SOBRE FÉ E SENTIDO, ENUNCIAÇÃO E ÉTHOS NO DISCURSO DE HOMILIAS
Resumo
Neste trabalho, cujas observações derivam de pesquisa ainda em fase inicial, emoldura-se uma reflexão linguístico-discursiva acerca da homilia, definida como uma conversa de caráter proximal, marcada por certo aspecto de familiaridade. Ao evidenciá-las emergem alguns questionamentos: como ocorre a projeção das categorias de pessoa, tempo e espaço (em especial, a primeira) no discurso dos homiliastas? A partir do exame de enunciados pertencentes a esse discurso, qual estilo poderia ser depreendido por meio do estudo desse corpus composto por homílias? Quais seriam os recursos do sistema retórico, bem como as figuras e temas presentes nesse discurso? Como quadro teórico referente à enunciação, empregam-se as concepções de Benveniste (1988; 1989) e os desdobramentos em torno delas de Fiorin (2000; 2001); as relativas à conceituação de tema e figuras de Barros (2005); e as pertinentes aos estudos sobre éthos e estilo de Discini (2004; 2008) e Maingueneau (1995). Quanto aos fundamentos sobre homilias, encontra-se respaldo em documentos da liturgia da Igreja Católica, como a Sacrosanctum Concilium, e em contribuições advindas de estudiosos da área, como Trudel (2015) e Biscontin (2015). Como objetivo geral, tenciona-se investigar os desdobramentos das categorias enunciativas e, de modo particular, a organização e o delineamento dos índices de pessoa e seus efeitos de aproximação e distanciamento nas homilias. A partir desse propósito, objetiva-se especificamente: a) abordar a noção de estilo e a operacionalização da noção de éthos, depreendida de uma totalidade; b) discutir a relação dos recursos retóricos, enquanto mecanismos de persuasão e demonstração do caráter do orador; e c) examinar como os procedimentos de tematização e figurativização articulam-se no discurso homilético. Quanto aos procedimentos metodológicos, optou-se por realizar um estudo qualitativo acerca do corpus, o qual será composto por 24 homílias coletadas por meio de gravações em áudios em nove comunidades católicas pertencentes à Paróquia Nossa Senhora de Fátima, situada no município de Campo Grande/MS. Ressalta-se que tal estudo investigará a totalidade discursiva de três padres atuantes nos locais da coleta de dados. A pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental contribuirão no desenvolvimento do trabalho, ao colaborar na montagem do arquivo referente ao objeto de estudo. Destaca-se que este estudo justifica-se pela carência de propostas que abordem o discurso homilético pelo viés linguístico-discursivo, a fim de lançar um olhar que focalize a linguagem eclesial e seus desdobramentos, sem perder de vista os efeitos de sentido nele construídos.
Referências
BARROS, Diana Luz Pessoa. Teoria Semiótica do Texto. São Paulo: Ática, 2005.
BENVENISTE, Émile. O aparelho formal da enunciação. In: Problemas de Linguística Geral II. Trad. E. Guimarães et al. Campinas: Pontes, 1989.
______. O homem está na língua. In: Problemas de Linguística Geral I. Trad. M. G. Novak e L. Neri. 3ª Ed. Campinas: Pontes: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1991, p. 247-315.
BERTRAND, Denis. Caminhos da semiótica literária. Bauru, SP: EDUSC, 2003.
BISCONTIN, Chino. Pregar a palavra: A ciência e a arte da pregação. Brasília: Edições CNBB, 2015.
DISCINI, Norma. O estilo nos textos: história em quadrinhos, mídia, literatura. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2004.
______. Ethos e estilo. In: MOTTA, Ana Raquel; SALGADO, Luciana (orgs.). Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 33-54.
FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação. São Paulo: Editora Ática, 2001.
______. Linguagem e Ideologia. 7ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2000.
MAINGUENEAU, Dominique. O contexto da obra literária. Trad. Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
RUPOLO, Iraní. Espiritualidade e valores franciscanos: contribuições para a educação. Revista Vidya, Santa Maria, v. 29, n. 2, p. 9-18, jul/dez. 2009.
SACROSANCTUM CONCILIUM. Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. Paulus: São Paulo, 1997.
TRUDEL, Jacques. Homilia: formação e arte de comunicar. São Paulo: Paulus, 2015.
Autores que publicam neste periódico concordam com os seguintes termos:
1. Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
2. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).