
ARTIGOS LIVRES
64 Albuquerque: revista de história, vol. 16, n. 31, jan. - jun. de 2024 I e-issn: 2526-7280
João Vítor Marques Lima, Edvaldo Correia Sotana
Da mesma forma, estudar a obra de um dramaturgo requer, do pesquisador, particular
atenção com o momento da escrita, de modo que apreenda as referências e o reper-
tório utilizado pelo autor, além de estabelecer as interpretações que ela foi obtendo
ao longo do tempo, dos estudiosos e/ou críticos teatrais. Contudo, quando a proposta
volta-se para a análise do impacto histórico de uma montagem teatral, os recursos a
serem mobilizados envolvem, preponderantemente, a interlocução do espetáculo com
os segmentos sociais, que interagem com a sua proposta. Especicamente, nesse
contexto, as intenções iniciais do dramaturgo podem ser subvertidas, dando origem a
outros signicados e objetivos, muito mais condizentes com as expectativas do dire-
tor e do elenco, responsáveis pelo trabalho. (PATRIOTA, 2008, p. 44)
Deve-se, ainda, apontar as contribuições do historiador Roger Chartier que
norteiam nosso estudo. Destaca-se suas posições sobre a literatura impressa,
notadamente as publicações dos textos teatrais. Anal de contas, o teatro é a
Arte do encontro e, quando tiramos esse encontro entre ator e público, o jogo
teatral se perde:
O teatro não é escrito para que um leitor o leia numa edição saída dos prelos, ele é feito
para ser encenado. É isso que Molière chama de ‘ação’ ou ‘jogo do teatro’. […] É a priori
ilegítimo separar o texto teatral daquilo que lhe dá vida: a voz dos atores e a audição
dos espectadores. (CHARTIER, 1998, p. 26-27, grifo do autor)
A partir disso, utilizaremos o conceito de representação em nosso artigo.
Para Chartier,
As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à universali-
dade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses
de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discur-
sos proferidos com a posição de quem os utiliza. (CHARTIER, 2002, p. 17)
Assim, é possível tratar nosso objeto de pesquisa como produto de um olhar
sobre a colonização de Alta Floresta4, buscando, assim, compreender a forma
utilizada para apresentar na dramaturgia acontecimentos e guras presentes na
vivência daqueles envolvidos em sua produção. Dessa forma “[...] esta investiga-
ção sobre as representações supõe-nas como estando sempre colocadas num
campo de concorrências e de competições cujos desaos se enunciam em ter-
mos de poder e de dominação.” (CHARTIER, 2002, p. 17).
4 É importante compreendermos o conceito de “colonização”. “Para Moreno e Higa (2005), ‘[…]
processo de ocupação e valorização de áreas disponíveis para o povoamento e exploração econômica
[…].’ A colonização é, também, ‘[…] um processo indissociável da migração. A migração envolve
múltiplos condicionantes de natureza econômica e social, e também causas subjetivas, de difícil ava-
liação’”. (MORENO; HIGA, 2005, 52-3 apud GALVÃO, 2013, p. 2).