1954), também demonstra alguns interessantes elementos sobre
uma ideologia armamentista que vigorava no período. A predominância da cor
vermelha, além de ser a cor símbolo da URSS, também pode ser visto como uma
alusão ao red scare das décadas anteriores, isto é, um medo de uma invasão co-
munista na liberdade norte-americana, uma vez que os norte-americanos en-
xergavam no comunismo soviético uma nefasta negação da liberdade e da indivi-
dualidade” (TOTA, 2009, 177). A expressão Red Dawn2 - exposta para leitura no lado
direto desta capa - também viabiliza um suporte para tal armação, sendo uma
2 Em tradução livre: Alvorecer Vermelho.
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190 Albuquerque: revista de história, vol. 16, n. 31, jan. - jun. de 2024 I e-issn: 2526-7280
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projeção sobre o medo de um amanhecer com as cores inimigas atacando.
Por sua vez, a capa da edição referente a história da Marvel Comics:
Figura 02 – Capa de Iron Man Volume 1 315.
Fonte: Marvel Comics, 1995
Para a Marvel, os meados da década de 1990 foram comprometedores, pois
em questão de departamento de vendas, “há meros cinco anos respondia por 90%
das vendas, agora representava apenas um terço dos negócios” (HOWE, 2013, p.
372). Como uma estratégia para tentar levantar os números de vendas, a editora
inicia um processo de reutilizar personagens antigos. Temos então o retorno de
personagens como Homem de Titânio em uma série que perdurava desde 1968.
Na capa, no mesmo canto superior direito, é possível novamente vericar a pre-
sença do selo regulamentador da CCA, mesmo 40 anos após sua criação. Talvez
por ser publicada em um período pós-Guerra Fria, uma menor presença das
cores vermelhas inimigas, estratégia também para ressaltar a importância do
herói presente na capa. Entretanto, vemos os olhos vermelhos do inimigo sovié-
tico, uma possível alusão ao red scare. O balão de texto demonstra uma intenção
ameaçadora e vingativa do personagem que não aceitou o nal da URSS3.
3 Em tradução livre: “A pátria Russa caiu, Homem de Ferro, mas o Homem de Titânio vive para
destruir você!”
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191 Albuquerque: revista de história, vol. 16, n. 31, jan. - jun. de 2024 I e-issn: 2526-7280
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Ambas as capas das publicações, mesmo com o distanciamento temporal
de lançamento de oito anos, demonstram certas similaridades. A posição de
grandeza e superioridade de um inimigo soviético trajando uma armadura tecno-
lógica, alusão ao poder bélico da União Soviética, perdurou mesmo após o nal
da Guerra Fria, com uma continuidade até os dias atuais, pois o elemento é exa-
tamente o mesmo presente tanto na história do Lanterna Verde de 1987, quanto
na do Homem de Ferro de 1995, assim como uma primeira impressão de inferio-
ridade norte-americana, ao ter ambos os heróis subjugados. As duas capas con-
tam também com frases de cunho ameaçador pelo lado soviético, retomando um
espírito macarthista dos primeiros anos, com um “fenômeno da sociedade nor-
te-americana onde o Medo da Expansão Comunista foi utilizado intensamente”
(BIAGI, 2004, p. 80) agindo no imaginário social.
No decorrer do enredo do Lanterna Verde, temos a situação em que o herói
simpatizante do sistema soviético descobre a traição de Gorbachev e o seques-
tro de seus colegas:
Figura 03 - Kilowog confronta Gorbachev em The Green Lantern Corps 210.
Fonte: DC Comics. 1987
Na situação, a menção ao armamento se pela fala de um personagem, de-
monstrando a sua prevalência até quando não é o foco do quadro. Ele também se
relaciona mais intimamente com a questão da imagem do soviético em si, demo-
nizada como alguém pronto para agressividade. Nas representações soviéticas,
não é difícil notar como um ferrenho anticomunista os percebia, como indivíduos
preparados para utilizar o elemento nuclear não como uma autodefesa, mas um
ataque direto, reforçando assim, as tensões que gerariam o nome de Guerra Fria.
Também no outro quadrinho, quando esse apresenta o confronto entre
Tony Stark (com a armadura do Dínamo Escarlate) e o Homem de Titânio, temos
uma situação similar.
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Figura 04 –Dínamo Escarlate e Homem de Titânio em Iron Man Volume 1 317.
