EDITORIAL
tudos de Feminicídios da Universidade Estadual de Londrina, aponta para cres-
cimento de números estaduais que chegam a cerca de 170% de 2023 para 2024.
A Lei Maria da Penha permanece, portanto, tão relevante quanto o era quando de
sua publicação.
Aos 64 anos, Maria Luiza Silva, aposentada compulsoriamente vinte e dois
anos atrás pela Aeronáutica ao se declarar uma mulher trans, recebeu sentença
final do Superior Tribunal de Justiça, que reconheceu que ela foi vítima de
discriminação e que deveria ser reparada por isso. As garantias de dignidade e de
não discriminação às pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis,
intersexos, assexuais e demais pessoas com variabilidade de gênero ou de
orientação sexual (lgbti+) permanecem inexistentes, demoradas, inviáveis...
Parte significativa desta população ainda carece de acesso efetivo aos benefícios
do Estado e a uma existência plena.
Em Douradina, Mato Grosso do Sul, os indígenas da Terra Indígena Panambi-
Lagora Rica estão sofrendo ataques dos produtores rurais, conclamados por
meio de fake news a agirem violentamente contra os indígenas. Mesmo com a
força nacional presente na região, produtores e seus capangas não têm sido
intimidados e a violência permanece: são mais de cinco séculos de genocídio
dos povos indígenas, seja pelas pestes, pela bala, pelo epistemicídio realizado
pelos missionários desde que os primeiros europeus puseram seus pés nestas
plagas.
A população negra continua sendo a que mais sofre com o racismo, seja por
ataquesàsuacoletividadeouindividualmente,injúrias,mortesviolentas,inclusive
aquelas causadas pelas polícias, o racismo religioso – inclusive aquele praticado
por órgãos do Estado brasileiro, como a recente destruição de um terreiro de
jarê no Parque Nacional da Chapada Diamantina por agentes do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade em 21 de julho deste ano.
E, em meio a essas cenas de violência contra a população negra e contra
as mulheres, são as mulheres negras as grandes protagonistas da participação
brasileira nos Jogos Olímpicos Paris 2024: Beatriz Souza e Rebeca Andrade foram
medalhistasdeouroemsuasmodalidades(judôeginásticaartística/solofeminino,
respectivamente). Duas mulheres negras, empenhadas profissionalmente em
suas atividades esportivas, conquistaram o lugar mais alto do pódio. Rebeca
Andrade, conquistando outras medalhas ainda, tornou-se a maior medalhista
brasileira da História das Olimpíadas. E outras mulheres e outros homens também
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Albuquerque: revista de história, vol. 16, n. 31, jan. - jun. de 2024 I e-issn: 2526-7280