Caminhos Migrantes: identidade, matrimônio e memória

  • Eliene Dias de Oliveira

Resumo

Esse artigo é parte da pesquisa de doutorado “À procura de um norte: migração e memória de nordestinos em Coxim MT/MS (1958-1996)” (UFGD/Brasil) e tem como ideia basilar a análise dos silêncios, interditos e não ditos nas narrativas de migrantes oriundas da região Nordeste do país que vivem na cidade sul-mato-grossense de Coxim. Para essa problematização serão analisadas as narrativas de duas migrantes, denominadas pela autora como Sra. Joana e Sra. Rosa, enfocando a figura do marido e do matrimônio como elementos-chave na construção da leitura de suas trajetórias e de identidades que se forjam na relação tensa com o Outro. Logo, nas intricadas teias forjadas entre o ontem e o hoje, entre os lugares sociais de mulher casada, separada ou viúva, desvela-se a complexidade das relações sociais presentes no viver das narradoras.  A viuvez “inventada” e o calar-se em relação à separação dos antigos companheiros não são percebidas como inverdades, uma vez que “Toda narrativa é sempre e inevitavelmente construção, elaboração, seleção de fatos e impressões”(B. MEIHY, 2006-153). Ao contrário, tais elementos podem ser percebidos a partir das relações de poder e das representações que se reafirmam historicamente em discursos e práticas, trazendo novos dimensionamentos ao papel exercido pelos sujeitos. Logo, a representação de si como viúva, a não assunção da condição de separada, os silêncios, as olvidações e as ocultações remetem aos meandros da memória, à forma como se permitem serem lidas e aos processos de subjetivação dessas mulheres.

Publicado
2017-03-15
Seção
Volume 4, número 6