ARTIGOS
O Nomads.usp8, por exemplo, há quase três décadas vem desenvolvendo
estudos sobre os arranjos espaciais da habitação brasileira, entre panoramas
históricos e leituras contemporâneas: Queiroz (2008), Requena (2007), NOMADS.
USP (2007), Pinho (2005), Tramontano (2004), Villa (2002), Tramontano (1998),
entre outros. Essas análises são importantes aqui porque reconhecem as raízes
de um certo modelo de planta cuja origem é europeia, consolidado na Paris do
século XIX. Traços desse modelo são reconhecidos na amostra estudada, como
a organização dos ambientes internos a partir de três zonas principais: social,
íntima e serviço e a presença de certas instâncias de transição, como a copa, no
geral localizada entre a sala de jantar e a cozinha.
Esse modelo - comumente chamado de burguês pelos autores consultados
- pode ser contraposto a arranjos espaciais tradicionais, que são entrevistos na
habitação citadina brasileira desde a época da colonização. A típica planta da
casa colonial implantada em lotes urbanos pode ser encontrada em diferentes
regiões do país, inclusive no Centro-Oeste e no atual estado de Mato Grosso do
Sul até as primeiras décadas do século XX, como apontam exemplares da amostra
estudada, em especial nas décadas de 1910 e 1920. Os estudos desenvolvidos
por Carlos Lemos (1999, 1989, 1985, 1976) são uma referência básica destes
primórdios. Por vezes, as plantas da amostra são resultado de uma conciliação
das duas matrizes: burguesa francesa e colonial portuguesa.
Não foram encontradas “plantas-livres” modernas, nos termos definidos por
Le Corbusier (2011 e 2004)9 ou parecidas com as soluções adotadas em projetos
habitacionais concebidos pela República de Weimar ou pelo Construtivismo
russo (Kopp, 1990). Em termos plásticos também é quase inexistente a estética
modernistaimplementadanoBrasilapartirde1927comGregoriWarchavchik,seja
na vertente paulista ou carioca (BRUAND, 1981). As fachadas dessas residências,
no geral, dialogam com o universo decorativo do Ecletismo, cujos representantes
máximos são figuras como Arquimedes Memória, Ramos de Azevedo, Giacomo
Palumbo, entre outros.
De forma complementar, estudos de autores como Homem (1996) e Bonduki
8 Núcleo de Estudos de Habitares Interativos, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
(IAU-USP), coordenado pelo professor Associado Dr. Marcelo Tramontano.
9ꢀꢀ“Planta-livre”:ꢀquandoꢀosꢀelementosꢀestruturaisꢀdaꢀconstruçãoꢀestãoꢀpontuadosꢀemꢀpilaresꢀ(eꢀnãoꢀmaisꢀdistribuídosꢀemꢀ
paredes de alvenaria, por exemplo); nesses casos, a separação entre os ambientes da casa poderia ser feita com divisó-
riasꢀleves,ꢀsendoꢀpossível,ꢀinclusive,ꢀreposicionarꢀessasꢀparedesꢀdivisóriasꢀaꢀpartirꢀdeꢀespecificidadesꢀdomésticasꢀdeꢀcadaꢀ
família,ꢀsemꢀreformasꢀbarulhentas,ꢀdemoradasꢀeꢀcustosas,ꢀouꢀseja,ꢀaꢀplantaꢀseriaꢀlivreꢀparaꢀserꢀfacilmenteꢀreconfigurada.ꢀ
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Albuquerque: revista de Estudos Culturais, vol. 17, n. 33, jan. - jun. de 2025 I e-issn: 2526-7280