A FOME TEM CORPO SOCIAL E POLÍTICO

ESTRELA(S) DA EXTERIORIDADE

  • Marina Noronha Universidade federal de Mato Grosso do Sul
  • Edgar Cézar Nolasco UFMS

Resumo

O artigo propõe uma discussão teórica sobre a presença da fome como uma ferida colonial consequência de uma injustiça social, política e epistêmica damatriz colonial de poder. Nesse sentido, o diálogo efetuado é construído a partir do corpo epistêmico fronteiriço entendendo que tal corpo esbarra no projeto da modernidade. O corpo fronteira é um corpo que (re)significa formas de ser e estar no mundo por estar apoiado em seu lócus de enunciação, a fronteira-sul, com sua própria história e memória subalterna latinas. Tais afirmações críticas serão desenvolvidas sob a égide da crítica biográfica fronteiriça (NOLASCO, 2015) por nos ajudar a pensar melhor a partir de uma teorização fronteiriça que está em contraposição às imposições de pensamentos teóricos e conceituações modernas. Logo, no âmbito das políticas sociais internas, nunca alcançaram as necessidades dos corpos e lugares da exterioridade, dos sujeitos da diferença que continuam não contemplados. Nesse caso, o trabalho pautado na teorização fronteiriça e nos conceitos de “corpo fronteira”, “ferida colonial”, “exterioridade” e a “fome” consiste em tratar a ferida colonial presente nos corpos e lugares não lembrados pelos projetos hegemônicos. Ainda como desdobramento crítico a partir da teorização em reflexão conta com a obra A hora da estrela (2020), de Clarice Lispector, por encenar na narrativa do livro um corpo fronteiriço e faminto como o de Macabéa, e que pode ser entendidos como retrato de muitos outros corpos pensados de dentro do próprio Brasil, corpos de “uma subclasse de gente mais perdida e com fome” (LISPECTOR, 2020. p. 30), iguais àquelas gentes com fome amarela, sentida repetidas vezes por Carolina Maria de Jesus.

Referências

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Publicado
2023-09-06