PENSAR A MIMESIS PELA PHYSIS: DESDOBRAMENTOS DA REFLEXÃO DE LUIZ COSTA LIMA

  • Renata Sammer PUC-RJ

Resumo

Este ensaio desdobra a proposta que lhe dá título, “pensar a mimesis pela physis”, isto é, a partir do conceito de physis, examina a teoria da mímesis de Luiz Costa Lima. Como a “imitação”, também aquilo que se “imita” é compreendido de modos diversos ao longo do tempo, portanto também a “natureza” possui uma história (mímesis physeos). Tanto o conceito de mímesis, como o conceito de physis, passam por processos de ressignificação importantes no Renascimento, e, mais especificamente, na passagem do grego para o latim. A fim de desdobrar a proposta do título, este ensaio, inicialmente redigido como comunicação oral, aborda alguns dos escritos de Coetzee, Kafka e Hughes, a fim de confirmar a hipótese de que a mímesis, compreendida como produção de diferença, alinha-se ao sentido antigo do conceito de natureza (physis), mais disposto a reconhecer a constância da metamorfose e a insolubilidade do paradoxo que a instaura (o que faz nascer faz morrer). Em seu sentido moderno a “natureza” é, ao contrário, palco sobre o qual atuam leis, um mundo estável, passível à imitação. Logo, pensar a mímesis pela physis nos escritos selecionados, sugere que seja reconsiderada a rigidez das fronteiras que distinguem os mundos da natureza e de sua “imitação”, os gêneros e as espécies. Assim faz Kafka no conto que escreve da perspectiva de um cão, e que explora a ficcionalidade da fronteira entre as espécies. Desse modo, ao recorrer ao conceito de physis, buscamos iluminar, ainda que incipientemente, os conceitos de mímesis e de ficção.

 

Biografia do Autor

Renata Sammer, PUC-RJ
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) renatasammer@mac.com.

Referências

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Publicado
2018-12-13