Fonte: Marvel Comics. 1995
Conversando em russo, o Homem de Titânio assume a posição de não se
preocupar com os inocentes, mesmo o povo russo, denominando a si mesmo de
Boris the Merciless4. Essa armação liga da mesma forma o aspecto armamen-
tista à gura íntima do soviético, com o personagem armando ser impiedoso
mesmo antes de receber sua armadura soviética, sendo assim, como muitos an-
tes dele, “representado como uma pessoa maquiavélica, disposta a difundir o co-
munismo pelo mundo e a derrotar os Estados Unidos” (SANCHES, 2021, p. 74) ao
atacar uma inauguração das indústrias Stark.
O belicismo da Guerra Fria, aqui expresso tanto na questão de uma armadu-
ra tecnológica quanto na vívida experiência nuclear, constituem uma parte im-
portante do imaginário, mesmo que hoje saibamos que “o confronto real entre as
duas ditas superpotências era praticamente impossível” (KRAKHECKE, 2009, p.
13). A realidade contemporânea da época era de que algo assim poderia aconte-
cer, e ter isso representado tanto durante, quanto após a Guerra Fria, certamen-
te possa ter gerado uma atividade na imaginação populacional.
Por m, no nal de ambos os enredos, temos uma efetiva ação armamentis-
ta acontecendo em grande escala:
4 Traduzido pela editora Abril como Boris, o impiedoso.
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Figura 05 – Mísseis soviéticos em The Green Lantern Corps 210.
Fonte: DC Comics. 1987
Gorbachev realmente lança seus característicos mísseis com estrelas ver-
melhas, com o destino sendo os Estados Unidos. É perceptível a escala da amea-
ça ao observar o tamanho dos mísseis, pois comparados com os super-policiais
espaciais presentes, os Lanternas Verdes, podemos ver a razão de todos os nor-
te-americanos estarem preocupados. Além disso, se observamos as falas dos
Lanternas, até mesmo dos alienígenas, é possível observar que nem mesmo eles
acreditam que o ataque direto foi de fato realizado, indo contra a principal regra
da Guerra Fria.
no confronto entre Dínamo Escarlate e o Homem de Titânio, temos a
seguinte situação:
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Figura 06 –Dínamo Escarlate atacando em Iron Man Volume 1 317.
Fonte: Marvel Comics. 1995
Por mais que seja Tony Stark na armadura, quem controla o ataque da base
central é Shatalov, o próprio Dínamo Escarlate. A armadura atual do Dínamo é
uma armadura russa, e não soviética, pois recebe ordens dos militares pós-so-
cialismo. É perceptível que, com o nal da Guerra Fria e a adoção do capitalismo
pelos russos, a armadura passou a se assemelhar mais com a tecnologia norte-
-americana (basta olharmos para o próprio Homem de Titânio para comparar),
assim como o armamento principal usado por ela: esse o raio de propulsor em
seu centro, característica do Homem de Ferro.
Com tais comparações sobre o armamento tendo sido feitas, é possível rea-
lizarmos uma análise voltada para os elementos referentes aos valores culturais
impressos nas páginas das Histórias em Quadrinhos em questão, pois Bazcko
(1985, p. 307) relaciona a produção de tais aspectos com o imaginário, sendo que
a “vida social é produtora de valores e normas e, ao mesmo tempo, de sistemas
de representações que as xam e traduzem”.
Iniciando pelos personagens, temos que ambos os heróis representariam
um modelo para o cidadão norte-americano, que se identicaria mediante a lei-
tura da HQ, principalmente relacionado ao aspecto bélico posto nas histórias,
na medida em que ocorre o enfretamento do inimigo soviético a qualquer custo,
onde também uma certa similaridade, sendo o inimigo um cidadão soviético
que utiliza-se de uma armadura de alta tecnologia para o combate.
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A construção da imagem do soviético nas HQs do Homem de Ferro e do Lanterna Verde
Na análise das Histórias em Quadrinhos em questão, outro fator a ser notado
é a representação da imagem ligada ao soviético nos enredos. Se levado em con-
sideração o maniqueísmo que se desenvolvia durante toda a Guerra Fria, era bus-
cado criar uma representação não da União Soviética, mas também de seus
habitantes. Dessa forma, o historiador Alexandre Valim (2010, p. 44) descreve
uma comparação entre a representação soviética norte-americana e a compa-
ração do império romano em relação aos “bárbaros”, indicando que a mídia nor-
te-americana, ao tratar dos soviéticos, “frequentemente descrevia estes como
bárbaros que estariam à espreita preparados para qualquer chance de inltração
pelas frestas das defesas do Império”. Biagi (2004, p. 65), ao comentar sobre a
construção do imaginário da Guerra Fria, estabelece que a criação” do inimigo
soviético foi essencial para poder convencer o Congresso norte-americano da
necessidade de uma política externa agressiva e participativa, pois os riscos da
expansão comunistas eram muito grandes - mesmo não existindo, de fato, tais
riscos”. Filmes, séries, jogos, quadrinhos, dentre outros elementos do cotidiano
norte-americano passaram a fazer parte dessa representação dos inimigos so-
viéticos e vigorar na imaginação social.
