A política das mudanças climáticas e desenvolvimento turístico: evidências a partir de destinos prioritários no Rio de Janeiro
Resumo
As mudanças climáticas correspondem às transformações em escala global que afetam o sistema climático do planeta e que são ocasionadas por fatores naturais e antropogênicos. Essas mudanças têm fomentado estratégias de adaptação e mitigação que buscam fortalecer a resiliência de sistemas socioecológicos. A relação entre mudanças climáticas e turismo é complexa e ambígua, uma vez que a crise climática pode trazer profundas transformações para destinos turísticos, ao mesmo tempo que este setor é um dos principais tributários da pegada global de carbono. Esse estudo indaga quais são as respostas de destinos turísticos na governança dos riscos climáticos, investigando os principais destinos do Estado do Rio de Janeiro, importante portão de entrada do turismo brasileiro e um dos territórios mais vulneráveis a eventos extremos. O objetivo consistiu em analisar a internalização da agenda climática nas políticas de turismo, identificando a percepção de representantes públicos e privados que atuam no setor de turismo. Pretendeu-se levantar as categorias de ações de mitigação e adaptação de riscos existentes e compreender o nível de articulação entre políticas climáticas e de turismo. A pesquisa apresenta finalidade exploratória e descritiva, com abordagem de dados quali-quanti, seguindo quatro etapas de trabalho: revisão de literatura; levantamentos em bancos de dados sobre áreas de risco; análise do conteúdo de políticas públicas; e coleta de dados primários junto a representantes locais do turismo. Os resultados indicam que os principais destinos turísticos do Estado do Rio de Janeiro são os que possuem maior nível de emissões de gases do efeito estufa. Observa-se uma articulação insuficiente entre as agendas climática e turística e, embora as mudanças climáticas sejam percebidas como um risco já existente, há evidências de negacionismo climático no setor turístico dos destinos analisados. As principais preocupações são de ordem econômica e não há clareza quanto às responsabilidades na governança dos riscos.
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