EDITORIAL

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Editorial: a política do cinema e a hermenêutica do silêncio

Editorial: the politics of cinema and the hermeneutics of silence

Aguinaldo Rodrigues Gomes1

https://orcid.org/0000-0002-2398-8088
http://lattes.cnpq.br/3408519048864585

Miguel Rodrigues de Sousa Neto2

https://orcid.org/0000-0001-9672-3315
http://lattes.cnpq.br/1581653418017053

https://doi.org/10.46401/ardh.2024.v16.23001

 
O cinema, desde sua origem, tem sido um meio eficaz de expressão e

reflexão sobre a realidade social e política. É certo que ele tem servido para
divulgação de discursos hegemônicos e, com isso, garantido representações
positivas sobre opressões que deveriam ter, há muito, sido superadas. Apesar
disso, e muito além de ser apenas uma forma de entretenimento, ele possui um
caráter profundamente transformador, capaz de dar visibilidade às questões que
frequentemente ficam à margem da sociedade. Assim, a sétima arte se estabelece
também como um espaço de resistência onde a memória coletiva é preservada
e, muitas vezes, reescrita, oferecendo ao espectador uma oportunidade única de
questionar e refletir sobre as dinâmicas sociais, políticas e culturais que moldam
1  Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Professor da Universidade Fe-
deral de Mato Grosso do Sul (UFMS). Docente do corpo permanente do Programa de Pós-Graduação
em Estudos Culturais (PPGcult)/UFMS) e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Univer-
sidade Federal de Rondonópolis (PPGEdu/UFMT). E-mail: aguinaldorod@gmail.com
2  É Bacharel (2002) e Licenciado em História (2004) pela Universidade Federal de Uberlândia, mes-
ma instituição por meio da qual obteve os títulos de Mestre (2005) e Doutor (2011) em História. É
docente do Curso de Graduação em História e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais,
ambos do Campus de Aquidauana da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). E-mail:
miguelrodriguessnetto@gmail.com

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9 albuquerque: revista de história - v. 16, n. 32, ago. - dez. 2024 I e-issn: 2526-7280

o mundo contemporâneo.
Em um contexto de crescente polarização política e social, o cinema tem

um papel crucial na construção de narrativas que não apenas documentam a
realidade, mas que também têm o poder de questioná-las. A função política do
cinema não se limita ao simples ato de representar o mundo, mas também ao
de nele intervir, oferecendo novas formas de enxergar a história, as relações de
poder e a construção das identidades. Por meio de sua linguagem visual e sonora,
o cinema consegue expressar a complexidade das questões humanas, ecoando
vozes dos que muitas vezes foram silenciados pelos setores hegemônicos da
sociedade.

O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, exemplifica essa
capacidade do cinema de funcionar como uma ferramenta política de subversão
e denúncia. A obra de 2024, que aborda temas como os desaparecidos pela
Ditadura Militar brasileira, a dor e a resistência, pode ser vista como uma reflexão
sobre a construção da identidade e a resistência contra a marginalização. O que
torna o filme particularmente relevante neste contexto é sua exploração da
“hermenêutica do silêncio”, um conceito que vai além do simples ato de não falar.
Refere-se ao que é silenciado pela história, o que é esquecido ou ocultado, e que,
por meio do cinema, ganha uma nova forma de expressão e visibilidade.

A hermenêutica do silêncio se configura como uma tentativa de resgatar o
que ficou perdido ou oculto na narrativa oficial. Nesse sentido, o filme não apenas
mostra a dor daqueles que foram silenciados, mas também oferece uma forma de
resistência ao que foi silenciado pela história oficial. O cinema, portanto, se torna
um instrumento de cura e de denúncia, revelando não apenas o que foi perdido,
mas também o que ainda está presente, à espera de ser resgatado e ouvido.

A reflexão sobre o silêncio, suas múltiplas camadas e os diferentes motivos
que levam alguém a se silenciar, pode ser diretamente relacionada ao filme
Ainda Estou Aqui, de Salles, por explorar o tema dos desaparecidos políticos, da
memória e da resistência no contexto da ditadura militar brasileira. No filme, o
silêncio não é apenas um ato de omissão, mas sim uma escolha estratégica e um
peso psicológico profundo que recai sobre os personagens que, por diferentes
razões, se veem impossibilitados ou relutantes em falar sobre suas experiências.

