Dosagem de anticorpos não treponêmicos em crianças nascidas de mães com diagnóstico de sífilis durante a gestação no período de desabastecimento da penicilina, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, 2015 a 2016

  • Samara Tessari Pires Faculdade de Medicina - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FAMED/UFMS)
  • Caroliny Oviedo Fernandes Faculdade de Medicina - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FAMED/UFMS)
  • Luciana Aparecida da Cunha Borges Faculdade de Medicina - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FAMED/UFMS)
  • Wagner de Souza Fernandes Faculdade de Medicina - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FAMED/UFMS)
  • Everton Falcão de Oliveira

Resumo

A transmissão vertical da bactéria Treponema pallidum durante a gravidez pode levar a desfechos fetais graves, como aborto, óbito fetal e neonatal, nascimento prematuro, baixo peso ao nascer e infecção congênita em recém-nascidos, causando a sífilis congênita (SC). Esta última é a segunda causa infecciosa mais comum de mortalidade neonatal em todo o mundo e uma das principais causas evitáveis de morbimortalidade infantil (KERENROMP et al., 2019), o que representa um grave problema de saúde pública (CARDOSO et al., 2018).

A SC é uma doença infecciosa causada pela disseminação hematogênica da bactéria T. pallidum, que pode ser transmitida via transplacentária da gestante para o feto em qualquer momento da gestação, independente do estágio clínico da doença na gestante, ou por contato direto pele a pele com uma lesão sifilítica vaginal durante o parto (BRASIL, 2020). A transmissão do T. pallidum ocorre principalmente pela via sexual (sífilis adquirida) ou pela via vertical (sífilis congênita) em gestantes não tratadas ou tratadas inadequadamente, seja intraútero ou na passagem do feto pelo canal do parto (BRASIL, 2022; 2020; SONDA et al., 2013).

A SC é classificada em precoce e tardia a depender da idade em que os sinais e sintomas se manifestam: precoce até dois anos de vida e tardia após dois anos (BRASIL, 2019a,b;

 

2020). Entre as manifestações clínicas precoces estão lesões cutâneas, icterícia, hepatomegalia, esplenomegalia, rinite hemorrágica, anormalidades esqueléticas e sintomas inespecíficos, como má alimentação, coriza, congestão nasal e erupção cutânea (BOWEN et al., 2015; BENZA; STANKOVIC, 2015). Nos casos tardios, as crianças podem apresentar defeitos dentários permanentes (dentes de Hutchinson), ceratite intersticial que pode levar a glaucoma ou cicatrizes córneas, perda da audição de alta frequência, nariz em sela, periostite e crescimento excessivo de novos ossos na tíbia, deficiência intelectual e convulsões (PORTER; QURESHI; BENENSON, 2018; BUTTERFIELD, 2014).

O tratamento dos casos de SC é realizado com benzilpenicilina benzatina considerando o tratamento materno durante a gestação e/ou titulação de teste não treponêmico da criança comparado ao materno, que deve ser associado à avaliação clínica e laboratorial da criança (BRASIL, 2019a,b; 2020). Apesar da disponibilidade de outros antibióticos para o tratamento de sífilis em casos de sensibilidade ou resistência medicamentosa, a PGB é essencial para o controle e prevenção da transmissão vertical do T. pallidum (BRASIL, 2020).

Não obstante todas as medidas adotadas pelo Ministério da Saúde e das recomendações da Organização Mundial de Saúde, os casos de SC continuam aumentando. Acredita-se que um dos fatores que contribuiu para o aumento do número de casos de SC após o ano de 2014 foi o desabastecimento global de penicilina benzatina e cristalina, que são as drogas de escolha para tratamento da sífilis nas gestantes e nos recém-nascidos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017b).

O desabastecimento de medicamentos, um dos obstáculos ao tratamento oportuno e adequado da sífilis, bem como o acompanhamento e realização de um pré-natal de qualidade podem apresentar implicações a médio e longo prazo para a saúde do feto exposto e para o risco de infecção materna e fetal pelo T. pallidum. Além disso, as implicações relacionadas a esses problemas e a avaliação dos desfechos tardios em crianças que foram potencialmente expostas ao T. pallidum durante a gestação entre 2015 e 2016 (período de desabastecimento da penicilina) ainda são pouco relatadas pela literatura. No Estado de Mato Grosso do Sul, não há nenhum estudo ou projeto de pesquisa em andamento sobre esta temática.

Portanto, o objetivo deste trabalho é pesquisar a presença de anticorpos não treponêmicos em crianças nascidas de mães com diagnóstico de sífilis gestacional entre 2015 a 2016 em Campo Grande, Mato Grosso do Sul; e dosar a titulação de anticorpos não treponêmicos nas crianças em que houve a positividade para a presença desses anticorpos.

Publicado
2024-10-04
Como Citar
TESSARI PIRES, S.; OVIEDO FERNANDES, C.; APARECIDA DA CUNHA BORGES, L.; DE SOUZA FERNANDES, W.; FALCÃO DE OLIVEIRA, E. Dosagem de anticorpos não treponêmicos em crianças nascidas de mães com diagnóstico de sífilis durante a gestação no período de desabastecimento da penicilina, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, 2015 a 2016. Perspectivas Experimentais e Clínicas, Inovações Biomédicas e Educação em Saúde (PECIBES), v. 10, n. 1, p. 58-67, 4 out. 2024.
Seção
Resumos da 2ª Jornada Científica do Humap-Ufms 2024