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PROJETOS DE HABITAÇÃO REALIZADOS ENTRE 1915 E 1935, CAMPO GRANDE (MS)  
HOUSING PROJECTS, BETWEEN 1915 AND 1935, CAMPO GRANDE (MS)  
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Felipe Anitelli  
Recebido em: 28 de fevereiro de 2025.  
1ª revisão: 17 de junho de 2025.  
Revisão final: 11 de outubro de 2025.  
Aprovado em: 11 de outubro de 2025.  
1 Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Pós-doutorado pela FAU-USP, doutorado pelo  
IAU-USP, mestrado pela EESC-USP. Entre 2015 e 2007, foi pesquisador do NOMADS.USP - Núcleo de Estudos de  
Habitares Interativos. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto.  
E-mail: felipe.anitelli@ufms.br  
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Albuquerque: revista de Estudos Culturais, vol. 17, n. 33, jan. - jun. de 2025 I e-issn: 2526-7280  
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Resumo: O objetivo principal deste artigo é estudar exemplares de habitação construídos  
em Campo Grande (MS) entre 1915 e 1935, a partir de duas categorias analíticas: os arran-  
jos espaciais domésticos e os elementos plásticos da fachada. Os projetos arquitetônicos  
estudados foram consultados no arquivo do ARCA. Foram realizadas 14 visitas técnicas en-  
tre julho e dezembro de 2024, que viabilizaram a identificação, a organização, a análise, o  
registro (fotográfico) e a coleta (dados e imagens) de 180 habitações.  
Palavras-chave: história de Campo Grande (MS), história da habitação, arquitetura brasi-  
leira.  
Abstract: The main objective of this article is to study examples of housing built in Campo  
Grande (MS) between 1915 and 1935, based on two analytical categories: domestic spatial  
arrangements and plastic elements of the façade. The architectural projects studied were  
consulted in the ARCA archive. Fourteen technical visits were carried out between July and  
December 2024, which enabled the identification, organization, analysis, registration (pho-  
tographic) and collection (data and images) of 180 housing units.  
Keywords: history of Campo Grande (MS), history of housing, Brazilian architecture.  
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O objetivo principal deste artigo é estudar exemplares de habitação  
construídos em Campo Grande (MS) entre 1915 e 1935, a partir de duas categorias  
analíticas: os arranjos espaciais domésticos e os elementos plásticos da  
fachada2. Entre os projetos da amostra, há diversos casos de uso misto, habitação  
e comércio, por exemplo. No entanto, construções que contém apenas comércio  
não foram consideradas. Além de casas térreas destinadas a uma única família,  
também foram encontradas edificações que abrigam diversas famílias na mesma  
propriedade, configurando, nesses casos, habitação coletiva3.  
Foram considerados todos os projetos habitacionais aprovados pela  
prefeitura no período e disponíveis no arquivo público consultado (ver tópico  
seguinte). É preciso ressaltar que a área urbana nessa época correspondia quase  
à atual região central. Um antigo mapa de 1920 (Figura 1) pontua os limites da  
cidade: avenida Mato Grosso ao norte4, avenida Fernando Correa da Costa  
[córrego Prosa] ao sul5, córrego Segredo à oeste, proximidades da atual rua Rio  
Grande do Sul à leste.  
Figura 1: Mapa da cidade de Campo Grande (MS) em 1920.  
Fonte: WEINGARTNER-2008.  
2 Não se trata de estudar o partido arquitetônico ou as composições volumétricas, mas os elementos quase sempre deco-  
rativos apostos nas fachadas.  
3 Habitação unifamiliar e multifamiliar, na nomenclatura que anos adiante adotaria o Código de Obras de 1979.  
4 Em um mapa de 1909, não há nada ao norte da atual rua Dom Aquino.  
5 Em um mapa de 1909, não há nada ao sul da avenida Afonso Pena.  
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Não foram encontrados estudos acadêmicos com os recortes (cronológico,  
geográfico e temático) estabelecidos neste artigo. Isso valoriza o trabalho  
realizado aqui, em especial a consulta de fontes primárias e a utilização de  
documentos da época. Diversas peças gráficas, inclusive, são apresentadas aqui  
de forma inédita.  
Estudar as qualidades arquitetônicas de projetos habitacionais é  
compreender melhor os espaços de morar e os correspondentes modos de vida  
de grandes parcelas populacionais residentes na cidade na primeira metade do  
século XX. Analisar esses exemplares, portanto, é uma forma de valorizar a cultura  
material de Campo Grande e a própria história da cidade, mapeando, inclusive,  
materialidades domésticas recorrentes no processo de ocupação territorial da  
região Centro-Oeste. Resgatar aspectos desses assentamentos urbanos é uma  
forma de criar consciência crítica sobre o desenvolvimento do meio ambiente  
construído. Ao longo do tempo, as constantes demolições e reconstruções, o  
apagamento da história, a atuação desregulada do mercado imobiliário formal e  
o desinteresse das autoridades públicas competentes em preservar o patrimônio  
edificado reduzem de forma brutal a capacidade da população em reconhecer  
essa cidade pretérita. Reduzem, por consequência, a capacidade da pessoa se  
reconhecer como parte desse lugar. O presente artigo propõe-se a resgatar essa  
história.  
Notas sobre o material estudado: arquivo, desenhos e informações  
Os projetos arquitetônicos estudados foram consultados no arquivo do ARCA  
- Arquivo Histórico de Campo Grande (MS). Foram realizadas 14 visitas técnicas  
entre julho e dezembro de 2024, que viabilizaram a identificação, a organização,  
a análise, o registro (fotográfico) e a coleta (dados e imagens) de 180 habitações6  
de tipologias variadas, que somam 1.649 imagens, todas organizadas em pastas  
digitais. Essas peças gráficas são a totalidade de projetos do gênero aprovados  
entre 1915 e 1935 na cidade e que estão disponíveis para consulta nesse acervo.  
À época não havia uma padronização gráfica exigida pelos órgãos públicos  
responsáveis,oqueresultaemcortes,elevações,implantação,detalhes,etc.,nem  
6Issoꢀnãoꢀsignificaꢀqueꢀapenasꢀ180ꢀhabitaçõesꢀforamꢀconstruídasꢀnaꢀcidadeꢀaoꢀlongoꢀdasꢀduasꢀdécadasꢀestudadas,ꢀpoisꢀéꢀ  
possívelꢀqueꢀparteꢀdesseꢀmaterialꢀtenhaꢀseꢀperdidoꢀaoꢀlongoꢀdoꢀtempo.  
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sempre com desenho ou escala padrão7. A planta, no entanto, é um documento  
constante, o que facilita a proposta de estudar os arranjos espaciais domésticos.  