Perto do início dos enredos, um dos primeiros soviéticos a ter destaque em
sua representação é Vladimir Ilyich Ulianov, conhecido pelo apelido Lenin, antigo
revolucionário comunista e ex-chefe soviético, considerado um dos mais impor-
tantes revolucionários russos. No enredo do Lanterna Verde, temos uma partici-
pação pictórica de Lenin, representado na forma de um quadro, no gabinete de
Gorbachev:
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Figura 07 – Vladimir Lenin em The Green Lantern Corps 209.
Fonte: DC Comics. 1987
A cena é desenhada em um plano geral (enquadramento de desenho que
realça o cenário, optando por um desfoque dos personagens para determinar o
local e o período), tática comum na produção de quadrinhos. O destaque a Lenin é
dado dentro de um aspecto superior, evocando uma autoridade e uma espécie de
culto para sua gura e personalidade. Interessante é que pondo em perspectiva
o neoliberalismo norte-americano durante a Era Reagan, percebemos uma
demonização de seus opositores de esquerda, que “junto com a tradição marxista,
é considerada velha e ultrapassada pelas ideologias dominantes” (CASTELO,
2020, p. 2). Tal quadro pode induzir a uma interpretação do imaginário dos leitores
o quanto as políticas soviéticas estavam ultrapassadas, cultuando tais imagens
em seu sistema. O quadrinho também mostra uma URSS necessitando de ajuda
externa para aprimorar sua tecnologia, com Gorbachev agradecendo Kilowog
pelo auxílio com seus soldados, ressaltando mais um aspecto ultrapassado da
URSS.
No enredo do Homem de Ferro, temos uma outra situação envolvendo não
a imagem, como os restos mortais de Lenin, em uma página completa sendo
dedicada para isso:
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197 Albuquerque: revista de história, vol. 16, n. 31, jan. - jun. de 2024 I e-issn: 2526-7280
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Figura 08 – Vladimir Lenin em Iron Man Volume 1 315.
Fonte: Marvel Comics. 1995
Nos quadros, o Homem de Titânio, triste pelo nal da URSS e do sistema
socialista soviético, visita o Mausoléu de Lenin na Praça Vermelha, em Moscou.
Na cena, acompanhamos o personagem enquanto relembra eventos importantes
para a URSS, como a Revolução Bolchevique e a vitória na Segunda Guerra
Mundial, e lamenta os desfechos desses acontecimentos, como a grande
quantidade de mortos na Grande Guerra Patriótica (nomeação soviética para a
Segunda Guerra Mundial), muito utilizada pelos russos para ressentimento de
recordações do passado, pois à medida que a guerra se afasta em direção ao
passado, a memória sobre esse evento torna-se mais intensa e sobretudo mais
emocional” (RODRIGUES, 2022, p. 340) , além da contaminação das pessoas
pelos hábitos capitalistas na nova Rússia pós-socialismo. O personagem tece
comentários sobre assassinatos, prostituição, desalojamento e sobre a gura
de Vladimir Volfovich Zhirinovsky (político e advogado russo que concorrera nas
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198 Albuquerque: revista de história, vol. 16, n. 31, jan. - jun. de 2024 I e-issn: 2526-7280
Luís Eduardo dos Santos, / Leonardo Brandão
eleições presidenciais do país em 2012, tendo sido fundador e líder do Partido
Liberal Democrata da Rússia), com seus ideais considerados fascistas acerca
do futuro da nação. Nessa ocasião, a gura de Lenin é colocada como uma
forma de consolo para as mágoas do personagem, com o soviético falecido se
desvinculando da imagem demonizada que seus sucessores carregaram nas
representações norte-americanas.
As duas editoras, ambas capitalistas norte-americanas, tecem suas repre-
sentações de um dos mais famosos líderes comunistas com dedicações muito
distintas, seja no espaço dedicado (um quadro ou uma página completa) ou na
sua posição colocada (alguém extremamente cultuável ou um consolo para res-
sentimentos). Os dois enredos se passam na mesma cidade, mas apenas um se
dispõe a mostrar o monumento dedicado para Lenin (sendo justamente o que se
passa após o nal da URSS).
