FESTAS PÚBLICAS E COMEMORAÇÕES HISTÓRICAS NA PERIFERIA DO SISTEMA-MUNDO: Ritanálise do IV Centenário de São Luís/MA

  • Alexandre Fernandes Corrêa UFMA

Resumo

O presente texto[1] tem como foco os ritos comemorativos na sociedade moderna, mais especialmente os que ocorrem mais recentemente no contexto periférico do sistema-mundo[2]. Trata-se de elementos de uma ritanálise crítica dos aspectos estruturais próprios a construção social das comemorações históricas, tomando como objeto empírico privilegiado o IV centenário de São Luís/MA em 2012[3]. Destacamos alguns dispositivos significativos desses processos rituais, típicos em sociedades situadas na periferia da economia-mundo, que nos parecem estruturados em modelos sociológicos concorrentes. Ao analisar esses teatros comemorativos das festas públicas, buscamos compreender sua estrutura lógica, em seus traços socioculturais mais particulares. É a dialética da permanência e da mudança destes fenômenos sociais que nos chama a atenção, desde o nosso primeiro estudo sobre festa popular nos Montes Guararapes de Pernambuco, no início dos anos de 1990[4] (Corrêa, 2008).


[1] Uma versão desse texto foi apresentada na 28ª. Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 02 e 05 de julho de 2012, em São Paulo, Brasil. GT. 39 – Festa, Estrutura, Mudança.

[2] Nossa análise dos ritos comemorativos considera a estrutura hierárquica, sugerida por Wallerstein, dividida entre centro, semiperiferia e periferia do moderno sistema-mundo, conforme explicitado: “We have now outlined the two main constituent elements of the modern world-system. On the one hand, the capitalist world-economy was built on a worldwide division of labor in which various zones of this economy (that which we have termed the core, the semiperiphery, and the periphery) were assigned specific economic roles, developed different class structures, used consequently different modes of labor control, and profited unequally from the working of the system. On the other hand, political action occurred primarily within the framework of states which, as a consequence of their different roles in the world-economy were structured differently, the core states being the most centralized” (WALLERSTEIN, 1974: p. 162).

[3] Texto derivado do Projeto de Pesquisa TEATRO DAS MEMÓRIAS II: Os Ritos Comemorativos na Atualidade: As dinâmicas socioculturais das liturgias políticas dos 400 anos de fundação histórica da cidade de São Luís, UFMA.

[4] Dissertação de mestrado apresentada no PPGA da UFPE.

Biografia do Autor

Alexandre Fernandes Corrêa, UFMA
Sociólogo Bacharel Ciências Sociais IFCS/UFRJ (1986). Mestre Antropologia Cultural UFPe (1993). Membro da Associação Brasileira de Antropologia (1994). Doutor Ciências Sociais PUC/SP (2001). Pós-doutorado I Antropologia UFRJ (2006). Pós-Doutorado II Antropologia UERJ (2010). Professor Associado Campus UFRJ Macaé (2013). Experiência em Antropologia Urbana e Sociologia da Cultura atuando nas seguintes áreas: Heranças Culturais, Memórias Sociais, Novos Patrimônios, Arte e Literatura. Membro do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação (PPGCiAC/UFRJ). Grupo de Pesquisas em Humanidades, Estudos Culturais e Urbanos (CRISOL). Membro do Conselho Estadual de Cultura do Maranhão (2009). Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (2011). Coordenador do Projeto Humanidades (Campus UFRJ Macaé). Livros publicados: Patrimônios Bioculturais (2008), Museu Mefistofélico (2009), Teatro das Memórias (2013) e Festim Barroco (2017). Coordenador da Especialização em Humanidades (Campus UFRJ Macaé).

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Publicado
2017-04-25