• Por enquanto é tempo de corpos "inconvenientes": a voz de sujeitos ecoando na literatura e em outras linguagens artísticas
    Vol. 14 Núm. 28 (2023)

    Organizadores:

    Cláudia Nigro (UNESP)

    Flávio Adriano Nantes (UFMS)

     

    O atual ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, o professor Silvio Almeida, em seu discurso de posse, convocou para o seu ministério a responsabilidade em relação a sujeitos que haviam sido preteridos durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sua ministra Damares Alves. Essas pessoas colocadas à margem, não reconhecidas e sem proteção efetiva do Estado-nação puderam respirar aliviadas quando ouviram de Almeida: “Como primeiro ato quero dizer o óbvio que foi negado nos últimos quatros anos [...] pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, intersexo e não binárias, vocês existem e são muito valiosas para nós”. Compete a nós, a sociedade como um todo, re-pensar o modus operandi letal que ainda atinge determinados sujeitos nos limites geográficos brasileiros, pois o Brasil ocupa, segundo os relatórios mais recentes da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), o 1º lugar no ranking mundial em assassinato a mulheres trans por quatorze anos consecutivos.

    Diante de um quadro de violência extrema, a literatura e outras linguagens artísticas podem se insurgir como força contrária, i.e., perpetrar um discurso que caminhe na contramão da necropolítica (Mbembe, 2017): a morte de sujeitos que não são protegidos pelo Estado-nação, logo, o assassino é, ainda que indiretamente, o próprio Estado. Estar na contramão do discurso hegemônico social significa repetir as palavras do atual ministro dos Direitos Humanos; significa afirmar categoricamente que todos os sujeitos, sem exceção, têm direito a uma vida vivível, respirável, digna. Não à toa tomamos de empréstimo e parafraseamos as últimas palavras de A hora da estrela, de Clarice Lispector, para pensar um dossiê temático que abarque os sujeitos elencados por Silvio Almeida, ademais de acrescentar negros, indígenas, mulheres cis, entre outros.

    A escritora brasileira, em seu último romance, tratou de dar voz a uma mulher nordestina, migrante na cidade grande, pobre, fora dos padrões hegemônicos de beleza (um amontoado de dissidências), que ao final sofre um acidente letal. A personagem poderia ter tido qualquer outra morte, pois não importa o meio, o que prevaleceria seria o corpo “sem importância”, o corpo abjeto, o corpo que não pode ser amado, o corpo que não tem direito ao luto e ao pranto social (Butler, 2020), como é o corpo de Macabéa. Na esteira da escritura de Lispector, queremos pensar o quanto a literatura tem se prestado a um posicionamento insurgente, indagando, as razões pelas quais ainda há vidas que não importam; reclamando por parte do Estado-nação proteção efetiva; arguindo por que há pessoas que sofrem violências, assédios, injúrias por ser quem são; e mais, por que a sociedade como um todo ainda não se deu conta de que a vida humana é urgente, imperante, sem precedentes?

    Determinados corpos, sobretudo os subalternizados/minorizados, em diversas sociedades ao redor do mundo, sofrem atrocidades – injúrias, assédios, violência física e/ou letal – que podem ser transmutadas para o texto literário, tal como fazem, entre outras/os escritoras/es, uma Patrícia Melo (Mulheres empilhadas); uma Conceição Evaristo (Olhos d’água); um Marcelino Freire (Angu de sangue); um Bernardo Kucinski (A nova ordem); uma Bernardine Evaristo (Garota, mulher, outras). E nisto, na articulação poética entre o factual para o ficcional, está centrada a possibilidade de reflexão. O leitor consegue inferir, a partir das obras exemplificadas ou em tantas outras, que nos dois mundos – no empírico e no literário – há uma política de morte e uma política de vida, i.e., há corpos que são protegidos (os brancos, cis, héteros, sem deficiência, urbanos) e corpos que não o são os (os “inconvenientes”).