Também há poucas informações textuais nas pranchas (não consta memorial  
descritivo de materiais e técnicas, como é exigência em projetos aprovados nos  
dias de hoje, tampouco há memorial justificativo de projeto), o que dificulta a  
identificação dos materiais e técnicas utilizados, com a exceção dos materiais  
de acabamento que são desenhados na fachada, como alvenaria ou cantaria.  
O carimbo da prancha nem sempre apresenta o nome dos envolvidos, sendo  
mais comum constar apenas o proprietário do imóvel (morador ou investidor), o  
construtor (muitas vezes sem formação acadêmica formal, nomeado “pedreiro”  
ou “empreiteiro”, por exemplo) e o desenhista. É menos frequente nomear o  
autor do projeto, entre engenheiros civis ou agrimensores, mas muito raramente  
um arquiteto. É conveniente lembrar que, no Brasil, a primeira lei federal que  
regulamenta a atuação desses profissionais é de 1933, quase no final do período  
estudado. Funcionários públicos também costumam assinar a aprovação do  
projeto, entre engenheiros ou médicos, por vezes, o próprio prefeito.  
Como a história social desses empreendimentos imobiliários não está  
contemplada nos objetivos deste trabalho, a biografia e as relações pessoais  
desses agentes não serão analisadas, mas reconhece-se a relevância do tema  
para trabalhos futuros que estudem a formação do mercado imobiliário local.  
Brevíssimas notas sobre a história da arquitetura doméstica no Brasil  
Não foram encontrados trabalhos acadêmicos específicos sobre a história  
da habitação emCampoGrande. Aslacunasdessahistoriografia, porconseguinte,  
valorizam a pesquisa documental realizada aqui e a análise de fontes primárias:  
os projetos arquitetônicos aprovados pela prefeitura entre 1915 e 1935. Em outros  
recortes geográficos ou a partir de panoramas mais abrangentes, no entanto,  
há décadas, muitos autores vêm consolidando um campo de estudos sobre  
a produção habitacional no Brasil, suas características arquitetônicas e, em  
específico, como é o foco aqui, os arranjos espaciais domésticos.  
7 Alguns exemplares não têm todos os desenhos.  
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O Nomads.usp8, por exemplo, há quase três décadas vem desenvolvendo  
estudos sobre os arranjos espaciais da habitação brasileira, entre panoramas  
históricos e leituras contemporâneas: Queiroz (2008), Requena (2007), NOMADS.  
USP (2007), Pinho (2005), Tramontano (2004), Villa (2002), Tramontano (1998),  
entre outros. Essas análises são importantes aqui porque reconhecem as raízes  
de um certo modelo de planta cuja origem é europeia, consolidado na Paris do  
século XIX. Traços desse modelo são reconhecidos na amostra estudada, como  
a organização dos ambientes internos a partir de três zonas principais: social,  
íntima e serviço e a presença de certas instâncias de transição, como a copa, no  
geral localizada entre a sala de jantar e a cozinha.  
Esse modelo - comumente chamado de burguês pelos autores consultados  
- pode ser contraposto a arranjos espaciais tradicionais, que são entrevistos na  
habitação citadina brasileira desde a época da colonização. A típica planta da  
casa colonial implantada em lotes urbanos pode ser encontrada em diferentes  
regiões do país, inclusive no Centro-Oeste e no atual estado de Mato Grosso do  
Sul até as primeiras décadas do século XX, como apontam exemplares da amostra  
estudada, em especial nas décadas de 1910 e 1920. Os estudos desenvolvidos  
por Carlos Lemos (1999, 1989, 1985, 1976) são uma referência básica destes  
primórdios. Por vezes, as plantas da amostra são resultado de uma conciliação  
das duas matrizes: burguesa francesa e colonial portuguesa.  
Não foram encontradas “plantas-livres” modernas, nos termos definidos por  
Le Corbusier (2011 e 2004)9 ou parecidas com as soluções adotadas em projetos  
habitacionais concebidos pela República de Weimar ou pelo Construtivismo  
russo (Kopp, 1990). Em termos plásticos também é quase inexistente a estética  
modernistaimplementadanoBrasilapartirde1927comGregoriWarchavchik,seja  
na vertente paulista ou carioca (BRUAND, 1981). As fachadas dessas residências,  
no geral, dialogam com o universo decorativo do Ecletismo, cujos representantes  
máximos são figuras como Arquimedes Memória, Ramos de Azevedo, Giacomo  
Palumbo, entre outros.  
De forma complementar, estudos de autores como Homem (1996) e Bonduki  
8 Núcleo de Estudos de Habitares Interativos, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo  
(IAU-USP), coordenado pelo professor Associado Dr. Marcelo Tramontano.  
9“Planta-livre”:ꢀquandoꢀosꢀelementosꢀestruturaisꢀdaꢀconstruçãoꢀestãoꢀpontuadosꢀemꢀpilaresꢀ(eꢀnãoꢀmaisꢀdistribuídosꢀemꢀ  
paredes de alvenaria, por exemplo); nesses casos, a separação entre os ambientes da casa poderia ser feita com divisó-  
riasꢀleves,ꢀsendoꢀpossível,ꢀinclusive,ꢀreposicionarꢀessasꢀparedesꢀdivisóriasꢀaꢀpartirꢀdeꢀespecificidadesꢀdomésticasꢀdeꢀcadaꢀ  
família,ꢀsemꢀreformasꢀbarulhentas,ꢀdemoradasꢀeꢀcustosas,ꢀouꢀseja,ꢀaꢀplantaꢀseriaꢀlivreꢀparaꢀserꢀfacilmenteꢀreconfigurada.ꢀ  
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(1998) ajudam compreender melhor o programa de necessidades da habitação a  
partir do recorte de renda: a primeira autora ao analisar palacetes concebidos  
para elites econômicas e o segundo autor ao analisar políticas habitacionais  
direcionadas para faixas de rendas baixas. Entre os exemplares estudados há  
diferenças programáticas e arranjos distintos que são explicados, em grande  
medida, pelo respectivo perfil socioeconômico daqueles a quem se destinam  
as moradias. Para análises tipológicas é útil a consulta ao clássico livro de Vaz  
(2002), pois há indícios de que alguns exemplares da amostra estudada são  
habitações coletivas dispostas em cortiços. Essa especulação imobiliária  
indicaria o prenúncio de um mercado formal de provisão habitacional10.  
