DESIGUALDADES NO ENSINO DE MATEMÁTICA ENTRE MENINAS E MENINOS NOS ANOS DE 1870 – 1920 PELO ESTUDO DE OBRAS DE ANTONIO TRAJANO
Resumo
Este resumo é uma apresentação da pesquisa em História da educação matemática, que vem sendo desenvolvida na Universidade Federal da Grande Dourados, financiada pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul[1]. Trata-se de investigar, historicamente, por meio de uma pesquisa documental, indícios sobre as desigualdades, do ensino de matemática, para meninas e meninos, em meados de 1870 a 1920. As fontes a serem analisadas dizem respeito à trilogia de livros didáticos do autor e professor Antônio Trajano, quais sejam: Arithmetica Primaria (12ª. Edição, 1895), Arithmetica Elementar Ilustrada (139ª. Edição, 1962) e Arithmetica Progressiva (75ª. Edição, 1944). Até o presente momento, com a análise preliminar do livro Arithmetica Primaria, preparado, especificamente, para meninas e meninos, foi constatado que ele propunha o ensino de: Definições, Numeração, Operações Fundamentais, Somar, Diminuir, Multiplicar, Dividir, Propriedades dos Números e Frações. Na obra, a figura feminina, com imagens e passagens que se referem a meninas ou mulheres, perpassam os primeiros assuntos e se limitam até a parte do “Diminuir”, que alude ao ensino da subtração. Nota-se que ao passar disso as referências são masculinas, o que compromete a propaganda da capa, quando destaca que foi preparada para meninos e meninas, subtendendo que faria isso até o final dela. Mas por que Trajano teve o interesse de publicar um livro que remetia a meninas, já que isso era diferenciado para sua época? E por que a figura feminina foi até a subtração e não mais que isso? É possível um estudo histórico tratar da subjetividade e posicionamento de um autor de livro didático sem seu testemunho? Pela tese tomada como referência, de Marcus Aldenisson de Oliveira (2017), intitulada “A Aritmética Escolar e o Método Intuitivo: Um novo saber para o curso primário (1870-1920)”, observou-se que Trajano apropriou-se de ideias advindas do ensino dos norte-americanos, os quais eram considerados, por jornais do período, como um povo com “grande adiantamento intelectual” e “alto grau o tino prático do ensino” (A PROVÍNCIA..., 1879). Esses indícios podem abrir um caminho investigativo que leve ao entendimento das opções de Trajano, sobretudo ao chamar as meninas para estudar matemática. Assim, na continuidade da pesquisa, a trilogia desse autor será analisada à luz de informações que possam explicar a decisão que ele tomou. Como a falta de pesquisas que investiguem historicamente as desigualdades do ensino de matemática para meninas e meninos é ainda um fator que demanda mais atenção, pretende-se com esse estudo apontar elementos que possam desconstruir a imagem de que as mulheres não são capazes de aprender matemática, que pelo contrário, isso faz parte de uma construção histórica que, talvez, alguns autores tenham tentado reverter há muito tempo.
[1] Fundect.