Dobras e redobras na ficção de Marques Rebelo

  • Mariângela Alonso USP/DTLLC
Palavras-chave: Marques Rebelo, O espelho partido, mise en abyme, dobras

Resumo

Partindo da noção de mise en abyme formulada pelo teórico suíço Lucien Dallenbach (1977), este estudo percorre o desdobramento das personagens femininas da trilogia de O espelho partido, de Marques Rebelo. Embora a forma encontrada por Marques Rebelo para escrever as confissões do personagem Eduardo na trilogia tenha sido a do diário, a narrativa não chega a ser um exemplo do gênero, como também não se define em romance, conto, crônica ou poesia. Ao modo de um mosaico, elementos desses diferentes gêneros retratam uma vida e um tempo em estilhaços. As mulheres abordadas trazem imagens de dobras ou jogos de espelhos, ao modo das bonecas russas, que se refletem mutuamente na literatura rebeliana. Estas personagens revelam-se deslocadas em um cotidiano alienante, com caracterizações duplicadas a cada episódio, realçando desde Oscarina, obra de estreia do autor, um traçado que culminaria em O espelho partido. A fatura espelhada favorece o diálogo com as formulações de Gilles Deleuze, sobretudo com A dobra (1991), em que a partir da filosofia de Leibniz, apresenta o conceito de dobra como multiplicidade, que viabiliza invenções e criações de diferentes formas de relação do homem consigo mesmo e com o mundo. Essa concepção permite o entendimento de que os corpos são dobras no interior de dobras, estabelecendo um todo inseparável em que se manifestam as dobras enquanto objetos e coisas distintas. Em linhas gerais, buscamos um caminho possível de análise da obra em questão, guiando-nos pelos estudos de Lucien Dallenbach (1977), Gilles Deleuze (1991), entre outros. 

Biografia do Autor

Mariângela Alonso, USP/DTLLC

 Professora do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Doutora em Estudos Literários pela UNESP. Pós-doutorado em Literatura Brasileira pela USP.

Publicado
2021-12-23