Vingança silenciosa

a dissimulação em “O barril de Amontillado”, de Edgar Allan Poe

  • Paloma Bispo de Angelis UFMS/CPTL

Abstract

A dissimulação do protagonista no conto “O barril de Amontillado” (1846), de Edgar Allan Poe, faz com que a vingança narrada seja construída sob uma crueldade lenta e silenciosa. Dessa forma, este trabalho, utilizando-se de uma revisão bibliográfica, tem como objetivo analisar a arquitetura narrativa utilizada pelo autor, associada aos conceitos apresentados em seu ensaio “A Filosofia da Composição” (1846), e identificada nas atitudes do assassino para enganar sua vítima, valendo-se de seu próprio ego para convencê-la a seguir pelo caminho que o levará a morte. Ele não simula sua intenção, entretanto, dissimula o porquê de suas ações, por meio de um discurso irônico, ambíguo e cifrado. Assim, faz uso da vaidade e do orgulho de sua vítima como trunfos para a concretização da vingança. O conto de Poe move-se de traz para frente, ou seja, anuncia no primeiro período da narrativa, um plano de vingança, o que demonstra o epílogo constantemente em vista. Além disso, observa-se a ambiguidade e a duplicidade que indicam, segundo Piglia, a construção de duas histórias, a partir do visível e do secreto. Outro ponto importante do conto, baseando-se nas observações de Cortázar, é a reflexão sobre as experiências humanas, que leva a questionamentos sobre a capacidade do ser humano de agir de forma traiçoeira e perversa. Assim, ao verificar as marcas do silêncio que iluminam a crueldade de Montresor, constata-se que o protagonista ressentido usa diversas artimanhas para se vingar, cumprindo a tradição familiar de não deixar injustiças, sejam elas quais forem, impunes.

Published
2021-12-23