Assim como na reflexão apresentada, onde o silêncio pode ser interpretado
como uma maneira de evitar o confronto com um passado doloroso ou de
proteger a verdade de uma realidade que ainda não pode ser enfrentada, no filme

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10 albuquerque: revista de história - v. 16, n. 32, ago. - dez. 2024 I e-issn: 2526-7280

Ainda Estou Aqui o silêncio emerge como uma defesa emocional e uma tentativa
de preservar a integridade de quem viveu o trauma dos desaparecidos políticos
e da repressão, tendo que preservar os filhos da dor de perder o pai, como no
caso de Eunice Paiva. Os personagens que foram vítimas do regime ditatorial,
e que carregam as marcas desse passado, muitas vezes preferem se silenciar,
não por falta de vontade de falar, mas por já terem enfrentado, de alguma forma,
suas memórias mais dolorosas. Para eles, a remoção de uma camada de silêncio
parece trazer de volta um sofrimento que eles já haviam tentado enterrar.

Por outro lado, o filme também mostra que o silêncio não é uma posição
unânime ou confortável. Para alguns, ele pode ser visto como uma forma de
resistência e preservação, uma maneira de evitar a revitimização e a exposição
de suas histórias. Para outros, especialmente para aqueles que ficaram em
silêncio por muito tempo, a revelação da verdade se torna uma necessidade, pois
as perguntas não respondidas sobre o passado acabam se tornando um peso
impossível de carregar. Eunice Paiva, rompe aos poucos com o silenciamento
sobre as agruras da ditadura, ao exigir respostas sobre a morte de seu marido
Rubens Paiva, obrigando o Estado a admitir sua responsabilidade nos crimes
praticados contra a família.

Em Ainda Estou Aqui, esse conflito entre o silêncio e a revelação, entre o medo
do revanchismo e a necessidade de fechar feridas históricas, se torna uma linha
tênue que os personagens tentam equilibrar. A hermenêutica do silêncio aparece
nesse filme de forma clara, pois o silêncio de cada uma das personagens não é
uniforme; ele carrega com elas uma série de significados, tanto pessoais quanto
coletivos. E, como na reflexão, o que muitos não percebem é que, ao silenciar-
se, muitas perguntas ficam sem resposta, tornando-se uma necessidade latente
na busca por justiça, memória e reconciliação. O filme ilustra como o silêncio
pode ser uma estratégia complexa e multifacetada, envolvendo tanto a proteção
quanto o medo, a dor e a necessidade de encontrar um espaço para a cura. Ao
mesmo tempo, ele evidencia que o silêncio também carrega um custo – o custo
de deixar as perguntas sem resposta e de manter um ciclo de não-resolução
que, inevitavelmente, terá que ser enfrentado em algum momento. O filme fala
de hoje e dos usos do passado na contemporaneidade, da luta pela imersão da
verdade ou do negacionismo que ao controlar o passado, regula, também, os
regimes de verdade do presente. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro
na cerimônia de 2 de março de 2025, recebeu indicação nas categorias Melhor

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Filme e Melhor Atriz, este, para Fernanda Torres.
A arte cinematográfica permeia essa edição, uma vez que o dossiê “Cinema

e Cidades”, que abre este número de albuquerque: revista de história, propõe
uma análise aprofundada das relações entre cinema e espaço urbano. Ele
destaca a maneira como o cinema se imbrica com as cidades, refletindo sobre a
construção do espaço público e as dinâmicas sociais e políticas que marcam os
centros urbanos. O cinema, ao representar as cidades, não apenas documenta o
que elas são, mas também as reinventa, refletindo as transformações sociais e
as tensões políticas que atravessam os espaços urbanos.

O artigo “Cidade-Cinema: análise de uma interação a partir de uma
experimentação conceitual”, de José Costa D’Assunção Barros, propõe uma
reflexão teórica sobre como o cinema interage com a cidade. O autor sugere que
o cinema oferece uma forma de experimentar a cidade de maneira conceitual,
transformando a cidade não apenas em um cenário, mas em um sujeito ativo na
construção das narrativas cinematográficas. A cidade, nesse contexto, deixa de
ser apenas o pano de fundo das histórias e passa a ser um personagem com vida
própria, que interage com os filmes de maneira complexa e multifacetada.

Em “Olhares cinematográficos sobre a Revolução dos Cravos”, Róbson
Pereira da Silva, Grace Campos Costa e Lays da Cruz Capelozi, examinam como
o cinema tem sido uma ferramenta importante para preservar e reinterpretar a
memória histórica da Revolução dos Cravos, um dos marcos mais significativos
da história de Portugal. Através da análise de filmes sobre o evento, os autores
discutem o cinema servindo como um meio de construção histórica, ajudando a
entender as dinâmicas políticas e sociais que moldaram o futuro do país europeu.

