DESCOLONIZANDO A PESQUISA ACADÊMICA: uma teorização sem disciplinas

  • Edgar Cézar Nolasco UFMS

Resumo

Venho escrevendo sobre a exterioridade e sobre o conceito de exterioridade há um bom tempo dentro do NÚCLEO DE ESTUDOS CULTURAIS COMPARADOS – NECC coordenado por mim, bem como orientando pesquisas cujos aportes teóricos são embasados por tal discussão conceitual. De um modo geral, as pesquisas todas desenvolvidas no NECC desde 2009 contemplam, direta ou indiretamente, as epistemologias fronteiriças, que ancoram a discussão acerca da exterioridade. Também meu livro Perto do coração selbaje da crítica fronteriza (2013) arrola as discussões realizadas dentro do Grupo de pesquisa. Gostaria de dizer, mesmo que de forma rápida, que o lócus geoistórico e territorial no qual nos encontramos aqui, incluindo a universidade (UFMS) na qual trabalho e penso, e às vezes vivo, não apenas permite que embasemos nossas discussões teóricas dessa epistemologia outra, ou fronteiriça, como nos leva, nos obriga a sermos todos desobedientes (MIGNOLO) diante da epistemologia moderna que grassou por essa banda fronteiriça (incluindo a América Latina como um todo), por meio, sobretudo, do discurso acadêmico e disciplinar, com seu desejo totalizante e abstratizante ao mesmo tempo. A exterioridade foi criada pela modernidade, ou seja, pelo pensamento moderno, pelo sistema colonial moderno. Logo, a exterioridade é aquilo que tal retórica construiu (inventou, criou) para colonizar, conquistar, dominar, ou bem eliminar. Quando se habita a exterioridade, surge dessa condição a epistemologia fronteiriça como um método de todo pensar descolonial. De acordo com Walter Mignolo, a “exterioridade não é algo que se pode descrever somente do interior do sistema, mas requer uma narrativa criada na mesma exterioridade” (MIGNOLO, 2011, p. 51).

Biografia do Autor

Edgar Cézar Nolasco, UFMS

Edgar Cézar Nolasco é professor da UFMS e Coordenador do Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos Culturais Comparados – NECC – CNPq/UFMS e Pesquisador-visitante e Associado do PACC-UFRJ. ecnolasco@uol.com.br.  

Referências

ANZALDÚA, Gloria. BorderlandsLa frontera: the new mestiza, São Francisco: Aunt Lute Books, 2007.

MIGNOLO, Walter. Histórias locaisProjetos globais. Trad. De Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

MIGNOLO, Walter. Habitar la frontera: sentir y pensar la descolonialidad (Antologia 1999-2014) Espanha: Ediciones Bellaterra, 2015.

MIGNOLO, Walter. “Desafios decoloniais hoje”. Trad. De Marcos de Jesus Oliveira. Epistemologias do Sul, Foz do Iguaçu/PR, 1 (1), p. 12-32, 2017.

MIGNOLO, Walter. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Trad. De Ângela Lopes Norte. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê Literatura, língua e identidade, n.34, p. 287-324, 2008.

NOLASCO, Edgar Cézar. Crítica biográfica fronteiriça (BrasilParaguaiBolívia). In: CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS: BrasilParaguaiBolívia. Campo Grande_MS: Editora UFMS, v.7, n.14, jul.dez. 2015. P. 47-63.

Publicado
2019-03-08