Em uma perspectiva urbana, Reis Filho (1976) apresenta um panorama  
histórico da arquitetura brasileira, com foco em exemplares com programa  
habitacional. A principal contribuição do livro é abordar o assunto a partir das  
transformações do partido projetual e da relação entre a edificação projetada,  
a implantação da construção, a configuração do terreno e a integração da  
arquiteturanoplanourbano.NosprojetoshabitacionaisdeCampoGrande,notam-  
se progressivos melhoramentos que atendem demandas sanitárias, como recuos  
lateraisefrontaleaelevaçãodopavimentotérreodacotadoterreno,queresultam  
em novas possibilidades estéticas. Construções nomeadas como “chalés”, por  
exemplo, ilustram essa arquitetura não mais adoçada nas construções vizinhas  
ou no espaço público. O bloco construído torna-se mais complexo em termos  
volumétricos, o que inclui telhados com várias águas.  
Panoramas e classificações sobre a arquitetura brasileira ao longo do século  
XX (SEGAWA, 2014), por fim, ajudam a situar particularidades ou alinhamentos dos  
casos aqui estudados com correntes nacionais ou internacionais. Historiadores  
também ajudam a problematizar o contexto político e econômico da chamada  
República Velha e o início da ditadura do presidente Getúlio Vargas a partir de  
1930, como Fausto (2008) ou Schwarcz e Starling (2015). O início temporal deste  
artigo (ano 1915) coincide com a consolidação de uma Belle Èpoque cultural  
em certas metrópoles do país, cujo principal agente indutor são empresários  
agrícolas produtores e exportadores de café que, de forma incipiente, iniciavam a  
diversificação de seu capital e os investimentos em outros setores da economia,  
como a indústria (SILVA, 1976); o artigo avança até 1935, época do getulismo e de  
10 Reitera-se que os agentes imobiliários atuantes na cidade não são estudados aqui.  
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muitas novidades: trabalhismo, industrialização, interiorização do país, reforma  
social, etc.. Esse recorte tem uma explicação programática: a partir do final dos  
anos 1930, as moradias começam a se configurar a partir de outras espacialidades  
e novos matizes estéticos, diferentes da tradição colonial luso-brasileira e da  
cultura eclética como, por exemplo, o neocolonial no registro hispânico (também  
chamado missões ou californiano), o art déco em suas diversas variações (zigue-  
zague, aerodinâmico, etc.) e o modernismo como linguagem11.  
Ambientes domésticos e arranjos espaciais  
A zona social é composta por ambientes de maior sociabilidade, mas nem  
todos os cômodos são de uso restrito da família. Por exemplo, o “escriptorio”,  
na grafia da época. Uns têm uma única entrada interna: uma porta que conecta  
o escritório à sala; outros têm duas portas: uma interna e outra externa. Esse  
acesso externo no geral localiza-se em uma varanda, disposta no recuo frontal.  
Esseespaçoéumainstânciamaispúblicapois, nessaconfiguração, oresponsável  
deve receber, para assuntos de trabalho, pessoas estranhas à casa; ao mesmo  
tempo em que mantém a privacidade - e o isolamento - do restante dos membros  
da família no interior da residência.  
Há um exemplo de escritório com porta dupla (acessos por sala e varanda)  
na residência de Wolfrand Pinheiro Cruz, aprovada em 1928, construída por  
José de Souza Rosa & Irmão, localizada na avenida Mato Grosso (Figura 2). Esse  
dispositivo sugere uma condição comum em residências urbanas desde o período  
colonial: trabalhar em casa (REIS FILHO, 1976). Além dos escritórios, existem  
33 projetos estudados (cerca de 18% da amostra) que contemplam uso misto:  
comércio à frente, residência nos fundos. Um fator geográfico ajuda a explicar  
a sobreposição de funções: a grande maioria dos projetos localiza-se na região  
central, com exceção de alguns poucos (principalmente a partir dos anos 1930)  
que estão no bairro vizinho de Amambai. Nesse contexto histórico, o zoneamento  
funcional moderno (LE CORBUSIER, 1993) ainda não estava presente.  
11Emꢀ2025ꢀoꢀautorꢀcontinuaꢀdesenvolvendoꢀpesquisaꢀnoꢀARCAꢀeꢀestudandoꢀexemplaresꢀdeꢀhabitaçãoꢀconstruídosꢀemꢀ  
CampoꢀGrandeꢀnasꢀdécadasꢀdeꢀ1940ꢀeꢀ1950.ꢀOsꢀprojetosꢀidentificadosꢀeꢀanalisadosꢀdeꢀformaꢀpreliminarꢀconfirmamꢀasꢀ  
considerações feitas no parágrafo acima.  
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Figura 2 - Planta e elevação frontal de residência de propriedade de Wolfrand Pinheiro Cruz, aprovada em  
1928, construída por José de Souza Rosa & Irmão, localizada na avenida Mato Grosso.  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
A residência de Alcides Alves da Silva12 (Figura 3), aprovada em 1929, é uma  
das maiores construções da amostra em termos de área construída e do programa  
de necessidades. Cerca de um-terço da metragem total não são ambientes  
domésticos: uma varanda (6m²) localizada na fachada frontal dá acesso a um  
consultório (16m²), que contém diversos anexos, como sala de espera (12m²),  
curativos (8m²), laboratório (8m²) e gabinete (10m²)13. São cerca de 60m² de área  
não-residencial destinada a atendimento médico e conjugada à casa: composta  
de sala de jantar (20m²), três dormitórios (27m², no total), banheiro (7m²), cozinha  
(7m²), despensa (6m²) e varanda de serviço (10m²) ao fundo da construção.  
12ꢀTambémꢀconstruídaꢀporꢀJoséꢀdeꢀSouzaꢀRosaꢀ&ꢀIrmão.ꢀLocalizadaꢀnaꢀruaꢀDomꢀAquino.  
13ꢀOꢀgabineteꢀtambémꢀtemꢀacessoꢀdiretoꢀdoꢀexterior,ꢀatravésꢀdeꢀumꢀpergoladoꢀ(visívelꢀnaꢀplantaꢀeꢀnaꢀelevaçãoꢀfrontal).  
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Figura 3 - ACIMA: planta, ABAIXO: elevação frontal e implantação. Residência de Alcides Alves da Silva,  
aprovada em 1929, construída por José de Souza Rosa & Irmão, localizada na rua Dom Aquino n. 37.  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
Ao entrar na parte residencial, a sala é o principal articulador dos ambientes  
domésticos. Pelo interior da casa, o acesso à cozinha ocorre pela sala, ainda que  
em muitos casos a cozinha esteja aberta para o fundo do terreno, como será  
apresentado adiante. Um dispositivo que aparece no final dos anos 1920 e que se  
populariza a partir de 1930 é a copa14, instância que separa e distancia o espaço  
sujo e de trabalho da cozinha e o espaço limpo e social da sala (TRAMONTANO,  
1998). A copa delimita a transição entre duas zonas: social e serviços.  