Em “Política entre-as-mulheres e a construção do espaço público em
Garotas do ABC (2003), de Carlos Reichenbach”, Felipe Biguinatti Carias analisa
a representação das mulheres e seu papel na construção do espaço público,
explorando como o filme reflete a luta por visibilidade e representação no
contexto de uma sociedade desigual. O autor utiliza o filme para discutir questões
de gênero e a política de inclusão, apontando como o cinema se torna um espaço
onde as questões femininas podem ser discutidas e visibilizadas.

Em “As cidades no neorrealismo italiano: ressignificações do espaço
urbano”, Mauricio Caleiro investiga como o neorrealismo italiano, um movimento
cinematográfico pós-Segunda Guerra Mundial, utilizou a cidade como um
personagem ativo nas narrativas cinematográficas. O autor observa que,

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12 albuquerque: revista de história - v. 16, n. 32, ago. - dez. 2024 I e-issn: 2526-7280

através das lentes do neorrealismo, o cinema retrata as dificuldades sociais e
econômicas do período, utilizando o espaço urbano não apenas como um fundo
para a ação, mas como um reflexo das tensões e das contradições da sociedade
italiana. Nesse contexto, a cidade, com suas ruínas e dificuldades, é uma metáfora
para os desafios da reconstrução social e política que o país enfrentava. O
cinema neorrealista, assim, se torna uma ferramenta de reflexão crítica sobre
as condições de vida das classes populares, oferecendo uma representação
honesta e, muitas vezes, dolorosa da realidade urbana.

O dossiê também traz o artigo “Os Heróis Anônimos na construção da capital
federal: uma análise de Brasília segundo Feldman (Vladimir Carvalho, 1979)”, de
Aline Carrijo e Carolinne Mendes da Silva, que analisam a construção da cidade de
Brasília através do olhar do cineasta Vladimir Carvalho, revelando as complexas
dinâmicas de poder e resistência que permearam a criação da capital do Brasil.

No artigo “Meia-Noite em Paris, um filme para a história”, Roberto Abdala
Junior, faz uma análise reflexiva sobre o filme dirigido por Woody Allen. O autor
destaca como o filme combina elementos de nostalgia, magia e cultura literária
para criar uma obra que transita entre o passado e o presente, utilizando Paris
como uma espécie de portal temporal.

Em uma abordagem mais voltada para a adaptação literária, o artigo “Um
estudo sobre o naturalismo em Thérèse Raquin, de Émile Zola, e a sua transposição
midiática contemporânea para a adaptação Em Segredo”, de Kassandra Naely
Rodrigues dos Santos e Milena Hoffmann Kunrath, analisa como o naturalismo
presente na obra de Zola é reinterpretado no cinema contemporâneo. As
autoras destacam como a relação entre o indivíduo e o espaço social, central
no naturalismo, é adaptada para as telas, refletindo a tensão entre as condições
sociais e as escolhas pessoais. O filme Em Segredo torna-se, assim, uma
transposição do drama original para um contexto moderno, mantendo as questões
de classe, destino e violência, enquanto propõe uma nova leitura da obra à luz das
relações urbanas contemporâneas.

O artigo “Jean-Luc Godard e o controle do presente: Alphaville, une étrange
aventure de Lemmy Caution
(1965)”, de Rafael Alves Pinto Junior, oferece uma
análise crítica sobre como Godard manipula o espaço urbano futurista para
discutir questões de controle social, tecnologia e alienação. Através da cidade de
Alphaville, um lugar distópico e mecanizado, Godard questiona as possibilidades
de transformação social através da arte e do cinema, usando a cidade como

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13 albuquerque: revista de história - v. 16, n. 32, ago. - dez. 2024 I e-issn: 2526-7280

uma metáfora para as tensões políticas e culturais do momento. O autor observa
que, em Godard, o espaço urbano não é apenas uma representação de um futuro
tecnológico, mas uma reflexão crítica sobre a natureza do controle social e da
liberdade individual, algo que ressoa com as questões da modernidade e da
globalização contemporânea.

A comparação entre visões utópicas e distópicas da cidade é o foco do
artigo “Utopias e distopias urbanas nas telas do cinema: Metropolis e Blade
Runner”, de Marcos Antônio de Menezes. Ao analisar esses dois filmes, o autor
propõe uma reflexão sobre como o cinema constrói diferentes versões do futuro
urbano, seja através da opressão e da desumanização em Metropolis ou da
distopia tecnológica e ambiental em Blade Runner. Ambos os filmes oferecem
críticas sociais profundas, questionando o impacto da industrialização e da
tecnologia sobre as relações humanas e o espaço urbano. Através dessa análise
comparativa, o texto enfatiza como o cinema pode ser uma ferramenta poderosa
para explorar as tensões entre o progresso e seus custos, ao projetar visões de
futuro que servem como advertências para as sociedades contemporâneas.