    Relacionando, então, o político e o literário – políticas literárias, convocamos pesquisadoras e pesquisadores para enviar contribuições cujo objeto seja o corpo “inconveniente”, “inadequado”, subalternizado/minorizado, aquele que não pode circular de forma democrática nos espaços públicos sem passar por sanções, como assédios, injúrias, violências, pensado por intermédio do texto literário e, desta forma, articularmos em conjunto um produto acadêmico-intelectual que vise a um pensamento na busca de obstruir a hierarquização, subalternização, minorização de determinados corpos.

  • Dossiê: Fraseologia, Paremiologia e Ensino
    Vol. 14 Núm. 27 (2023)

    Dossiê: Fraseologia, Paremiologia e Ensino

     

    Organizadores:

    Andrea Garcia Muniz (UFMS/Campo Grande)

    Thyago José da Cruz (UFMS/Campo Grande)

     

    Ementa: No âmbito dos estudos lexicais, as pesquisas em Fraseologia e Paremiologia têm se mostrado cada vez mais robustas e consolidadas no contexto acadêmico brasileiro. No entanto, o tratamento dado a essas disciplinas (ou à ausência dele), no ensino e aprendizagem de língua materna e de uma língua estrangeira, representa um desafio importante para pesquisadores e docentes, principalmente, no que se refere às estratégias e às metodologias adequadas ao seu ensino (Sciutto; Asensio Ferreiro, 2022). O propósito deste dossiê é o de reunir trabalhos que tenham como reflexão o arcabouço teórico da Fraseologia e/ou da Paremiologia aliado às pesquisas de ensino de línguas (seja ela materna ou estrangeira), direcionando-se à metodologia e às estratégias de ensino de unidades fraseológicas/ paremiológicas. 

  • LINGUÍSTICA DE TEXTO: Perspectivas Interfaces
    Vol. 13 Núm. 25 (2022)

    A partir de uma perspectiva sociocognitiva e interacional, a Linguística de Texto atualmente é uma abordagem pautada na análise dos usos linguísticos em contextos comunicativos reais. O texto, assim, é entendido como um complexo processo, em que estão presentes as múltiplas semioses verbais e não verbais, o que possibilita discussões mais detalhadas e complexas.

    Nesse cenário científico, são cada vez mais frequentes as pesquisas que versam sobre fenômenos textuais (referenciação, articulação textual, intertextualidade, etc.) à luz de interfaces com outras teorias, dentre as quais se destacam o Funcionalismo norte-americano, a Semiolinguística, a Análise Crítica do Discurso, a Teoria da Argumentação e a Semiótica. Tal entrelaçamento, se bem efetuado, contribui para um olhar mais amplo, já que podem ser sistematizados aspectos que antes não eram considerados.

    Neste dossiê, intitulado “Linguística de Texto: perspectivas e interfaces”, seguimos tal tendência dos estudos do texto, com investigações que adotam, em sua maioria, abordagens de interface e versam sobre as perspectivas de análise dos fenômenos textuais. Assim, há textos escritos por pesquisadores brasileiros e estrangeiros que abordam diferentes aspectos à luz de discussões alicerçadas em pressupostos teóricos atuais.

    Avaliamos que, à medida que se expandem as potencialidades de análise pela intersecção entre teorias, também se enriquecem os resultados dessas pesquisas e o conhecimento dos seus objetos, contribuindo para que os estudos no campo da Linguística possam tomar a linguagem em toda sua complexidade e multiplicidade. Com isso, esperamos que nossa iniciativa possibilite mais um caminho de diálogo da Linguística de Texto com outras abordagens e que fomente o (re)direcionamento de perspectivas atuais para os estudos do texto sob um olhar sociocognitivo e interacional. Agradecemos aos autores, que submeteram seus trabalhos a este dossiê, sem os quais ele não seria possível e, aos interessados em Linguística Textual, desejamos uma excelente leitura.

