Mulheres Erveiras da Feira do Ver-o-Peso na ordem interditada do discurso
as palavras proibidas
Resumo
RESUMO: Pelo viés dos Estudos Discursivos Foucaultianos (EDF), objetivamos analisar o tabu linguístico – a palavra proibida, segundo Michel Foucault – em relação às práticas discursivas e não discursivas em torno das mulheres erveiras da feira do Ver-o-Peso, em Belém do Pará. O que elas dizem em seu espaço de trabalho, com o objetivo de venderem essências, perfumes, banhos de cheiro ou óleos destinados, em regra, para supressão de necessidades afetivas e sexuais de mulheres, é muitas vezes retirado de seu lugar de enunciação e reverberado pelos dispositivos midiáticos, produzindo outros efeitos de verdade. Para as análises, focalizaremos acontecimentos discursivos que ganharam visibilidade, debate e polêmica na mídia, valendo-nos, prioritariamente, dos conceitos e noções basilares da arqueogenealogia de Michel Foucault, destacamos as noções de discurso, enunciado, tabu do objeto e dispositivo da sexualidade. Os discursos analisados apontam para a circulação de saberes e poderes que desafiam regimes de verdade e padrões normalizadores em relação à sexualidade feminina, na medida em que apresentam regularidades, na dispersão, escancarando o tabu do objeto diretamente ligado a questões dos desejos e afetos historicamente silenciados e/ou interditados; por terem sido ditos e reproduzidos na mídia funcionam como mola propulsora de batalhas discursivas que colocam em relevo a fala “irreverente” da mulheres erveiras e tentam apagar um saber ancestral em relação ao poder das ervas amazônicas.
Referências
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