O acontecimento transfeminicídio

entre o midiático e o discursivo

  • Ariane Silva da Costa Sampaio Universidade Estadual do Ceará
  • Washington Silva de Farias Universidade Federal de Campina Grande https://orcid.org/0000-0003-0749-2469
Palavras-chave: Transfeminicídio, Discurso, Análise do Discurso, Facebook

Resumo

O transfeminicídio é um conceito cunhado por Bento (2015, 2016) e retomado pelos movimentos feministas e transfeministas, entendendo o assassinato de mulheres trans e travestis em razão de suas identidades de gênero femininas. Pensando nesse conceito, analisamos neste trabalho postagens sobre casos de assassinatos de mulheres trans e travestis divulgados pela página de facebook do G1 e os comentários feitos pelos leitores desta página. Temos como objetivo compreender como o discurso jornalístico e os sujeitos leitores significam o sujeito mulher trans, o assassinato dessas mulheres e a constituição do acontecimento discursivo transfeminicídio. Para isso, recorremos à Análise do Discurso de vertente pecheutiana e às teorias de gênero. Em nossa análise, compreendemos o transfeminicídio como um acontecimento discursivo a partir da estabilização dos sentidos de mulher trans como vítima de um crime específico, calcado na sua expressão de gênero e relacionado ao crime de feminicídio através dos efeitos de sentido que colocam mulheres trans como vítimas de um crime de ódio. 

Biografia do Autor

Washington Silva de Farias, Universidade Federal de Campina Grande

Possui graduação em Licenciatura em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (1991), mestrado em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (1998) e doutorado em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba (2010). Atualmente é professor efetivo da Universidade Federal de Campina Grande. Tem experiência na área de Lingüística, com ênfase em Análise do Discurso, atuando principalmente nos seguintes temas: constituição e representação discursiva de sujeitos e sentidos; discurso, memória e identidades; discurso, educação e ensino. 

Referências

BENEVIDES, Bruna G. Dossiê: assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2023. Brasília, DF: Distrito Drag; ANTRA, 2024.
BENTO, B. Verônica Bolina e o transfeminicídio no Brasil. Cult, São Paulo, v. 202, p. 30-34, 2015a.
BENTO, Berenice. Transfeminicídio: violência de gênero e o gênero da violência. In: COLLING, Leandro. (org.) Dissidências sexuais e de gênero. Salvador : EDUFBA, 2016.
BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
BUTLER, Judith. Corpos que importam: os limites discursivos do “sexo”. São Paulo: N-1 Edições, 2019.
BIANCHINI, Alice. BAZZO, Mariana. CHAKIAN, Silvia Crimes contra mulheres. 2. ed. rev. e atual. Salvador: Editora JusPodivm, 2020.
DELA-SILVA, Silmara Cristina. O acontecimento discursivo da televisão no Brasil: a imprensa na constituição da TV como grande mídia. TESE.(Doutorado em Linguística). Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas: 2008.
DIAS, Cristiane. A análise do discurso digital: um campo de questões. REDISCO. Vitória da Conquista. v. 10, n. 2, p. 8-20, 2016.
GARCIA, Dantielli Assumpção. SOUSA, Lucília Maria Abrahão. Ler o arquivo hoje: a sociedade em rede e suas andanças no ciberespaço. Conexão Letras, v. 9, n. 11, 2014. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/conexãoletras/article/view/55143. Acesso em 08 out. 2024.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 3. Ed. São Paulo: Aleph, 2022.
MARIANI, Betania. Os primórdios da imprensa no Brasil (ou: de como o discurso jornalístico constrói memória). In: ORLANDI, Eni. (org.) Discurso Fundador. 3 ed. Campinas: Pontes, 2003.
ORLANDI, Eni. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. 6 ed. Campinas,SP: Editora da Unicamp, 2007.
ORLANDI, Eni. Do fato para o acontecimento (da diferença à resistência). ORLANDI, Eni. Eu, tu, ele: discurso e real da história. 2. ed. Campinas, SP: Pontes, 2017. p. 93-111.
ORLANDI, Eni. Discurso e Texto: formulação e circulação dos sentidos. 4. ed. Campina, SP: Pontes, 2012.
PASINATO, Wânia. Feminicídios e as mortes de mulheres no Brasil. Cadernos Pagu, Campinas, n. 37, p. 219-246, dez. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332011000200008. Acesso em: 30 maio 2020.
PÊCHEUX, Michel. O discurso: estrutura ou acontecimento. 4. ed. Campinas, São Paulo: Pontes editores, 2006.
PÊCHEUX, Michel. Papel da memória. In: ACHARD, P. et. Al. Papel da memória. 4.ed. Campinas, São Paulo: Pontes, 2015.
PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 5. ed. Campinas: Editora Unicamp, 2014.
SAMPAIO, Ariane Silva da Costa; FARIAS, Washington Silva de. Entre o dito e o não dito: modos de significar as vítimas de feminicídio na página de Facebook do G1. .Palimpsesto - Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ, [S. l.], v. 23, n. 46, p. 221–245, 2024. DOI: 10.12957/palimpsesto.2024.84715. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/palimpsesto/article/view/84715. Acesso em: 19 nov. 2024.
SEGATO, Rita. Contra-pedagogías de la crueldad. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Prometeo Libros, 2018.
VILLEGAS, A. Feminicidio en Morelos: uma genealogia de su discurso. In: ESCALERA, A. M. M. de la (Coord.). Feminicidio: actas de denuncia y controvérsia. Ciudad de México, UNAM: PUED, 2010. p. 43-66.
Publicado
2025-05-12
Como Citar
Silva da Costa Sampaio, A., & Silva de Farias, W. (2025). O acontecimento transfeminicídio. Papéis: Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Estudos De Linguagens - UFMS , 29(57), 114-142. Recuperado de https://periodicos.ufms.br/index.php/papeis/article/view/22794
Seção
Artigos - Linguística e Semiótica