UMA PROPOSTA DE TESE: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE LIVROS DIDÁTICOS DO BRASIL, CHILE E COLÔMBIA: UM OLHAR A PARTIR DA POLÍTICA CULTURAL
Resumo
A matemática é uma das disciplinas mais tradicional e importantes no ponto de vista da sociedade. Porém, para a maioria, essa matemática parece ter o aspecto de neutralidade, não oferecendo espaço para discussões sociais, filosóficas ou econômicas. Essa visão de que a matemática é neutra, técnica e inofensiva é apenas aparente, pois desde 1960, pesquisadores vem colocando em xeque o currículo escolar e a função da escola. Historicamente, a escola era um instrumento de manutenção social que ensinavam apenas o necessário para determinadas pessoas, mostrando assim o quanto o currículo era e é desprovido de neutralidade (SILVA, 2005). O ensino da matemática pode ser analisado pelo viés político, pois há endereçamentos que vão muito além dos conteúdos conceituais, Valero e Knijnik concebem que,
a educação matemática como uma questão de política permite focar no governo de populações e indivíduos para atingir o comportamento desejável e esperado, ou seja, a aquisição de conhecimento matemático, competência e perícia, uma vez que estes são valorizados como qualificações indispensáveis dos cidadãos modernos, racionais e economicamente produtivos (2016, p. 5, minha tradução).
A partir deste olhar, entendo que a escola opera um dispositivo pedagógico que funciona como uma técnica ou ferramenta para endereçar valores, conhecimentos e comportamentos (FRIEDRICH, 2010). Acredito que, dentro da escola o Livro Didático (L.D) é uma ferramenta que faz parte desse dispositivo pedagógico. O Grupo de Pesquisa Currículo e Educação Matemática (GPCEM) tem analisado L.D brasileiros e tem observado que os currículos de matemática têm conduzido condutas de estudantes e professores, mostrando-se um currículo cheio de intencionalidades. O GPCEM tem produzido pesquisas vinculadas ao projeto “Redes discursivas em Livros Didáticos de Matemática do Ensino Médio”, que tem como objetivo principal analisar como ocorre a construção das redes discursivas presentes nos livros didáticos de matemática do ensino médio. Algumas pesquisas associadas a esse projeto apontam para a existência de discursos nos L.D. brasileiros aprovados pelo PNLD, onde foram criados enunciados, que são “como elementos que constituem os discursos” (SILVA, 2019, p. 387). Alguns enunciados presentes nestas pesquisas, como “a tomada de decisão, uma instrução necessária”, “a formação do cidadão vinculada à formação do consumidor”, e etc., mostram-se como a política cultural, que é considerada como
[...] às estratégias políticas implicadas nas relações entre o discurso e o poder. Em geral, diz respeito a como as identidades e subjetividades são produzidas e como elas circulam nas arenas políticas daquelas formas sociais nas quais as pessoas se movem. A escola, o currículo e o livro didático são exemplos de arenas da política cultural onde os embates identitários se dão segundo relações assimétricas de poder (COSTA, 2010, p. 139).
A partir daí, constatou-se que o L.D. no Brasil busca instruir e formar cidadãos desejáveis conforme a relação de discurso e poder, de forma que não são neutros. Com isso, surge então a problemática: Como a política cultural opera em livros didáticos de outros países? Os países escolhidos para comparar com o Brasil são Chile e Colômbia, por serem países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e estarem na América do Sul. Também o fato do Brasil, ser um parceiro-chave, com possibilidades de acessão para país-membro, nos faz pensar nas mudanças que podem ocorrer em nossos L.D.
