SÉCULO XXI: A REPRESENTAÇÃO IDENTITÁRIA DO SUJEITO SURDO A PARTIR DOS EFEITOS DE SENTIDO DOS DISCURSOS DAS LEIS DE INCLUSÃO
Resumo
Objetivamos analisar e interpretar os efeitos de sentido dos discursos materializados nas leis de inclusão, a fim de problematizar a representação identitária dada ao sujeito surdo nas condições de produção do Século XXI (PÊCHEUX,1997), ao incluí-lo numa sala de aula do ensino regular e tratá-lo em condições de igualdade perante os sujeitos ouvintes. Para isso, delimitamos o corpus de análises a partir dos recortes dos enunciados materializados nos discursos do artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil (1988), os artigos 2º, 5º e inciso II da Resolução de número 2, do Conselho Nacional de Educação, da Câmara de Educação Básica, de 11 de setembro de 2001 e no parágrafo único da lei 10436/02. A hipótese da pesquisa decorre do princípio de que os discursos investigados são já ditos marcados em outro momento, porém ressignificado sob a exigência social de uma nova ordem, pois nos silenciamentos discursivos há regularidades que nos conduzem à interpretação de “normalidade”, unificação de pessoas. Nesse sentido, conjecturamos que a inclusão discursivizada promove a exclusão velada, pois ao negar a diferença, nega também ao sujeito surdo a condição de equidade, tornando-o submisso a um sistema educacional impositivo que o põe numa condição de subalternidade diante aos demais estudantes ouvintes, pois ao determiná-lo dependente de um profissional intérprete, segrega-o em um ambiente onde há várias pessoas se comunicando, porém, a ele foi lhe imposto uma comunicação unilateral, uma posição de sujeito observador, recebedor de informações prontas e decodificadas, tolhindo sua autonomia e negligenciando a sua governamentalidade (FOUCAULT,1998), a partir de discursos institucionalizados determinado pelos Aparelhos Ideológicos de Estado (ALTHUSSER, 1985). Entendemos que por trás dessa homogeneização discursiva, há a não aceitação da surdez, o qual subestima a capacidade do sujeito surdo de se autogovernar e, por isso, tenta aculturá-lo ao modelo ouvintista, negando-lhe a identidade surda. Como teóricos lentes buscamos em Althusser (1985) o conceito de ideologia e sujeição vinculados a reprodução das relações de produção, Pêcheux (1997) ao abordar sujeito, condições de produção, ideologia e discurso, Foucault (1998) ao contrapor Althusser (19885) ao tratar de governamentalidade, formações discursivas, saber e poder nas relações sociais e Hall (2005) para aprofundarmos sobre a questão da identidade e outros teóricos apresentados nas referências bibliográficas.
Referências
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado. 3º ed. Trad. Maria Laura de Castro. Rio de Janeiro, Graal, 1987.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução de Roberto Machado. 8ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1989.
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ORLANDI, E.P. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis: Vozes, 1996.
____________. Maio de 1968: os silêncios da memória. In: ACHARD, P. et al. Papel da memória. Campinas: Pontes, 1999.
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PERLIN, G. T. T. Identidades surdas. In: SKLIAR, C. (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.
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