A Neve das PalAVRAS

  • Maria João Cantinho Faculdade de Letras de Lisboa
Palavras-chave: Poesia; Celan; História; Linguagem; Rememorar.

Resumo

Este artigo quer ler a vida de Paul Pessakh Antschel – nome verdadeiro de Celan.  Paul Antschel muda o seu nome de Antschel para o anagrama Celan, que viria a conservar ao longo de toda a sua vida. As leituras de Marx e Nietszche, a par da poesia alemã, sobretudo Hölderlin e Rilke, mas também Goethe e Schiller, Heine, Trakl, Kafka, Hofmannsthal, entre outros, desenvolveram no poeta um gosto pela política e simultaneamente pela literatura. Música e morte entretecem-se, na poesia de Celan, evocando a atmosfera lírica de Schubert – A Morte e a Donzela - ou de Mahler, de Brahms e do Requiem Alemão, numa tentativa de harmonizar a mais dolorosa e insustentável vivência. Celebração, não da morte, mas daqueles que pereceram nos campos de morte, sob as condições mais desumanas que é possível imaginar-se e a dilaceração surge, de forma sublime, no poema “Fuga da Morte”. No poema “A morte é uma flor”, Celan alegoriza a morte através da imagem de uma flor, uma flor que “só abre uma vez”. Trata-se de um mundo de uma beleza terrível, onde os mortos “brotam e florescem”. Morrem para a vida, florescendo para a linguagem poética, a única capaz de resgatar a experiência do horror, pela via da rememoração. Rememorar a experiência vivida deve ser entendido como o gesto que simultaneamente leva a cabo a destruição dos elos orgânicos e, contrariamente, encerra em si uma pretensão redentora, essa a verdadeira finalidade da poesia de Celan.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Maria João Cantinho, Faculdade de Letras de Lisboa

Maria João Cantinho é doutora em filosofia, jornalista e escritora, poeta. É membro integrado do Centro de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa (desde 2012) e Membro Associado do Collège d’Études Juives et de Philosophie Contemporaine,  Membro da Direcção do Pen Clube Português, da APE (Associação Portuguesa de Escritores) e da APCL (Associação Portuguesa de Críticos Literários). Publicou várias obras de Ficção, Poesia e Ensaio. É autora de : A Garça, editora Diferença, Leiria, 2001 ; Abrirás a Noite com um Sulco,editora Hugin, Lisboa, 2002 ; O Anjo Melancólico, editora Angelus Novus, Coimbra, 2003 ; Sílabas de Água, editora Ver-o-Verso, Porto, 2005.

Referências

ADORNO, Theodor. Teoria Estética. Lisboa: Edições 70, [19--].

ADORNO, Theodor. Notes sur la Littérature. Paris: Ed. Flammarion, 1984.

AGAMBEN, Giorgio. Quel che resta di Auschwitz. Turim: Bollati Boringhieri, 1998.

BLANCHOT, Maurice. Le Dernier à Parler. Montpellier: Fata Morgana, 1984.

CELAN, Paul. Arte Poética. O Meridiano e Outros Textos. Tradução de João Barrento. Lisboa: Ed. Cotovia, 1996.

CELAN, Paul. Sete Rosas mais Tarde. Tradução de Yvette Centeno e João Barrento. Lisboa: Edições Cotovia, 1993.

CELAN, Paul. A Morte é uma Flor. Tradução de João Barrento. Lisboa: Edições Cotovia, 1998.

DERRIDA, Jacques. Schibboleth pour Paul Celan. Paris: Ed. Galilée, 1986.

FELSTINER, John. Paul Celan. Poet, Survivor, Jew. Yale: Yale University Press, 1995.

LACOUE-LABARTHE, Phillippe. La poésie comme Expérience. Paris: Christian Bourgois, 1986.

Revue Europe, n. Janvier- Février, Paris, 2001.

Publicado
2020-01-11
Como Citar
CANTINHO, M. J. A Neve das PalAVRAS. albuquerque: revista de história, v. 11, n. 21, p. 9-25, 11 jan. 2020.