E quando os homens cuidam? Narrativas de profissionais de saúde sobre a participação masculina na internação pediátrica
Resumen
Estudos em diversos contextos de saúde apontam que os homens associam a dimensão do cuidado ao âmbito feminino, enquanto são estimulados, desde a infância, a demonstrarem força, poder e virilidade. (Gomes Et Al., 2011; Lemos Et Al., 2017; Miranda Et Al., 2018). Ainda que o modelo de paternidade venha sofrendo modificações nos últimos tempos, marcado por uma divisão de responsabilidades, diante do processo de adoecimento, as mulheres permanecem como as cuidadoras principais, assumindo o papel de protagonistas, desde a detecção de sintomas até o tratamento. Principalmente quando analisamos a história da masculinidade nas sociedades latino-americanas, em que percebemos a atribuição dos papéis de provisão material e a proteção das suas famílias, aos homens (Connel, 2005).
No contexto brasileiro, em que o machismo e a estrutura patriarcal ainda se fazem muito presentes, os homens sentem a necessidade de comprovar a sua virilidade, frequentemente por meio da exposição a diversas situações de risco, com o objetivo de defender, frente aos demais, a sua masculinidade (Lemos et al., 2017; Martins & Modena, 2017). Todavia, em razão de vivermos em um mundo globalizado, é necessário considerar a coexistência de diversas possibilidades de concepções de masculinidade. Portanto, é essencial utilizar o termo no plural: masculinidades (Connel, 2005; Connel & Messerschmidt, 2013). Entretanto, Connel (2005), destaca a predominância de um padrão, e o denomina de modelo de masculinidade hegemônica. Segundo a autora, ele carrega as expectativas sociais do que é esperado de um “homem de verdade”, configurando um padrão normativo que passa a ser desejado e perseguido cotidianamente (Connel, 2005).
Ademais, é preciso considerar que o modelo de masculinidade hegemônica não atinge apenas os homens, mas também atravessam os modos de pensar, sentir e agir dos profissionais e gestores de saúde, impactando as ações que reforçam os ideais acerca das masculinidades (Faria Et Al., 2015; Martins & Modena, 2017). Estudos vêm chamando a atenção para as barreiras culturais e institucionais que, muitas vezes, inviabilizam a vinculação dos homens aos serviços de saúde e às práticas de cuidado (Césaro, Santos & Silva, 2019; Gomes et al., 2011; Lemos et al., 2017; Martins & Modena, 2017; Miranda et al., 2018). Essas barreiras institucionais, por sua vez, referem-se às dificuldades próprias da estruturação e organização dos serviços de saúde, a saber: predominância de profissionais do sexo feminino, levando a uma feminilização dos serviços de saúde e provocando nos homens um sentimento de não pertencimento a esses espaços; horário de funcionamento dos serviços de atenção primária incompatível com a jornada de trabalho dos homens; despreparo da equipe de saúde para lidar com as especificidades deste público e incipiência de unidades de serviços específicos de saúde voltadas para o público masculino (Gomes Et Al., 2011; Martins & Modena, 2017; Miranda et al., 2018).
Diante disso, o presente estudo teve como objetivo identificar e analisar as narrativas dos profissionais de saúde sobre os desafios relacionados à inclusão dos homens como acompanhantes na internação pediátrica do HUMAP.
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