Por outro lado, a demarcação das zonas social e íntima pode ser variável:  
foram identificados dois projetos em que o espaço tem uso flexível: “sala de  
visitas ou dormitório” e “sala de jantar e dormitório”, dependendo, ao que tudo  
indica, de demandas familiares específicas de quem mora na casa. A privacidade  
dos quartos depende da posição relativa da zona íntima no arranjo doméstico  
geral. Como anunciado no tópico anterior, foram identificadas composições  
14ꢀForamꢀidentificadosꢀ18ꢀexemplaresꢀcomꢀcopaꢀentreꢀ1928ꢀeꢀ1934.  
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que coincidem com certo modelo de planta comum desde a época da colônia,  
cujas características são detalhadas por diversos autores, como Lemos (1976) e  
Homem (1996). Em resumo, há duas instâncias principais de sociabilidade: uma  
sala com caráter mais público15, como primeiro cômodo da casa, junto à calçada;  
uma segunda sala com uso mais privado, reservada à família, localizada ao fundo  
da casa. Entre as duas salas, no centro geográfico da construção, encontram-se  
os dormitórios. Por causa da geometria do terreno residencial urbano colonial  
(estreito e profundo) e da implantação da construção (sem recuos laterais), esses  
dormitórios - chamados “alcovas” - não costumavam ter janelas (Figura 4).  
Figura 4 - plantas, elevação frontal e perspectiva de habitação urbana colonial  
Fonte: (HOMEM, 1996).  
Foram identificados 39 projetos com essa configuração (Figura 5), que  
correspondem a cerca de 21% da amostra, com certas particularidades:  
dormitórios entre as salas, dormitórios entre o comércio (frente) e a sala (fundo)  
e dormitórios entre sala e cozinha. Porém, o sanitarismo trouxe uma alteração  
significativa: os quartos não são mais alcovas, eles sempre têm janelas. Isso  
mostra um descompasso entre o arranjo espacial doméstico ainda influenciado  
15 Essa sala poderia ser um comércio.  
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por um modelo de planta colonial e importantes renovações na fachada, como a  
adoção do ecletismo como decoração, como se verá adiante. Plantas com traços  
coloniais travestidas por um decorativismo típico burguês da Belle Èpoque, ou  
ainda, o processo de modernização cultural brasileiro e suas contradições. Outras  
leituras também são possíveis: uma elite econômica e intelectual moradora da  
cidade no começo do século XX que estava antenada com certas atualizações  
estéticas originárias da Europa, mas que não abria mão de morar sob modos de  
vida tradicionais.  
Figura 5 - Planta e elevação frontal de residência, aprovada em 1915, proprietário Vasques & Cia, localizada  
na rua 15 de novembro  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
Há outras soluções típicas da casa colonial urbana, como a ausência de  
corredores de circulação que dão acesso aos dormitórios: 19 projetos da amostra  
(cerca de 10%) não tem circulação na zona íntima, ou seja, o acesso aos quartos  
ocorrepordentrodosprópriosquartos(Figura6).Ainstalaçãodetaiscorredoresé  
decorrência de um longo processo de consolidação de noções como privacidade,  
que durou alguns séculos a partir da Idade Moderna (Rybczynski, 1996). Como é  
previsível concluir, não é possível manter uma intimidade plena se o quarto é  
também local de passagem. Isso indica que a natureza da zona íntima de várias  
residências de Campo Grande de cem anos atrás é bastante distinta dos modos  
de vida contemporâneos. Há 10 projetos na década de 1930 cujos dormitórios  
têm três ou quatro portas, o que reforça a inviabilidade de isolamento ou certas  
condições atuais como, por exemplo, o entendimento do dormitório como o  
último refúgio da casa.  
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Figura 6 - Elevação frontal e planta de residência, aprovada em 1934, propriedade de João Leite da Silva,  
construída por Joaquim Nogueira Pinto, localizada na vila Soares  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
Também existem quartos com duas portas, uma interna e outra externa16,  
que abre direto para fora da moradia, ou seja, é possível acessá-lo sem  
entrar pela casa, o que talvez indique alguma autonomia do ocupante desse  
dormitório com relação aos outros membros da família. Um filho adulto ou um  
avô aposentado, por exemplo, pessoas mais independentes - do ponto de vista  
financeiro, inclusive - que não teriam mais que se submeter ao controle do  
responsável da casa? Dormitórios, no geral17, são os cômodos mais protegidos  
da casa, independentemente do arranjo espacial adotado. Sempre existem  
ambientes que antecedem e controlam o acesso à zona íntima, além da própria  
sala: vestíbulo, hall, galerie, corredor, etc.. Portas de dormitórios voltadas para  
o exterior, no entanto, quebram essa hierarquia e a sequência costumeira para  
dispor os cômodos.  
Em certos casos, a justificativa parece certa: existem 14 projetos de  
habitação coletiva (cerca de 7% da amostra) interpretados por este trabalho  
como cortiços, vários deles com uma disposição comum em moradias do gênero,  
encontrada em regiões centrais de metrópoles brasileiras na mesma época, como  
São Paulo (BONDUKI, 1998) e Rio de Janeiro (VAZ, 2002): ambientes padronizados  
em termos espaciais, enfileirados perpendiculares à rua, porta e janela dos  
cômodos voltadas para o recuo lateral (coberto por uma varanda), sem conexão  
16ꢀForamꢀidentificadosꢀ20ꢀexemplaresꢀdoꢀgêneroꢀentreꢀasꢀdécadasꢀdeꢀ1920ꢀeꢀ1930.  
17ꢀEmꢀespecial,ꢀemꢀprojetosꢀhabitacionaisꢀanterioresꢀàꢀarquiteturaꢀmoderna.  
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interna entre eles (Figura 8). Esse arranjo configuraria quartos autônomos ou,  
mais precisamente, unidades habitacionais - informais e precárias - autônomas.  
Figura 8 - Planta (acima) e corte longitudinal (abaixo), Habitação coletiva, projeto aprovado em 1928, loca-  
lizada na avenida Calógeras  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
Cortiços apontam a existência de especulação imobiliária. Eles indicam  
também desconhecimento, incapacidade ou desinteresse das autoridades  
públicas em condicionar a aprovação das construções ao atendimento de  
requisitossanitáriosbásicos.Cadafamíliacostumahabitarumúnicocômodocom  
usos diversos, sobrepostos e improvisados. Nessas condições, a sociabilidade  
se prolonga na varanda e no quintal, mas a privacidade fica quase inviabilizada.  
