« Jouir de la foule est un art »

a representação da multidão em Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire

  • Thaís de Carvalho Eduardo UNESP – FCLAr
Palavras-chave: Poe, Baudelaire, multidão, flâneur, flânerie

Resumo

É mister e indiscutível a importância de Edgar Allan Poe para obra de Charles Baudelaire. Todavia, apesar da troca de valores entre ambos, explicitada por Valéry (2011), encontramos representações do mesmo tema que os distanciam. Neste trabalho, visamos analisar a representação da multidão através do olhar do caminhante do conto poeano O homem da multidão e do flâneur no poema em prosa As multidões de Baudelaire, à luz da obra teórica de Walter Benjamin, Sobre alguns motivos na obra de Baudelaire. Segundo Benjamin (2019), a cidade descrita por Poe não era de seu tempo, pois a verdadeira Londres do século XIX dificultaria a flânerie pela imersão no processo industrial, contudo, o autor norte-americano recria um universo urbano possível no espaço circunscrito da rua de modo a representar através da inquietação do homem da multidão, a fragmentação da vida moderna. Já o flâneur baudelairiano é um obsessivo na tarefa de retratar o transitório intensificado pela reforma urbana parisiense. Enquanto o convalescente caminhante de Poe persegue obsessivamente a personagem nas estreitas ruas de Londres, descreve as figuras da multidão como transeuntes adaptados aos choques das grandes cidades. Em contrapartida, o flâneur de Baudelaire, flana pelos largos boulevards de Paris representando liricamente a transitoriedade através dos choques causados pelas multidões urbanas que ora, o fascinam e ora, o distanciam de maneira ambivalente. Assim, através da estética dos choques, podemos concluir que a vivência urbana da multidão poeana segue um ritmo autômato, enquanto o flâneur mergulha nos choques elétricos da multidão para experienciá-la liricamente.

Publicado
2021-12-23