O cinismo filosófico e o fenômeno do inter-humano em "O Espelho" de Machado de Assis

uma leitura do conto machadiano a partir do conceito de Forma de Witold Gombrowicz

  • Edelberto Pauli Júnior UFMS/CPAQ

Abstract

No conto “O Espelho” de Machado de Assis (1839-1908) o protagonista Jacobina adota uma forma que lhe é imposta pelos outros e pelas circunstâncias a ponto de se tornar refém de sua “alma exterior”. Ele é, portanto, uma criação inter-humana, de tal maneira que, ao ficar completamente só, o protagonista percebe seus sentimentos e pensamentos se esvaírem à medida que se dá a perda gradativa de sua alma externa. Esta ruptura com a sua outra metade é que dá o tom misterioso da história. A propósito, o sobrenatural e sobre-humano no conto, ou seja, o “superior” do mundo já não diz respeito ao Deus da Igreja nem tampouco ao homem, mas nasce da mútua relação dos homens entre si de onde surgem novos ídolos imprevisíveis e ainda mais terríveis. Para pensar o tema, recorremos ao conceito de forma que pode ser brevemente definida como “exteriorização de um modo de ser” (GOMBROWICZ, 2010, p. 14), noção que foi retirada da obra de Witold Gombrowicz (1904-1969), escritor polaco que, assim como os filósofos cínicos relembrados por Machado no decorrer de seu conto, dedicou-se a pensar a interdependência dos valores sociais na constituição da subjetividade humana.

Published
2025-11-18