Tarefas domésticas diárias são prejudicadas, como é possível observar em um  
projeto de habitação coletiva aprovado pela prefeitura em 1929, construída à  
rua 7 de Setembro (Figura 7): são 9 quartos, no total. Nove famílias diferentes,  
é provável. Porém, a construção prevê apenas uma sala (15m²), uma cozinha  
(10.5m²), um único cômodo nomeado como “ban” (banho ou banheiro?) e um único  
cômodo nomeado como “W.C.”. Em termos hipotéticos, se houvesse entre 25 ou  
30 pessoas nesse cortiço (pai, mãe e filho em cada quarto), todas elas teriam que  
compartilhar um único banheiro. As contradições da modernização das cidades  
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ARTIGOS  
brasileirasentre1870-1950easdesigualdadessocioeconômicasdopaís, inclusive  
os problemas da produção privada de moradia para as classes trabalhadoras,  
podem ser estudados em Correia (2005).  
Figura 7 - Planta, habitação coletiva, projeto aprovado em 1929, localizada na rua 7 de setembro  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
Banheiros à parte da construção eram comuns não apenas em cortiços,  
mas também em residências unifamiliares. Foram identificados 21 projetos cujos  
únicos banheiros da casa estão localizados no quintal, ao fundo do terreno (cerca  
de 11% do total, entre 1915 e 1933) (Figura 9). É provável que o número de banheiros  
no quintal seja muito superior ao mapeado pois, entre as pranchas estudadas,  
vários projetos não têm banheiro desenhado, nem dentro nem fora da casa. À  
época da colônia, esse cômodo moderno chamado “banheiro” não existia, como  
também não havia redes de abastecimento de água e coleta de esgoto. De forma  
manual a água era trazida para dentro de casa e o esgoto era levado para seu  
destino final, pelos próprios moradores ou agregados, trabalhadores domésticos  
ou pessoas escravizadas. Esse quadro não existia mais na primeira metade do  
século XX, portanto, isso não se aplicaria aos casos estudados entre as décadas  
de 1910 e 1930.  
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Figura 9 – Implantação e fachada frontal de residência, propriedade de Abilio Fernandes Barbura, localizada  
na rua 15 de Agosto  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
Banheiros juntos do restante da construção começam a ser mais frequentes  
a partir do final da década de 1920, mas em muitos desses casos, a porta de  
acesso ainda localizava-se no quintal, ou seja, não havia acesso direto do interior  
da residência ao banheiro. Dois exemplares da amostra, inclusive, apresentam  
uma solução intermediária: banheiro com duas portas (uma interna, outra  
externa). Entre os banheiros com porta e acesso interno à casa (21 exemplares,  
cerca de 11% do total, que começam aparecer a partir de 1928), quase todos  
estão localizados na zona de serviços, vizinhos da cozinha. São bastante raros os  
banheiros que se localizam no corredor dos quartos ou próximos da sala: apenas  
6 casas a partir de 1929 (cerca de 3% da amostra). Banheiros suíte identificaram-  
se apenas dois projetos, um deles a casa de Alcides Alves da Silva, já mencionada  
aqui. Em ambos os casos há duas portas: uma abre para o interior do dormitório  
e outra abre para o corredor da zona íntima.  
É importante esclarecer que, entre os exemplos mencionados, não é possível  
ter certeza sobre a condição da pessoa que solicitou aprovação na prefeitura.  
Não é sabido18 se o nomeado “proprietário” seria o futuro morador ou apenas um  
investidor. Por isso, também não é possível concluir se as idiossincrasias dos  
banheiros e outros cômodos da residência seriam uma demanda doméstica  
específica da família ou a concepção de produtos imobiliários que tentam mapear,  
de forma presumível, demandas de um público-alvo, como acontece, ademais,  
até os dias de hoje.  
Contudo, havia um mercado imobiliário constituído em Campo Grande  
18ꢀIssoꢀsignificaꢀqueꢀessaꢀinformaçãoꢀexcedeꢀosꢀobjetivosꢀdesteꢀartigoꢀe,ꢀporꢀisso,ꢀnãoꢀfoiꢀaprofundada.ꢀPorém,ꢀtrata-seꢀ  
de uma questão relevante que trabalhos acadêmicos com outros recortes temáticos podem investigar.  
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desde o início do século XX, não nos termos contemporâneos com empresas  
profissionalizadas (incorporador, construtor, corretor, etc.), mas investidores  
individuais (talvez de outros setores da economia) que aportavam recursos  
financeiros na construção civil e na produção habitacional privada. Foram  
identificados terrenos com duas habitações, com três habitações (Figura 10),  
com quatro habitações e com casas geminadas, que somam 13 exemplares  
construídos entre 1928 e 1934 (cerca de 7% da amostra). É importante pontuar  
que as habitações coletivas mencionadas neste parágrafo não são cortiços,  
mas unidades completas e autônomas, compostas por sala, quartos, cozinha,  
banheiro, etc., além de entrada exclusiva ao imóvel.  
Figura 10 – Habitação coletiva com três unidades, projeto aprovado pela prefeitura em 1933, construída  
por José de Souza Rosa, localizada na avenida Calógeras  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
Pelos documentos estudados, não é possível confirmar se essas casas  
foram vendidas ou alugadas. No entanto, no período histórico estudado, não  
havia políticas públicas para financiar a produção de imóveis residenciais e os  
bancos privados também não tinham linhas de crédito imobiliário destinadas a  
empresários do setor (ANITELLI, 2010). Por outro lado, não existia financiamento  
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regularàpopulaçãoparaacompradacasaprópria. Porisso-eaguardandofuturos  
trabalhos acadêmicos que investiguem mais esses novos circuitos imobiliários -  
conclui-sequeessascasasforamconstruídasealugadas,nocontextoqueBonduki  
(1998) chamou de “rentista” , anterior à constituição de empresas incorporadoras,  
à profissionalização do mercado e à venda de moradias (ROSSETTO, 2002).  
Menciona-se também o curioso caso de uma casa duplicada, com projetos  
iguais, construídas em terrenos diferentes. A primeira uma “casa econômica”,  
propriedade de Conceição Mambris, localizada no prolongamento da rua Cândido  
Mariano; a segunda uma “casa econômica” para Antônio Rodrigues, localizada no  
prolongamento da rua 13 de Maio. Não apenas o projeto é igual, mas a disposição  
dos desenhos na prancha também é rigorosamente igual. Ambas foram  
aprovadas pela prefeitura no mesmo ano: 1932. Desconsiderada uma improvável  
coincidência, é possível deduzir um interesse em padronizar a construção por  
questões produtivas e econômicas, estratégia que persiste no século XXI no  
Brasil inteiro. Não é difícil imaginar as implicações negativas para os profissionais  
autores de projeto atuantes na cidade à época. Como já mencionado, a primeira  
regulamentação do trabalho do arquiteto no Brasil ocorreu no ano seguinte, em  
1933, através do Decreto 23.569 (PINHEIRO, 1997).  