A população soviética também marca presença nas HQs. Temos no Lanterna
Verde, a seguinte situação:
Figura 09 – População soviética em The Green Lantern Corps 209.
Fonte: DC Comics. 1987.
Durante o sequestro dos Lanternas Verdes que questionaram Gorbachev,
podemos ver a posição em que o cidadão comum soviético é colocado, assim
como as ações dos soldados soviéticos em armaduras. Essa representação de
opressão estatal, vista nas feições e cores usadas para denir o papel da popu-
lação soviética que havia presenciado o ataque aos Lanternas, acompanhados
pela fala do soldado que diz, mesmo ao ar livre, de que ninguém havia visto nada,
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denota mais uma vez uma ideologia que supostamente seria “baseada na demo-
cracia, na liberdade de direitos individuais e na independência(VALIM, 2010, p.
53) tão defendida pelos norte-americanos e por consequência impraticável no
socialismo.
No enredo que envolve o Homem de Titânio, é exposta uma situação mais
especíca:
Figura 10 – Conversa em russo em Iron Man Volume 1 316
Fonte: Marvel Comics. 1995
No quadro, temos a situação que mais se aproxima de uma representa-
ção da população russa/soviética em todo o enredo. O vilão soviético menciona
que o povo russo teve o bastante de uma experiência ditada por estrangeiros
(se referindo ao capitalismo e as intervenções norte-americanas durante toda a
Guerra Fria). O personagem também justica suas ações em um âmbito de pre-
servar a nação mãe caída, que havia sofrido muito na Segunda Guerra Mundial,
levando em consideração que a criação do inimigo soviético foi essencial para
poder convencer o congresso da necessidade de uma política externa agressiva
e participativa, pois os riscos da expansão comunistas eram muito grandes” (BIA-
GI, 2004, p. 65), mesmo que infundados.
Nessas ocasiões analisadas, vemos uma distinção nas representações
do soldado russo como parte da população soviética. Enquanto o Homem de
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Titânio clama ser parte do nós”, sendo esses o povo derrotado e forçado ao
capitalismo, os Sovietes Supremos do Lanterna Verde abordam uma visão
de superioridade para sua população, voando sobre elas com os capturados.
Interessante é reparar como os dois personagens não diferem tanto em seus
papéis, ambos são soldados russos que se utilizam de armaduras tecnológicas
para sustentar uma manutenção/retorno do sistema socialista. De certa forma,
as duas representações levam a um mesmo fator do imaginário social, o de que
os soviéticos teriam certo conformismo social” (VALIM, 2010, p. 44), com uma
situação sendo perante a tirania estatal, e a outra um retrocesso para os tempos
que eram socialistas.
Para última comparação, cabe trazer parte do desfecho das duas histórias,
por também partilharem de elementos pertinentes na construção do soviético,
vez que em ambas, o inimigo de armadura é morto:
Figura 11 – Kilowog lamenta a morte de seu amigo em The Green Lantern Corps 210.
Fonte: DC Comics. 1987
Na HQ do Lanterna Verde, Gardner aparece dizendo que salvou seus cole-
gas dos cientistas soviéticos e que Kilowog compreendia a verdadeira face so-
viética, enquanto Jordan esclarece que impediram a Terceira Guerra Mundial de
acontecer. Nesse momento, o Lanterna Guy Gardner diz que não existiu nenhuma
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glória ao se usar mísseis, sendo rebatido por seu companheiro dizendo que era
um clichê da guerra, e citando outro muito importante para o contexto, proferin-
do que War is hell5, se referindo a necessidade de Kilowog em matar o seu amigo,
em nome de uma ideologia soviética, representada de uma forma maligna e trai-
çoeira.
O Homem de Titânio encontra um destino semelhante nas páginas do Ho-
mem de Ferro:
Figura 12 - A morte do Homem de Titânio em Iron Man Volume 1 316.
Fonte: Marvel Comics. 1995
Ao combater Tony Stark usando a armadura do Dínamo Escarlate, que bus-
cava revigorar o orgulho russo, o vilão é morto em um ataque proferido pelo seu
ex-companheiro, sem que Stark tivesse o controle da armadura. O Homem de
Titânio tem como suas últimas palavras (por alguma razão, em inglês) Papa? I’m
Cold6, possível paralelo entre seu m de vida e o clima russo com o qual passou
5 Traduzido pela editora Abril como “Nenhuma guerra vale a pena”.
6 Traduzido pela editora Abril como “Papa? Estou com frio”.
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toda sua existência, enquanto a luz de seus olhos literalmente vai se apagando
quadro a quadro. É possível também ver Stark arrependido do desfecho que o
conito teve, chegando a indagar o Dínamo original posteriormente, pois teria
sido responsável por eliminar um ex-companheiro de equipe.
