O PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO NO SÉCULO XIX: A CONSTRUÇÃO DO PRECONCEITO RACIAL

  • Gislaine Martins Leite Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Resumo

O século XIX é um período fundamental para se compreender a organização social e a identidade brasileira. Esse século, palco de inúmeras transformações mundiais significativas, sediou a gênese da história nacional que começa a ser pensada após a independência. Pensar nas mazelas sociais e no preconceito existente hoje em nosso país requer debruçarmos sobre essas questões históricas que nos remetem a uma compreensão problematizada e reveladora dessa construção de valores que exclui e diferencia-nos como indivíduos. A História brasileira iniciada nas primeiras décadas do século XIX e o discurso nacional implantado na segunda metade do século foram construídos por membros da elite brasileira, formada por intelectuais que buscavam modernizar e definir o rumo que a nação brasileira deveria seguir, intitulados “homens da ciência” eram fortemente influenciados pela visão eurocêntrica do período, grande responsável pela característica excludente da nossa sociedade. A dominação oligárquica que se estendeu pelo século XIX foi decisiva para a manutenção da escravidão até 1888, pois, para os membros da elite brasileira que influenciava e controlava diretamente a política, as leis e a economia, a mão de obra escrava era necessária ao desenvolvimento do Brasil. Foi essa mesma elite que fundou em 1838 o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o IHGB, com formação na sua maioria realizada na Europa, mais predominantemente em Portugal, esses homens eruditos, tinham com a Europa forte ligação e admiração, modelo de desenvolvimento e civilidade, esse continente inspirou nossos intelectuais a adotarem padrões europeus e aplicá-los aqui. As teorias raciais, que serviram como referencia para o fortalecimento das nações europeias foram utilizadas se encaixando com a realidade brasileira que era bem diferente da Europa, com uma grande população negra e mestiça o Brasil não poderia adotar estritamente as teorias raciais pessimistas ao desenvolvimento da civilização nacional, logo, todo esse pessimismo racial foi convertido para uma interpretação progressista típica da época, que encara a miscigenação não como degradação, como era defendida pelos teóricos europeus e sim como “solução de um problema racial”, onde o branqueamento traria o fim de uma raça indesejada e inferior. Assim, esses intelectuais que estavam à frente do projeto de fortalecimento da identidade nacional hierarquizaram a sociedade brasileira através da raça, introduzindo um pensamento pessimista e excludente para à população não branca do país, construindo o preconceito racial no Brasil.

Palavras-chaves: Pensamento social brasileiro, intelectuais do século XIX, teorias raciais, miscigenação.

Biografia do Autor

Gislaine Martins Leite, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Graduação em licenciatura em História pela UFMS e aluna de Pós-Graduação também pela UFMS.

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Publicado
2016-08-04