Em termos históricos, a contagem das residências era realizada pela  
quantidade de “fogos”, ou seja, quando havia cozinha era contada uma unidade  
habitacional. Logo, esses projetos de habitação coletiva mencionados acima  
aumentavam não apenas o número de residências, mas também a densidade  
populacional da região central19 ao acomodar várias famílias em um mesmo  
terreno com dimensões padrão. No final do Império e início da República, o  
cozinhar tinha natureza diversa daquela que há nos dias de hoje, como apontam  
autores que estudam esse cômodo em uma perspectiva histórica, como Homem  
(2015). Foram identificadas na amostra 44 residências (cerca de 24%) cujas  
cozinhas estão abertas para o quintal, sem conexão direta com o interior da casa  
ou ligada aos ambientes internos por uma varanda. Essa condição mantém uma  
tradição indígena de cozinhar fora da edificação principal, que os portugueses da  
colônia não demoraram a entender sua conveniência em um país tropical. Cerca  
19ꢀNoꢀinícioꢀdoꢀséculoꢀXXꢀCampoꢀGrandeꢀtinhaꢀcercaꢀdeꢀ2.000ꢀhabitantesꢀeꢀcercaꢀdeꢀ200ꢀcasasꢀsegundoꢀTrubilianoꢀeꢀ  
Martinsꢀ(2008).ꢀAindaꢀsegundoꢀdadosꢀapresentadosꢀpelosꢀautores,ꢀhaviaꢀ5.000ꢀpessoasꢀnoꢀmunicípioꢀemꢀ1912ꢀeꢀ40.000ꢀ  
pessoasꢀemꢀ1933,ꢀouꢀseja,ꢀaꢀpopulaçãoꢀaumentouꢀoitoꢀvezesꢀnoꢀperíodoꢀestudado.ꢀNoꢀentanto,ꢀaꢀpopulaçãoꢀresidenteꢀnaꢀ  
zonaꢀurbanaꢀeraꢀbemꢀmaisꢀmodesta:ꢀ6.000ꢀpessoasꢀemꢀ1920ꢀeꢀ24.479ꢀpessoasꢀemꢀ1940.  
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de um-quarto dos projetos estudados tem a cozinha com essas características,  
uma proporção bastante significativa.  
O curioso é que não é progressivo o desaparecimento dessas cozinhas  
integradas a varandas e ao quintal. A metade dessas cozinhas foi concebida entre  
os anos 1932 e 1934, ou seja, no final do período estudado. Pesquisas futuras com  
recortes cronológicos em épocas subsequentes podem verificar quando essa  
disposição não foi mais popular em Campo Grande. É provável que esse processo  
coincida com o desenvolvimento tecnológico dos instrumentos domésticos,  
como liquidificadores, batedeiras, processadores, etc., além do fogão elétrico  
substituir o fogo à lenha. O impacto da popularização do detergente e outros  
facilitadores do cotidiano familiar, por exemplo, já foi estudado por autores que  
abordam a história da arquitetura, como Banham (2006). Nos anos 1930 surge  
uma opção que parece intermediária: cozinha com duas portas - uma abre para o  
interior da casa, outra abre para o exterior (varanda ou quintal).  
Outro elemento bastante comum nos exemplares estudados é a varanda,  
que se constitui como uma instância de transição entre interior e exterior. Foram  
identificados 58 projetos residenciais com varandas, de diferentes desenhos,  
funções e localização, que correspondem a cerca de 32%. Um-terço do total  
é um número bastante significativo, visto que à época se consolida a estética  
de matriz eclética para decorar as fachadas, o que provoca, em tantos casos,  
telhados escondidos por causa da adoção da platibanda e a ausência de varandas  
que remetiam a uma condição colonial.  
Entre as casas avarandadas, cerca de 55% delas (32 exemplares) estão  
localizadas na fachada de frente para a rua, como entrada coberta da residência,  
anterior à sala. Cerca de 6% delas (4 exemplares) estão localizadas na fachada  
posterior, no fundo da casa, junto da cozinha (Figura 11). As primeiras teriam  
uma conotação mais social, as segundas seriam mais utilizadas como serviço e  
área de convívio familiar. Cerca de 37% delas (22 exemplares) têm duas varandas,  
uma à frente da construção, outra ao fundo da construção (Figura 12). O termo  
“varanda” foi utilizado porque é o mais comum, mas talvez seja conveniente  
consultar um clássico dicionário de arquitetura e distingui-la do “alpendre”.  
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Figura 11 - Planta de residência, aprovada pela prefeitura em 1929, propriedade de Alberto de Castro,  
construída por Luiz Louzinha, localizada na rua Antônio Maria Coelho.  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
Figura 12 – Planta e elevação frontal de residência, aprovada pela prefeitura em 1933, propriedade de  
Juvenal Ribeiro, construída por José de Souza Rosa, localizada na avenida Afonso Pena n. 188, bairro  
Amanbahy  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
SegundoCoronaeLemos (1972, p. 32 e36), alpendreseriatodo tetosuspenso  
por si só ou suportado por pilastras ou colunas. (...) Vulgarmente pensa-se que  
alpendre seja o recinto abrigado anterior à porta”; continua adiante: “Em nossas  
antigas residências, também servia o alpendre para separar e categorizar os  
indivíduos. Era no alpendre que o fazendeiro ou senhor, recebia agregados ou  
escravos da lavoura”; ou ainda: “A palavra ‘varanda’ é empregada comumente  
para designar grande alpendre”. Classificado nesses termos, o espaço coberto  
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da frente da casa identificado na amostra parece mais um alpendre, entendido  
aqui como espaço formal de entrada, mas também como barreira para atender  
eventuais pessoas estranhas à casa, ainda que muito diferentes daqueles  
exemplos mencionados pelos autores.  
Por outro lado, os autores também definem varanda: “a palavra designa o  
alpendre grande e profundo, muito comum nas casas antigas, onde se tomavam  
as refeições e onde se passava o dia”, apresentando sinônimos: “O mesmo que  
sacada, oubalcão, especialmentealpendrado, eirado, terraço(LEMOSeCORONA,  
1972, p. 468). Essas definições parecem mais adequadas para as coberturas do  
fundo identificadas na amostra.  
