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Albuquerque: revista de história, vol. 16, n. 31, jan. - jun. de 2024 I e-issn: 2526-7280
Iara Quelho De Castro
dade europeia e da sua matriz epistêmica, invisibilizou os sujeitos que se encon-
tram distantes do padrão denominado por Castro-Gómez e Grosfoguel (2007, p.
72) de “sistema-mundo europeu/ euro norte americano/ capitalista/ patriarcal/
moderno /colonial”.
A noção de colonialidade, como processo que transcende a dimensão jurí-
dico-administrativa da colonização, manifesta-se como uma das inovações teó-
ricas desenvolvidas por intelectuais latino-americanos do grupo Modernidade/
Colonialidade (M/C) e que serve para a compreensão dos povos indígenas.
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Dessa
forma, as múltiplas violências praticadas contra esses povos, vêm sendo con-
frontadas a partir das últimas décadas, tanto por teorias críticas, contraponto à
teoria cartesiana, quanto pelas práticas movidas por aqueles que foram catego-
rizados como subalternos.
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Quano realizou a revisão do argumento pós-colonial, o que ensejou a emer-
gência da noção de “giro decolonial”, promovendo uma renovação crítica das
ciências sociais no século XXI, nos quadros da permanência do pensamento co-
lonialista em escala global. Aníbal Quano dene colonialidade como:
3 O grupo Modernidad/Colonialidad (M/C) emergiu na década de 1980 como uma rede de inte-
lectuais latino-americanos, dentre os quais podem ser mencionados os sociólogos Anibal Quijano,
Edgardo Lander, Ramón Grosfoguel; o semiólogo Walter Mignolo, a pedagoga Catherine Walsh,
os antropólogos Arturo Escobar e Fernando Coronil e os lósofos Enrique Dussel, Santiago Castro-
-Gómez, Maria Lugones e Nelson Maldonado-Torres. Seus integrantes defendem uma perspectiva
decolonial, discutindo as relações de poder que foram estabelecidas a partir de 1492 onde hoje co-
nhecemos como América, com a instalação de um sistema sócio-economico que constituiu a Europa,
como centro geopolítico de poder.
4 O M/C constituiu-se teoricamente sob a inuência do movimento pós-colonial e dos estudos su-
balternos indianos, entretanto, vai radicalizar seu posicionamento teórico, distanciando-se daqueles,
ao promover o “giro decolonial”, profundamente comprometido com os termos do texto de Aníbal
Quijano, “Colonialidad y Modernidad-Racionalidad” (MIGNOLO, 2007). Autores precursores do
pensamento pós-colonial constam como objeto de estudos e críticas do M/C, como Frantz Fanon,
psicanalista, negro e martinicano, revolucionário do processo de libertação nacional na Argélia; Aimé
Césaire, poeta, negro também nascido na Martinica e Albert Memmi, escritor e professor de origem
judaica, assim como Foucault, Deleuze, Derrida e Lyotard, vinculados ao pós-estruturalismo e ao des-
construtivismo, também constam das referências do M/C, embora criticados quanto à capacidade de
rompimento radical com a perspectiva eurocêntrica. Essas referências contribuíram com o início da
transformação das bases epistemológicas das ciências sociais ainda em ampla construção (BALLES-
TRIM, 2013). A indiana Gayatri Chakravorty Spivak, oriunda do grupo dos estudos subalternos, da
década de 1970 e, anterior ao M/C, foi considerada como uma autora que utilizou de forma excessiva
os referenciais pós-modernos e, nesse sentido, o Grupo de Estudos Subalternos criado no Sul Asiático
também teria servido para reforçar o pós-colonialismo como movimento epistêmico com desdobra-
mentos em vários outros países inuenciando estudos variados (BALLESTRIM, 2013).