
ARTIGOS LIVRES
47 Albuquerque: revista de história, vol. 16, n. 31, jan. - jun. de 2024 I e-issn: 2526-7280
Peterson José de Oliveira
Eis, então, a demanda que se coloca para a escola: contemplar de forma crítica essas
novas práticas de linguagem e produções, não só na perspectiva de atender às muitas
demandas sociais que convergem para um uso qualicado e ético das TDIC [tecnolo-
gias digitais da informação e comunicação] – necessário para o mundo do trabalho,
para estudar, para a vida cotidiana etc. –, mas de também fomentar o debate e outras
demandas sociais que cercam essas práticas e usos. É preciso saber reconhecer os
discursos de ódio, reetir sobre os limites entre liberdade de expressão e ataque a
direitos, aprender a debater ideias, considerando posições e argumentos contrários
(BRASIL, 2018, p. 69).
Valemo-nos da citação anterior para encerrar este tópico de alinhamento da
GDV ao entendimento da BNCC quanto à importância dos gêneros multissemió-
ticos. Na verdade, a BNCC fala da importância do trabalho com diferentes lingua-
gens em tantas passagens que seria tedioso elencá-las: já no início, os textos
multissemióticos são destacados na competência especíca 3, da área da língua
portuguesa. Ainda na parte introdutória, os autores do documento trazem um
parágrafo muito esclarecedor, porque aborda os elementos formais dessas vá-
rias linguagens ou semioses tão referidas ao longo do texto:
Já no que diz respeito aos textos multissemióticos, a análise levará em conta as formas
de composição e estilo de cada uma das linguagens que os integram, tais como plano/
ângulo/lado, gura/fundo, profundidade e foco, cor e intensidade nas imagens visuais
estáticas, acrescendo, nas imagens dinâmicas e performances, as características de
montagem, ritmo, tipo de movimento, duração, distribuição no espaço, sincronização
com outras linguagens, complementaridade e interferência etc. ou tais como ritmo,
andamento, melodia, harmonia, timbres, instrumentos, sampleamento, na música
(BRASIL, 2018, p.81).
Os elementos da linguagem visual – seu “vocabulário” básico – seriam:
plano, ângulo, lado, gura/fundo, profundidade, foco, cor e intensidade. Já
expressões como “formas de composição e estilo” estão próximas do que Kress
e van Leeuwen (2006) chamariam de “gramática” da linguagem visual. A BNCC,
porém, dá apenas indicações sumárias do que tratar a respeito dessas semioses.
A verdade é que existe uma diculdade muito grande em traçar, para os objetivos
de ensino fundamental em língua portuguesa, quais teorias de leitura do visual
são mais produtivas nesse contexto. A dupla ênfase em um tratamento que se
queira ao mesmo tempo crítico e traga uma abordagem da composição formal
dos textos visuais é uma diculdade a mais para encontrar teorias que estejam
à altura dessa tarefa. Pelo que tentamos trazer ao leitor, pensamos que a GDV
pode tornar-se um recurso precioso aos docentes interessados em ensinar os