    Dennis Castanheira (UFF)
    Cristiane Dall’ Cortivo Lebler (UFSC)

  • Dossiê: A era do Traviarcado
    Vol. 12 Núm. 24 (2021)

    A era do Traviarcado: o debate na literatura e em outras esferas do saber

    Responsáveis pelo dossiê: Prof. Dr. Flávio Adriano Nantes (UFMS), Profa. Dra. Regiane Corrêa de Oliveira Ramos (UEMS), Sara Wagner York ou Sara Wagner Pimenta Gonçalves Jr. (UERJ)

    Ementa: O termo Traviarcado para a estruturação deste dossiê veio de empréstimo do título da música, da compositora e rapper trans Naty Silva, de nome artístico Killauea. A escolha da temática deu-se porque há um quadro social (vigente e imperativo) brasileiro que deve, de forma urgente, ser pensado – a transfobia: ódio direcionado ao corpo trans.


    O Brasil há alguns anos lamentavelmente ocupa o primeiro lugar no ranking mundial em assassinatos a mulheres trans; e o modo como elas são assassinadas já abre espaço para uma série de discussões. Não é um tiro certeiro, uma facada (ou pancada) categórica ou um atropelamento. Há um ritual de crueldade na morte causado pelo ódio aos corpos trans que são mutilados geralmente em espaços públicos.


    Soma-se ao genocídio empreendido contra as trans mulheres, a política social e estatal de desprezo à comunidade LGBT, acentuando o ódio sobre determinados corpos. O discurso do atual governo do Estado-nação indica um total descaso em relação aos membros desta comunidade, legitimando todo tipo de violência sobre esses corpos. Neste sentido, é pauta urgente no âmbito das discussões acadêmicas o tema acerca da temática trans e suas implicações. É urgente, ademais, um pensamento que indique caminhos para que a violência contra o corpo trans seja desbaratada no interior da sociedade brasileira.


    Nesta perspectiva, estão convidadxs pesquisadorxs (cis e trans) cujas pesquisas versem acerca da temática trans em diferentes áreas do saber para compor o número 24º número da Revista Rascunhos Culturais. Os trabalhos devem ser enviados até o dia 30 de agosto de 2020.

    E viva o Traviarcado que está apenas começando!

  • SEMIÓTICA FRANCESA: Rumos e Perspectivas
    Vol. 12 Núm. 23 (2021)

    A concepção primordial de uma teoria que estuda a significação, de alguma forma, insere a teoria semiótica em uma jornada contínua. Conforme nos diz Bertrand (2003, p. 49), “a semiótica apresenta modelos para análise da significação, para além da palavra, para além da frase, na dimensão do discurso que lhe é pertinente”. A multiplicidade de discursos, o aparecimento de novos gêneros, as reformulações de como produzir sentido exigem um constante aprimoramento para a forma de olhar os objetos semióticos: textos, práticas, estratégias e formas de vida. E uma vez que a linguagem é “a faculdade mais alta e mais misteriosa do homem” (BENVENISTE, 2005, p. 49), uma sustentação teórica atenta faz-se necessária para a compreensão dos discursos que atravessam nossas vidas.

    Pretende-se, neste número da Revista Rascunhos Culturais, explorar as possibilidades de análise que a semiótica de base francesa oferece dentro dos estudos da linguagem. Os autores dos artigos podem tratar de questões teóricas e/ou apresentar análises de diversos domínios, como o jornalístico, o publicitário, o literário, dentre outros. Nosso intuito, portanto, é acolher trabalhos que evidenciem esse caráter múltiplo que a linha teórica eleita permite.

    Referências

    BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral I. Tradução de Maria Gloria Novak e Maria Luiza Neri: revisão do prof. Isaac Nicolau Salum. 5 ed. São Paulo: Pontes, 2005.

    BERTRAND, D. Caminhos da semiótica literária. Bauru, SP: EDUSC, 2003.

     

    Tiana Andreza Melo Antunes (UFMS)

    Regina Souza Gomes (UFRJ)