DOS ASSÉDIOS - O MORAL
A #ONDEDÓI E A VIOLAÇÃO DOS CORPOS FEMININOS NO ESPAÇO CLÍNICO
Resumo
Este trabalho tem por objetivo problematizar, sob os pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso francesa, em vertente mais alinhada a Michel Foucault, a produção de normatizações pelos espaços clínicos, a partir do que se denomina de assédio moral. De alta projeção midiática, a hashtag reúne depoimentos contra atos cometidos por médicos, principalmente homens ginecologistas, fomentados por uma lógica de naturalização do exercício profissional no espaço clínico. A proposta adquire relevância na medida em que, nos mais diversos âmbitos da sociedade, as mulheres seguem sendo alvo do exercício de múltiplas correlações de força (FOUCAULT, 2018). Nesse sentido, dentre as distintas postagens realizadas na rede social, recortamos as denúncias que dizem respeito aos casos de assédio moral publicados pelas internautas. Considerando as relações de poder-saber (FOUCAULT, 2013) em disputa a respeito da saúde corporal, as formas de agressão que podem acontecer no meio hospitalar são passíveis de permanecerem apagadas e, consequentemente, de seguirem infringindo os sujeitos femininos. Entre as estratégias de controle do dizer propiciadas pelo discurso clínico e a existência das redes sociais enquanto esferas de enunciabilidade, compreendemos que o Twitter pode funcionar como mecanismo de resistência das vítimas aos estereótipos sociais (FOUCAULT, 2016) fortalecidos pelos discursos médicos.
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