
RESENHAS
236 Albuquerque: revista de história, vol. 16, n. 31, jan. - jun. de 2024 I e-issn: 2526-7280
Rafael Alves Pinto Junior
normal, lutou para a criação do Arquivo Histórico e Geográco de Goiás. Goiás
era naquela época, à sua avaliação, o único estado da Federação que não tinha
sua história escrita. Os documentos jaziam inertes nos arquivos aguardando
alguma iniciativa. Mas o momento, proporcionado pela “soberba arrancada liberal
que teve seu epílogo no memorável 24 de outubro”, era de exacerbado otimismo
(SOUSA, 1931, p. 39). Ao interventor Pedro Ludovico e na presença de 15 dos
23 sócios fundadores, o advogado e professor Colemar resumiu as imodestas
pretensões do IHGG na nova capital. Um empreendimento que se colocava, ao
mesmo tempo, sendo síntese de todas as conquistas do passado, consciência
do momento histórico do processo civilizatório e previsão de um futuro de bem-
aventuranças. Enquanto projeto, Goiânia era então a cidade das realizações
ousadas dado que já havia nascido “grande’ e projetada para “irradiar o progresso”.
Para que este futuro glorioso se concretizasse, a nova capital não poderia seguir
esquecendo a antiga. Eram cidades que se completavam e deviam entender que
deviam “viver unidas” daí em diante. Uma representava a tradição, tradução de
um passado “repleto de recordações gratas e afetivas, de glorias legítimas, de
louros imperecíveis”. A outra representava o futuro, a materialização do espírito
da “época e um prenúncio da vertigem do porvir” (SILVA, 1940, p. 15).
Para Colemar Natal e Silva, o Estado Novo em Goiás, apresentado como
inevitabilidade histórica e desfecho racional do conturbado panorama político do
país, não devia apagar o passado colonial que a antiga capital representava. Aos
ideais de armação política de Pedro Ludovico, a ideia de progresso e mudança
servia como uma luva para anular os entraves da elite encravada na velha cidade.
Diante deste cenário de mudança inevitável da capital, a intelectualidade reunida
no IHGG se preocupava em não apagar o passado. A modernidade oferecia a
oportunidade de um lastro que, para eles, deveria ser mantido. A ação política
do IHGG, ao se armar com autoridade intelectual, se propunha a modelar
o novo quadro social que se desenhava. Inserindo-se enquanto fonte de um
estado colocado frente a ação imperativa de ressignicar localmente a própria
nacionalidade. Reexo de um movimento que havia sido desencadeado pelo
pensamento de Gilberto Freyre, Caio Prado e Sérgio Buarque de Holanda.
A mudança da capital de Goiás, notadamente para os membros do IHGG,
não foi recebida com temeridade. Ao contrário. Tratava-se de uma oportunidade
imperdível de armação. Estava na própria gênese da instituição que
representava, em Goiás, a conciliação de uma contradição aparente: o espaço