
ARTIGOS LIVRES
134 Albuquerque: revista de história, vol. 16, n. 31, jan. - jun. de 2024 I e-issn: 2526-7280
Claudelir Correa Clemente
São vários os casos mencionados por Moura de resistência quilombola es-
palhados pela capitania de São Paulo.
No dia 12 de fevereiro de 1809, o capitão-mor de Itu, Vicente da Costa, comunicou ao
governador, capitão-general Franca e Horta, que os escravos daquela cidade e mais
os de Sorocaba, Campinas, Porto Feliz e Itapetininga revoltaram-se, (MOURA, 2021, p.
38) “fustigando os seus senhores e em quilombos e em quadrilhas armados de eixas e
outras armas, atacavam os viandantes, as fazendas, roubando, matando e praticando
outros insultos dentro da vila, e até mesmo formaram uma sedição na noite de Natal”
(RIBEIRO, 1981 apud MOURA, 2021, p. 38).
É importante considerar que esse tipo de resistência tinha lastro no
continente africano. De acordo com Beatriz do Nascimento (2021), na África
Centro-Ocidental, porém, já existia entre povo Imbangala, de Angola, a institui-
ção kilombo. A historiadora acrescenta: “[...] o acampamento de escravos fugiti-
vos, como quando alguns Imbangala estavam em comércio negreiro com os por-
tugueses, também era kilombo” (NASCIMENTO, 2021, p. 157).
Bem perto de Angola, ainda nos primórdios da colonização portuguesa na
costa africana, a Ilha de São Tomé e Príncipe foi palco do mais célebre levante
contra a escravidão. No século XVI, as “guerras do mato” (SCHMIDT, 2007) opo-
riam no arquipélago portugueses e os quilombolas angolares. Nascimento (2021),
por sua vez, aponta que os portugueses, frente às insurgências nos quilombos
– as primeiras em território africano e, depois, mais intensamente no Brasil do
século XVII, com Palmares (AL), e do XVIII, com o Quilombo do Ambrósio7 (MG)
–, deniram a seu modo, em 1740, o signicado de quilombo. A saber: “[...] toda
habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte desprovida, ainda
que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles” (NASCIMENTO,
2021, p. 152).
Para a autora, nisso se encontra, uma interpretação estereotipada de como
[se] constituíam os “quilombos”
7 Os estudos de Jeremias Brasileiro (2017) demonstram que, por volta de 1726, em Minas Gerais,
as terras de Cristais foram ocupadas por escravizados revoltosos, sob a liderança do rei Ambrósio.
Àquela época, o município recebia o nome de Meia Laranja. Conta-se que esse quilombo chegou
a ter mais de 15 mil negros, tendo sido o maior e o mais duradouro da história mineira. Durante o
ataque pela milícia, em 1746, a mando da Coroa de Portugal, o rei Ambrósio foi morto. Os negros
sobreviventes fundaram, então, um segundo “Quilombo do Ambrósio”, localizado na divisa de Ibiá e
Campos Altos, também em Minas, dizimado em 1759.