Etarismo e livro didático de matemática: práticas performáticas que instituem um (não) lugar à mulher idosa

Renata de Moraes Candia; José Wilson dos Santos

doi:10.46312/pem.v17i47.21058

Renata de Moraes Candia https://orcid.org/
José Wilson dos Santos Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) https://orcid.org/0000-0002-7410-7252

DOI: https://doi.org/10.46312/pem.v17i47.21058

Palavras-chave: Educação Matemática, Governamentalidade, Gênero

Resumo

Inspirados nos conceitos de governamentalidade, de Michel Foucault, na Cultura da Performatividade, de Stephen Ball, este artigo propõe uma investigação a fim de analisar e descrever o modo como práticas discursivas movimentadas em livros didáticos de Matemática constituem a mulher idosa em nosso país. A partir de uma prática cartografia, analisamos imagens e mensagem presentes em uma coleção de livros didáticos de Matemática do Ensino Fundamental I. Os dados evidenciam uma representação diminuída quando comparada a figura masculina de mesma faixa etária, evidenciando seu não lugar no livro didático e reforçando uma cultura baseada no patriarcado. Mais que isso, as poucas referências à sua presença no material analisado limitam sua atuação ao ambiente e afazeres domésticos, fato que, contornando a avaliação pedagógica do Programa Nacional do Livro Didático, evidencia elementos do etarismo, preconceito direcionado à pessoa idosa com base em julgamentos que tem como parâmetro a idade.

Biografia do Autor

José Wilson dos Santos, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)

Pós-doutorando pela Universidade de Santiago de Compostela na Espanha (2024). Doutor e mestre Educação Matemática pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Especialista em Educação Matemática e licenciado em Matemática pela Universidade Estadual de Mato Grosso do sul. Possui experiência de 25 anos como professor de Matemática, sendo 13 deles dedicado ao Ensino Superior. Atualmente, é Professor Adjunto da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), onde atua no curso de Licenciatura em Matemática, bem como no curso de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática. Desenvolve pesquisas na área de Educação Matemática cujas temáticas abarcam a Formação de Professores, Currículo e Educação Inclusiva, com particular interesse nos livros didáticos. É membro dos grupos de pesquisa CPCEM Grupo de Pesquisa Currículo e Educação Matemática e líder do Grupo de Pesquisa Educação Matemática, Colaboração e Contemporaneidade - GPEMATCC.

Referências

BALL, S. J. Profissionalismo, Gerencialismo e Performatividade. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 126, p. 539-564, set./dez. 2005.

BALL, S. J. Educação Global S. A.: novas redes de políticas e o imaginário neoliberal. Tradução de Janete Bridon. Ponta Grossa: UEPG, 2014, 270 p.

BOURDIEU, P. A dominação masculina/Pierre Kühner. 11ª ed. Tradução: Maria Helena Bertrand Brasil. Rio de Janeiro: Bourdieu, 2012, 160p.

BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto da Pessoa Idosa e dá outras providências. Brasília: 2003. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 15 jan. 2023.

BUJES, M. I. E. Descaminhos. In: Costa, M. V. Caminhos Investigativos II: outros modos de pensar e fazer pesquisa em educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

BUTLER, J. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Tradução: Fernanda Siqueira Miguens. Revisão técnica Carla Rodrigues. 1ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

DANTE, L. R. Ápis Matemática, 2º ano: ensino fundamental anos iniciais / Luiz Roberto Dante. 3. ed. São Paulo: Ática, 2017.

FOUCAULT, M. O nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). Tradução Maria Ermantina Galvão. 2 ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.

GOLDANI, A. M. Desafios do “preconceito etário” no Brasil. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 111, p. 411-434, abr.-jun. 2010.

GROSSBERG, L. Identity and Cultural Studies: is that all there is? HALL, S; DU GAY, P. (Eds.) Questions of cultural identity. London: Sage, 1997. p. 87-107.

HALL, S. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis/RJ: Vozes, 2014.

Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística (IBGE). Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2015. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. 137p.

Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística (IBGE). Pirâmide Etária 2023. Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação. 2023. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/. Acesso em: 15 mar. 2023.

KASTRUP, V. O funcionamento da atenção no trabalho do Cartógrafo. Psicologia & Sociedade, Rio de Janeiro; 19(1): 15-22, jan/abr., 2007.

MACNICOL, J. Age discrimination: an historical and contemporary analysis. Cambridge: Cambridge University, 2006.

Ministério Da Educação (MEC). Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o Programa Nacional do Livro e do Material Didático PNLD 2019. Brasília: MEC, 2017[a].

Ministério Da Educação (MEC). Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017[b]. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 28 fev. 2023.

NETO, V. F; GUIDA, A. M. A Constituição do Sujeito-Mãe nos Livros Didáticos de Matemática da Educação do Campo. Revista UFSM Educação, Santa Maria, v. 45, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reveducacao. Acesso em: 20 dez. 2022.

Ó, J. R. do. A Governamentalidade e a História da Escola Moderna: outras conexões investigativas. Revista Educação e Realidade, 34(2): 97-117, Mai/Ago. 2009.

OYĚWÙMÍ, O. A invenção das mulheres: construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero. Tradução: Wanderson flor do nascimento. – 1. ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.

PASSOS, E; BARROS, R. B. de. A cartografia como método de pesquisa-intervenção. In: Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade / orgs. Eduardo Passos, Virgínia Kastrup e Liliana da Escóssia. Porto Alegre: Sulina, 2009. 207 p.

ROMFELD, V. S. As raízes do patriarcado: contribuições teóricas sobre a violência contra as mulheres no Brasil. Captura Críptica: direito, política, atualidade, Florianópolis, n. 4, v. 2, jan./dez, 2015. p. 215-229.

SANTOS, J. W. Os Currículos de um Curso de Licenciatura em Matemática: um estudo de caso sobre as mudanças ocorridas no período de 2000 a 2010. 159 p. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande/MS, 2011.

SANTOS, J. W. dos. Relações saber-poder: Discursos, Tensões e Estratégias que (re)orientam a constituição do Livro Didático de Matemática. 267p. Tese (Doutorado em Educação Matemática) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande/MS, 2019.

SANTOS, J. W. Corredores e Porões: uma análise das relações de poder na constituição dos livros didáticos de Matemática. Curitiba: Appris, 2021.

TONINI, I. M. Identidades Capturadas Gênero, geração e etnia na hierarquia territorial dos livros didáticos de Geografia. 139p. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre/RS, 2002.