FILOSOFIA DOS CÃES E LITERATURA PICARESCA: do cinismo filosófico ao cinismo vulgar

  • Edelberto PAULI JÚNIOR UFMS/CPAQ
Palavras-chave: Picaresca. Sátira menipeia. Cinismo filosófico e vulgar

Resumo

Seguindo a perspectiva aberta pelo Renascimento em seu afã de adaptar as filosofias pagãs ao mundo cristão, podem-se notar traços da filosofia cínica na prática literária de alguns escritores e intelectuais espanhóis dos séculos XVI e XVII. No período, a aproximação com a filosofia dos Cães se dá por meio da sátira menipéia, gênero literário que, ao misturar o sério e o cômico, acaba sendo o precursor do romance pícaro. Como o próprio nome indica, este tipo de sátira tem sua origem nos discursos cínicos de Menipo de Gadara (da primeira metade do século III a.C.), que recebe o crédito de ter inventado a menipéia. Menipo é o mais famoso cínico da Grécia antiga depois de Antístenes, Diógenes e Crates. Para analisar a questão, este estudo toma como referência o romance anônimo Lazarillo de Tormes (1554), primeira obra de ficção do gênero picaresco a ser produzida na Espanha. Embora haja uma influência da menipéia na constituição da picaresca, este artigo pretende mostrar como o romance pícaro acaba por inverter os valores do cinismo antigo de modo a substitui-lo pelo cinismo vulgar ou cinismo mundano, forma moderna do cinismo que sacrifica tudo o que é ético pela busca da ascensão social.

Biografia do Autor

Edelberto PAULI JÚNIOR, UFMS/CPAQ
Mestre em Letras (USP) e Professor Assistente do Curso de Letras do Campus de Aquidauana (CPAQ/UFMS). Coordenador do Projeto de pesquisa A presença do cinismo e do estoicismo na literatura espanhola dos séculos XVI, XVII e XVIII.

Referências

ANÓNIMO. Lazarillo de Tormes. In: VALBUENA Y PRAT, Á. La novela picaresca. Madri: Aguilar, 1966. p. 83-111.

ANTONIO CORONEL, M. “Estructuras satíricas en los relatos picarescos”. In: VAÍLLO, C.; VALDÉS, R. (Eds.). Estudios sobre la sátira española en el siglo de oro. Madri: Castalia, 2006.

ARISTÓTELES. Poética. Edición trilíngue. Tradução de. Valentín García Yebra. Madri: Gredos, 2010.

GOULET-CAZÉ, M.-O.; BRANHAM, B. (Orgs.). Os Cínicos: o movimento cínico na Antiguidade e o seu legado. Tradução de Cecília Carmargo Bartalotti. São Paulo: Loyola, 2007.

LÓPEZ GRIGERA, L. “Aristóteles e a arte da jácara”. In: LÓPEZ GRIGERA, L. Anotações de Quevedo à Retórica de Aristóteles. Tradução de Cássio Borges. Campinas: Unicamp, 2008.

LUCIANO. Diálogo dos mortos. Tradução de Maria C. C. Dezotti. São Paulo: Hucitec, 1996.

LUCIANO. Obras. Obra completa. Madrid: Editorial Gredos, 1997.

MARTÍN GARCÍA, J. A. Los filósofos cínicos y la literatura moral serioburlesca. Madri: Akal, 2008.

ONFRAY, M. Cynismes: Portrait du philosophe em chien. Paris: Grassey et Fasquelle, 1990.

Publicado
2015-08-18