Essa edição da albuquerque: revista de história traz, ainda, uma série
de artigos, uma análise crítica e uma resenha que abordam questões sociais,
históricas e culturais relevantes.

O artigo de Jesús Javier Mejias Díaz, “As mãos que devem comunicar o
movimento: problemas que cercam a força de trabalho manufatureira no setor
de aprendizagem de artes e ofícios em Havana, 1839-1849”, oferece uma reflexão
sobre as condições de trabalho e as dinâmicas de aprendizagem no contexto
histórico de Havana, destacando as desigualdades e desafios enfrentados pelos
trabalhadores artesanais da época.

Em “Quilombos no Brasil imperial: uma análise historiográfica sobre resistência
e lutas sociais”, César Henrique de Queiroz Porto, Luiz Gustavo Soares Silva e Anna
Flávia Rodrigues Dias discutem a resistência quilombola como uma estratégia de
luta pela liberdade no Brasil imperial, reforçando a importância desses espaços
de resistência na construção da identidade e da história do país.

O artigo de Janete Andrade de Lima e Vera Lúcia Ferreira Vargas Cesco,
Estudantes indígenas no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, campus
Aquidauana: um estudo de caso” aborda as dificuldades e desafios enfrentados
pelos estudantes indígenas no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, Campus
Aquidauana, destacando a importância da adaptação institucional para garantir a

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14 albuquerque: revista de história - v. 16, n. 32, ago. - dez. 2024 I e-issn: 2526-7280

inclusão e a valorização das culturas indígenas. A pesquisa ressalta a necessidade
de políticas educacionais que respeitem as especificidades desses estudantes,
promovendo um ambiente mais inclusivo e acolhedor.

Carmem Lúcia Sussel Mariano e Aguinaldo Rodrigues Gomes problematizam
como o neoliberalismo, ao priorizar a competitividade e a eficiência, redefine
a “qualidade” na educação básica, muitas vezes ignorando as desigualdades
estruturais que marginalizam certos grupos sociais. A análise crítica destaca que,
ao adotar uma visão de educação centrada no mercado, as políticas neoliberais
aprofundam a exclusão e comprometem a efetividade do sistema educacional
para as populações mais vulneráveis.

No Caderno Especial, “Quem tem medo de Madonna?”, Antonio Ricardo Calori
de Lion analisa a figura de Madonna como um ícone cultural, destacando a relação
entre sua imagem pública e o impacto de seu ativismo social, cultural e político.

A tradução de Rafael Morato Zanatto do texto “A emergência e
desenvolvimento da justiça transicional como campo de pesquisa e de aplicação
prática”, de Thomas Fischer, explora a evolução da justiça transicional, um campo
que visa tratar as violações de direitos humanos em contextos de transição
política, como em períodos pós-conflito ou após regimes autoritários. Nele
há o destaque sobre como a justiça transicional tem se consolidado, tanto na
teoria quanto na prática, como uma ferramenta fundamental para promover a
reparação das vítimas, a reconciliação social e a consolidação da democracia. A
pesquisa enfatiza a complexidade desse processo e os desafios enfrentados na
implementação de políticas efetivas que busquem justiça, verdade e reparação
de maneira equitativa e sustentável.

Na seção Resenhas, a primeira delas traz o livro de Maria Leda Martins, que
reflete sobre as “temporalidades, negritude e a noção de corpo”, resenhado por
Maria Eduarda Durães Martins. Como a autora aponta no próprio título de seu
trabalho, o tema central é o “corpo e ancestralidade no tempo que transmuta, recria
e se iguala em diferença” apontando os “ensinamentos a partir de performances
do tempo espiralar”.

Finalmente, na resenha do livro “A construção histórica da abjeção racista
no Brasil”, Cassio Rodrigues da Silveira apresenta a reflexão crítica de Berenice
Bento sobre as raízes do racismo no Brasil e como ele se manifesta nas estruturas
sociais e culturais, incluindo suas repercussões no cinema e na sociedade em
geral, proporcionando uma análise profunda das dinâmicas de abjeção racial.

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15 albuquerque: revista de história - v. 16, n. 32, ago. - dez. 2024 I e-issn: 2526-7280

No contexto de albuquerque: revista de história, estes textos permitem
uma reflexão profunda sobre a relação entre história, cinema e cidade, sobre as
mediações culturais, as tensões sociais e as opressões ainda presentes em nossas
sociedades, destacando a formação das identidades urbanas e a construção das
narrativas históricas e políticas que moldam o nosso entendimento do mundo
contemporâneo.