DOS ASSÉDIOS - O MORAL

A #ONDEDÓI E A VIOLAÇÃO DOS CORPOS FEMININOS NO ESPAÇO CLÍNICO

Resumo

Este trabalho tem por objetivo problematizar, sob os pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso francesa, em vertente mais alinhada a Michel Foucault, a produção de normatizações pelos espaços clínicos, a partir do que se denomina de assédio moral. De alta projeção midiática, a hashtag reúne depoimentos contra atos cometidos por médicos, principalmente homens ginecologistas, fomentados por uma lógica de naturalização do exercício profissional no espaço clínico. A proposta adquire relevância na medida em que, nos mais diversos âmbitos da sociedade, as mulheres seguem sendo alvo do exercício de múltiplas correlações de força (FOUCAULT, 2018). Nesse sentido, dentre as distintas postagens realizadas na rede social, recortamos as denúncias que dizem respeito aos casos de assédio moral publicados pelas internautas. Considerando as relações de poder-saber (FOUCAULT, 2013) em disputa a respeito da saúde corporal, as formas de agressão que podem acontecer no meio hospitalar são passíveis de permanecerem apagadas e, consequentemente, de seguirem infringindo os sujeitos femininos. Entre as estratégias de controle do dizer propiciadas pelo discurso clínico e a existência das redes sociais enquanto esferas de enunciabilidade, compreendemos que o Twitter pode funcionar como mecanismo de resistência das vítimas aos estereótipos sociais (FOUCAULT, 2016) fortalecidos pelos discursos médicos.

Biografia do Autor

Elaine de Moraes Santos, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Doutora em Letras pela Universidade Estadual de Maringá, docente do Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagens da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e líder do grupo Corpo, Sujeito e(m) Discursividades (político-)midiáticas (SuDiC – CNPq/UFMS).

Referências

BANDEIRA, Lourdes; ALMEIDA, Tânia Mara Campos de. Desafios das políticas e ações em saúde diante da violência contra as mulheres. SER social, Brasília, v. 10, n. 22, p. 183-212, jan./jun. 2008.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal,1988.

CHAVES, Tyara Veriato. Da Marcha das Vadias às vadias da marcha: discursos sobre as mulheres e o espaço. 2015. 145 f. Dissertação (mestrado) Instituto de Estudos da Linguagem − Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2015.

COSTA, Tonia et al. Naturalização e medicalização do corpo feminino: o controle social por meio da reprodução. Interface − Comunicação, Saúde, Educação, v. 10, n. 20, p. 363-80, jul/dez 2006.

FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, Hubert Lederer; RABINOW, Paul. Michel Foucault, uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. Trad. Vera Porto Carrero. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995, p. 231-249.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 7. ed. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.

FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Trad. Eduardo Jardim e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Nau, 2013.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio. 24. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014.

FOUCAULT, Michel. Subjetividade e verdade: curso no Collège de France (1980-1981). Trad. Rosemary Costhek Abílio. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2016.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 8. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2018.

MAGALHÃES, Theresa Calvet de. Violência e/ou política. In: PASSOS, Izabel Christina Friche (Org.). Poder, normalização e violência: incursões foucaultianas para a atualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013, p. 23-40.

SARGENTINI, Vanice Maria Oliveira. A descontinuidade da história: a emergência dos sujeitos no arquivo. In: SARGENTINI, Vanice Maria Oliveira; NAVARRO-BARBOSA, Pedro (Orgs.). Foucault e os domínios da linguagem: discurso, poder, subjetividades. São Carlos: Claraluz, 2004, p. 77-96.

Publicado
2021-06-29