Considerações Finais
Ambos os enredos representam um supersoldado soviético de armadura
morto por alguém que consideravam um companheiro, que havia acreditado na
mesma ideologia política que eles. Os arrependimentos, tanto de Gardner quanto
de Stark, relembram a imagem de um norte-americano “bom samaritano” (TOTA,
2009, p. 182), construído durante toda a Guerra Fria para justicar suas ações no
mundo, levando isso para outros países com o American Way of Life, um campo
de “disputa entre diversas culturas políticas que, por sua vez, são compostas
por um conjunto de subculturas ligadas, por exemplo, à religião, à economia e
ao anticomunismo” (VALIM, 2010, p. 40), propagado para os países que possuíam
zonas de inuência norte-americana por meio de veículos midiáticos e culturais,
como o próprio quadrinho, fazendo assim parte de um imaginário social em
grande escala, pois congura “uma linguagem narrativa com características
próprias e cuja penetração e inuência na sociedade contemporânea é inegável”
(BERNARDO, 2006, p. 2). É representado que, mesmo após a Guerra Fria, os que
se intitulam de soviéticos continuam a falecer em nome de uma ideologia que
idealizavam, carregada por uma representação imaginária de antagonismo e
tirania, essa apontada por Biagi (2004, p. 63) como supostamente construída para
ser “abertamente dedicada à destruição da sociedade “burguesa” tradicional”.
A imagem de Lênin, presente em ambas as histórias, assume, como visto,
diferentes papéis em termos representativos. Na HQ do Lanterna Verde, sua
função se exerce em um nível mais discreto, colocado como um quadro no
gabinete do chefe de Estado. na HQ do Homem de Ferro, ela exerce uma
função consoladora para o patriotismo do Homem de Titânio, o qual compadece
de angústias e medo da abertura da Rússia para o capitalismo ocidental.
Outra divergência feita é a representação da população socialista, onde no
enredo referente ao Homem de Ferro é auto incluso o supersoldado Homem de
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Titânio (contradizendo-se mais tarde ao se referir a si mesmo como impiedoso
com inocentes), enquanto nos tempos de Guerra Fria do Lanterna Verde, existe
uma clara diferença entre os supersoldados e o povo soviético. Esse fator pode
se dar devido a visão tirânica que os EUA buscavam representar do governo
soviético, demonstrado como autoritário e manipulador da liberdade das pessoas.
Uma aproximação feita é no desfecho dos enredos, pois em ambos não é um
norte-americano quem mata o supersoldado soviético. No Lanterna Verde, quem
naliza a HQ é o alienígena Kilowog, enquanto no Homem de Ferro, quem aciona
a arma é o russo Valentin Shatalov. Esses acontecimentos podem ser ligados ao
imaginário representado pelo American Way of Life, de uma forma que na reta
nal da Guerra Fria e após ela, não seria mais concebível ver um norte-americano
assassinar outra pessoa, mesmo que um soldado socialista, indo contra o estilo
de vida americano pretendido pelo governo na criação da imagem de seus heróis,
levando assim a valores dominantes, que visam “poder, riqueza material, status,
dinheiro, liderança, hierarquia” (VIANA, 2007, p. 12).
Por m, as camadas teóricas e práticas que cercam o campo da Guerra
Fria possibilitam um grande leque de pesquisas documentais. A inserção dos
quadrinhos enquanto uma fonte de pesquisa histórica passível de análise é
responsável por permitir uma visão além da clássica dicotomia do período de
conito indireto, principalmente ao levar em consideração as temáticas do
armamento bélico e da construção da imagem do soviético, de forma direta ou
indireta. Como visto, ao pensar uma análise dos valores de uma nação em relação
a constituição de um imaginário social, essa ocorre ligada a uma polarização
imaginária no campo cultural. Em relação a comparação entre as duas editoras,
vericou-se um modo de operação não muito distinto, com as duas utilizando-se
de heróis criados e reformulados durante a Guerra Fria para trazer suas histórias,
seja um conito aberto na cidade de Moscou ou a morte de um soldado soviético
de armadura.
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