Essa porosidade da construção e sua relação mais direta com o terreno  
parecem ser um fator importante para definir a disposição dos cômodos e a  
implantação da construção no lote. Vários ambientes com aberturas dúbias  
- para dentro e para fora - já foram mencionados neste trabalho: o dormitório,  
a cozinha, o banheiro e a varanda. A relação com as áreas externas também é  
funcional pois, em tantos casos, parte da propriedade era utilizada para cultivo  
de hortaliças e criação de animais, como suínos e aves. Esses alimentos eram  
parte da dieta alimentar das famílias. O tamanho do terreno indica a presença  
dessas pequenas atividades agrícolas. A maioria das pranchas da amostra não  
tem desenho de implantação, por isso, nesses casos, não é possível saber o  
tamanho exato do terreno. Porém, há diversos terrenos com metragens muito  
superiores à média atual: 20x40 metros, 16x60 metros, etc.. Nota-se também  
que a taxa de ocupação é bem menor que a usual nos dias de hoje, ou seja, a  
área não edificada (e permeável) que sobra, é muito provável, gerava insumos  
alimentares domésticos.  
Fachadismos e decoração  
Uma parte das residências da amostra (24 delas, cerca de 13%) possui  
fachada com disposição tradicional, mas quase sem decoração (Figura 13). A  
ausência de elementos decorativos desses exemplares, ressalta-se aqui, não  
é uma consciência das novas possibilidades estéticas advindas da arquitetura  
moderna. Elas têm pouca - ou quase nenhuma - decoração por causa de suas  
dimensões modestas, de sua simplicidade construtiva, dos objetivos do  
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empreendimento imobiliário ou do público-alvo. São construções feitas por (ou  
para) um público com poucos recursos financeiros, como é possível se deduzir  
pelo programa de necessidades enxuto.  
Figura 13 – Elevação frontal e lateral de residência, aprovada pela prefeitura em 1916, propriedade de  
Henrique A. P. Correa, localizada na rua Cândido Mariano n. 19 esquina rua Santo Antônio  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
No entanto, a grande maioria das residências identificadas pertence ao  
ápice da cultura eclética, o que resulta em elementos decorativos variados, como  
acrotério, agulha, almofada, ameia, arco, azulejo, balaustre, bossagem, cachorro,  
capitel, coluna, console, cornꢀa, cunhal, estria, floreira, friso, frontão, guarnição,  
guirlanda, gota, lambrequim, medalhão, mísula, moldura, óculo, parapeito,  
pedestal, pedra, pérgola, pilastra, pináculo, platibanda, sacada, tꢀolo, tímpano,  
tríglifo, vaso, vegetação, voluta, etc., cujas definições podem ser consultadas no  
- já mencionado - dicionário de arquitetura (LEMOS e CORONA, 1972). Todos eles  
poderiam ser classificados como parte desse repertório eclético. A partir das  
últimas décadas do século XIX, em muitas regiões do mundo ocidental em que  
o progresso material chegou, começou-se a utilizar elementos historicistas sem  
tanto rigor compositivo, como havia feito, por exemplo, a arquitetura neoclássica  
ou renascentista. Outra característica do ecletismo é a mistura de elementos de  
matrizes estéticas diferentes na mesma edificação.  
É possível identificar diálogos com diversas vertentes estilísticas, como  
o neoclássico (Figura 14), estabelecido no Brasil desde a primeira metade do  
século XIX e a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro; o romântico,  
em exemplares da amostra nomeado como “chalet” (Figura 14), sempre com  
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a cumeeira do telhado perpendicular à rua e com as águas aparentes, sem  
platibandas; o neocolonial, que resgata o repertório formal de construções do  
Brasil Colônia e introduz certos elementos decorativos na fachada (Figura 15)  
; o art nouveau, primeiro estilo arquitetônico que busca romper - ao menos  
no discurso - com formas historicistas, predominando arranjos compositivos  
curvilíneos e florais (Figura 15); entre outros20.  
Figura 14 - ESQUERDA: fachada frontal, projeto de uso misto (comércio e residência), aprovada pela  
prefeitura em 1933, propriedade de Nicola Carato, localizado na rua Dom Aquino; DIREITA: fachada frontal  
de residência, nomeada como “chalet” no projeto, aprovada pela prefeitura em 1927, propriedade de Ushi  
Oshiro, localizada na rua Antônio Maria Coelho n. 18  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
20ꢀAsꢀcaracterísticasꢀdessesꢀestilosꢀpodemꢀserꢀestudadasꢀemꢀdiversosꢀautores:ꢀneoclássicoꢀeꢀromânticoꢀ(LEMOS,ꢀ1985),ꢀ  
neocolonial (PINHEIRO, 2012), art nouveau (SEMBACH, 2007).  
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ARTIGOS  
Figura 15 - ESQUERDA: fachada frontal, projeto de residência, aprovada pela prefeitura em 1931, projeto  
do engenheiro civil Amélio Baís, propriedade de Sebastião I. de Souza, localizado na rua 15 de Novembro;  
DIREITA: fachada frontal, projeto de residência, aprovada pela prefeitura em 1933, propriedade de Juvenal  
Ribeiro, projetada pelo engenheiro agrimensor Generoso Leite, construída por José de Souza Rosa, localiza-  
do na avenida Afonso Pena n. 188, bairro Amambahy.  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
Há também diversos exemplares art déco: 9 projetos no total, construídos  
entre 1932 e 1934, o que corresponde a cerca de 10% das residências desses  
anos. De acordo com a amostra, começa a se popularizar em Campo Grande  
a partir da década de 1930. Apesar das decorações ainda presentes, não seria  
descabido considerá-lo como uma transição entre o ecletismo e o moderno,  
por causa da simplificação, da geometrização e da tendência de abstração das  
formas propostas pelo art déco21. Entre eles, há um exemplar que é considerado  
por este trabalho como um prelúdio da arquitetura moderna (Figura 16). Trata-se  
de uma nomeada “casa econômica”, propriedade de Antônio Fernandes, aprovada  
pela prefeitura em 1934, localizada na rua 13 de Maio. Não existem traços de  
estilos historicistas, as fachadas (frontal e lateral) dialogam com proposições  
contemporâneas à concepção do projeto.  
A primeira construção moderna no Brasil, como é sabido, foi a casa da  
rua Santa Cruz, na vila Mariana, em São Paulo, projetada em 1927 por Gregori  
Warchavchik (LIRA, 2013)22. Na capital paulista, além do arquiteto russo, apenas  
outros dois profissionais projetaram obras modernas até o início dos anos 1930:  
21ꢀCaracterísticasꢀdoꢀestiloꢀartꢀdéco,ꢀinclusiveꢀsuaꢀvertenteꢀmarajoara,ꢀpopularꢀnoꢀBrasil,ꢀpodemꢀserꢀestudadasꢀemꢀDiasꢀ  
(2023).  
