O DISCURSO FREUDIANO E O SEU DUALISMO EPISTÊMICO-METODOLÓGICO
o problema da querela dos métodos em psicanálise
Resumo
O dualismo epistêmico-metodológico característico do discurso freudiano sempre foi objeto de controvérsia no cerne da reflexão filosófica que se ocupou da psicanálise. Desde então, surgiram dois tipos de leituras com enfoques distintos e por vezes excludentes: uma leitura hermenêutica com ênfase na clínica freudiana e na técnica de interpretação dos fenômenos psicológicos; outra com um viés naturalista, considerando a metapsicologia como uma “metáfora psicológica” que poderia ser inteiramente substituída por uma linguagem afinada com as ciências naturais e com o avanço das pesquisas neurobiológicas. Nosso estudo defende que estas leituras produziram uma mutilação no âmago do discurso freudiano, e propõe que a especificidade deste reside numa articulação entre os registros naturalista e do campo da linguagem, argumentando que a problemática inaugural da psicanálise incide sobre as interações entre o sistema nervoso e o psíquico, constituindo o campo psicanalítico na interseção entre a biologia e a cultura.
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