O ENSINO DE MATEMÁTICA PARA MENINAS: UMA ANÁLISE HISTÓRICA DA LEI DE 15 DE OUTUBRO DE 1827

Resumo

Este resumo traz um recorte da pesquisa que tem como tema “O ensino de matemática para meninas: uma análise histórica de orientações para ensinar matemática que circularam no início do século XX em escolas femininas”. Na pesquisa completa, busca-se investigar, historicamente, qual ensino de matemática era recomendado às meninas no início do século XX, procurando, segundo Burke (2016) e Valente (2018), identificar os conhecimentos gerados pelas experiências docentes de professores de matemática registrados em livros didáticos usados em escolas para meninas na cidade de Campo Grande/MS. Após uma análise comparativa dos livros, com a finalidade de reconhecer os pontos comuns de orientações aos professores, buscar-se-á uma sistematização dessas orientações para o ensino de meninas. Por conseguinte, intenta-se responder à pergunta: Quais eram as orientações para o ensino de matemática para meninas presente em escolas femininas no início do século XX em Campo Grande/MS? A investigação segue a fundamentação teórico-metodológica da história cultural e tem como referencial as reflexões de Certeau (1982) sobre o ofício do historiador; os estudos de Chartier (1988) para compreender o trabalho do historiador cultural; o método crítico de Bloch (2002) para a análise dos documentos; os estudos de Burke (2016) para investigar os processos de sistematização de informação, e Hofstetter e Valente (2017) para compreender os saberes profissionais do professor. Especificamente, neste recorte, procura-se apontar indícios sobre como era proposto o ensino para meninas antes do período investigado na pesquisa de mestrado, visando entender o contexto que fundamentou decisões e orientações para ensinar matemática a elas. A documentação analisada foi a Lei de 15/10/1827, a qual determinou a criação de “[...] escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do Império” (BRASIL, 1827). Nesta lei, observa-se a segregação de escolas por gênero, sendo facultado serem abertas aquelas para meninas. Leia-se, na Lei: “Art. 11. Haverão escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas, em que os Presidentes em Conselho, julgarem necessário este estabelecimento” (BRASIL, 1827). Outro ponto emblemático é o da instrução em relação à matemática, em que, para meninas, seria restrito o ensino das quatro operações básicas: soma, subtração, multiplicação e divisão. Por outro lado, para os meninos seriam ensinados, também, a prática de quebrados, decimais, proporções e as noções mais gerais de geometria prática. Essas determinações permaneceram vigentes por muitos anos, com alguns dos seus princípios adentrando o século XX. Na revisão de literatura realizada até o momento, há trabalhos que abordam historicamente o ensino de matemática e outras disciplinas para meninas em diversas instituições de ensino. Além disso, os estudos evidenciam a persistência de concepções patriarcais presentes na educação, que incluem a crença de que as meninas são intelectualmente inferiores aos homens nas ciências exatas, especialmente na matemática. Diante disso, a pesquisa se justifica pelos indícios, na história da educação brasileira, de um ensino de matemática diferenciado para meninos e meninas, assim como pela persistência de concepções históricas patriarcais na educação, que reforçam a necessidade de reflexões sobre a desigualdade de gênero na matemática. Para além disso, investigações sobre os saberes de referência para a docência, independente de uma discussão sobre desigualdade de gênero, tem permitido constituir uma epistemologia da docência em matemática, isto é, uma matemática própria para ensinar, uma ferramenta de trabalho do professor, que contribui para a história da educação matemática, como também pode subsidiar práticas docentes nos dias de hoje.

 

Publicado
2023-10-21
Seção
Resumo Expandido – Pôster - XVII SESEMAT - 2023