22ꢀAindaꢀqueꢀaꢀestaçãoꢀdeꢀtremꢀdeꢀMairinque,ꢀprojetadaꢀemꢀ1906,ꢀporꢀVictorꢀDubugras,ꢀtenhaꢀaspectosꢀmodernizantes.ꢀ  
OꢀtítuloꢀdoꢀlivroꢀdeꢀReisꢀFilhoꢀ(2005)ꢀapontaꢀqueꢀoꢀarquitetoꢀfrancêsꢀteriaꢀsidoꢀoꢀ“precursorꢀdaꢀarquiteturaꢀmodernaꢀnaꢀ  
AméricaꢀLatina”.ꢀ  
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Rino Levi e Flávio de Carvalho23. No Rio de Janeiro, além da experiência pioneira  
dos Irmãos Roberto na sede da ABI24, as primeiras manifestações modernas se  
concretizaram com o próprio Warchavchik, construindo algumas residências em  
parceria com Lúcio Costa, além da equipe responsável por desenvolver o projeto  
do Ministério da Educação e Saúde, guiada por Le Corbusier (HARRIS, 1987). Além  
desse brevíssimo panorama, há raros outros exemplares, como a atuação de Luis  
Nunes em Pernambuco.  
A casa econômica propriedade de Antônio Fernandes não dialoga com  
essas manifestações, mas se aproxima das predileções art déco. O desenho da  
fachada - em especial o coroamento - é levemente assimétrico, o que destoa da  
matriz clássica; fachada com arquétipos românticos costumam ser assimétricas,  
mas aqui o telhado está escondido atrás da platibanda (tal como na pioneira casa  
de Warchavchik); o resultado estético é cúbico, geométrico e abstrato, mas  
não pode ser aproximado da arquitetura moderna realizada, por exemplo, na  
Alemanha no pós-Primeira Guerra, pois o desenho da casa de Campo Grande é  
apenas decorativo.  
No entanto, há um detalhe construtivo que destoa das estratégias utilizadas  
em casas ecléticas do período. A decoração eclética costumava ser aposta à  
fachada,ouseja,paredesdealvenariarebocadascomargamassaderevestimento,  
mais decoração (por cima); já na prancha de aprovação na prefeitura da casa  
propriedade de Antônio Fernandes há um informe aos responsáveis pelo canteiro  
de obras: “rebaixo de 4 cms, a executar já na alvenaria” (Figura 16). Dessa forma,  
é o desalinhamento dos próprios planos verticais que constituem a dinâmica  
plástica da fachada. Não existem mais objetos sobrepostos, como se observa  
nos desenhos de elevação, ainda que o resultado - e o objetivo do autor - seja  
decorativo. São os elementos da própria construção, paredes nesse caso, que  
definem o design da edificação. Considera-se isso um indício de modernidade.  
23 Seguidos por Oswaldo Bratke e Eduardo Kneese de Mello nos anos subsequentes.  
24 Associação Brasileira de Imprensa.  
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ARTIGOS  
Figura 16 - ACIMA: fachada frontal (esquerda) e detalhe construtivo (direita), ABAIXO: fachada lateral: pro-  
jeto de “casa econômica, aprovada pela prefeitura em 1934, propriedade de Antônio Fernandes, localizado  
na rua 13 de Maio.  
Fonte: ARCA - Arquivo Histórico de Campo Grande.  
CONCLUSÕES  
As construções estudadas aqui praticamente não existem mais. Elas  
desapareceram por causa do desinteresse pela cultura material da cidade, além  
do desenvolvimento das forças capitalistas e do mercado imobiliário, com o  
consequente aumento da densidade construtiva permitida e a construção de  
novas edificações verticalizadas no lugar. A arquitetura, como registro dessa  
cultura material, é uma fonte preciosa para estudar a história de uma civilização.  
Como as construções não existem mais, a documentação de projeto torna-se uma  
maneira de estudá-la. A primeira conclusão é a importância de valorizar arquivos  
públicos que detém acervos do gênero e a elaboração de políticas públicas para  
organizar e publicizar o material.  
Talvez o principal mérito deste trabalho foi ter identificado similaridades  
dos arranjos espaciais de habitações em Campo Grande com aqueles existentes  
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ARTIGOS  
em outras regiões brasileiras. Ainda que as temporalidades sejam outras e as  
adaptaçõessejamnecessárias,foramobservadosnaamostraaspectosdomodelo  
de planta de casas urbanas do Brasil colonial e do modelo de planta burguês  
europeu consolidado no século XIX. Estudar esses projetos entre 1915 e 1935  
permitiu visualizar certas tradições domésticas seculares que conviviam com  
modernizações pontuais, na mesma época em que o país tinha transformações  
estruturais, como a recém proclamada República e o fim da monarquia, a  
estruturação de um Estado burguês liberal com todas as suas contradições e o  
início do governo autoritário de Getúlio Vargas.  
Também constatou-se a atuação de um incipiente mercado imobiliário e  
a existência de especulação imobiliária. Nesse contexto, não se trata mais de  
pessoas que constroem sua própria residência, mas indivíduos que estabelecem  
uma provisão imobiliária privada e oferecem unidades habitacionais no mercado  
rentista, como aventado aqui. Importante mencionar que, dentro dessa produção  
de viés mais empresarial, foram identificadas construções precárias, como  
cortiços. Pelos projetos se nota a desigualdade social da época, ao comparar  
residências com programa de necessidades extenso, como a casa de Alcides  
Alves da Silva, que pertencem a profissionais liberais bens estabelecidos que, nos  
dias de hoje, seriam chamados de classe média alta; até cômodos mínimos que  
abrigam famílias inteiras em construções precárias com banheiro compartilhado  
por muitas pessoas.  
A grande particularidade é que praticamente todas essas pessoas  
moravam na região central de Campo Grande, independente da renda ou classe  
social. Essa condição não tornava a relação menos desigual, mas forçava a  
proximidade geográfica e convivência, no mínimo, enquanto o território ocupado  
não era expandido por novos loteamentos e não se consolidava um zoneamento  
funcional.  
Referências  
ANITELLI, Felipe. Como nasce um modelo: o projeto de apartamento na cidade de São Pau-  
lo. Dissertação (mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Escola de Engenharia de São Carlos  
da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010.  
BANHAM, Reyner. Teoria e projeto na primeira era da máquina. São Paulo: Perspectiva,  
2006.  
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ARTIGOS  
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