O Patriarcado, masculinidades e dispositivo:
estratégias e objetivação do feminino em “Onde nascem os fortes” (Globo, 2018)
Resumo
O patriarcado é todo um sistema de dominação e de convencimento, que produz verdades absolutas e naturalizadas sobre a diferença sexual e a superioridade masculina, objetivando mulheres em corpos. Sob tal temática, objetiva-se analisar o modo como os mecanismos de poder patriarcal e de constituição do sujeito objetificam as personagens Joana e Rosinete, na supersérie “Onde nascem os fortes” (Globo, 2018). Para estudar a prática discursiva por meio de uma abordagem qualitativa, mobiliza-se fontes documental - enunciados da materialidade televisiva -, e bibliográficas provenientes dos Estudos Discursivos Foucaultianos, dos quais se depreende o conceito heurístico “dispositivo” (Foucault, 1988; 2015), em diálogo com a história descontínua do Nordeste e do nordestino (Albuquerque Júnior, 2011; 2013; 2019) para pensar as relações de saber-poder entre sujeitos dessa localização geográfica e a epistemologia feminista com as noções gênero e violência patriarcal (Rago, 2019; Scott 2017; Segato, 2003). Dentre as estratégias assimétricas de poder mobilizadas, destacam-se a “capitalização do prazer”, em que Joana é manipulada e objetificada como “mulher erotizada” para servir aos interesses políticos e econômicos do juiz Ramiro. Os discursos religiosos e patriarcais objetivam a personagem Rosinete como “esposa e mãe abnegada”, resultante da estratégia “confessionalização da mulher”, sujeita ao dispositivo da aliança familiar.
Palavras-chave: Violência; Materialidade discursiva ficcional; Gênero; Relações de poder; Masculinidade.
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