A implementação de um projeto de pesquisa científica em uma escola do programa escola da autoria: integrando saberes científicos e tradicionais sobre a Etnobotânica da flora de Mato Grosso do Sul
Resumo
Este é um relato de experiência entre dois docentes no qual o primeiro autor é Professor Coordenador de Área (PCA) de Matemática e suas tecnologias, e a segunda autora é educadora das disciplinas de Física, Biologia, Química, ambos no Ensino Médio em uma escola pública que pertence ao programa “Escola da Autoria” da Secretaria de Educação de Estado de Mato Grosso do Sul (SED/MS) na construção de um projeto de pesquisa científica. O projeto proposto e aprovado pelo FUNDECT – PICTEC/MS contempla as áreas de Meio Ambiente, Educação, Tecnologia, Inovação, Desenvolvimento Social-Humano e Conhecimentos Tradicionais. Por meio deste buscamos a participação e mobilização social acerca da importância de conhecimentos tradicionais e da preservação do meio ambiente. Para tal, almejamos integrar saberes tradicionais e populares com o conhecimento científico bem como a metodologia científica com Estudos Etnobotânicos das plantas do Cerrado. O projeto é intitulado “Já dizia a minha avó: levantamento e valorização dos saberes tradicionais sobre o uso de espécies botânicas da flora de Mato Grosso do Sul, na cidade de Paranaíba” (Chamada FUNDECT N° 02/2021 – PICTEC-MS, protocolo nº 41815.619.29610.31052021), aprovado para ser implementado em outubro de 2021 na unidade escolar. Será realizada na escola estadual Dr. Ermírio Leal Garcia, uma escola de tempo integral da rede estadual de ensino, situada em uma área considerada periférica da cidade de Paranaíba, que atende educandos do bairro no qual se localiza e de bairros próximos. Essa unidade escolar se fundamenta no programa “Escola da Autoria”, a qual salienta uma formação do estudante como “autor, cientista, pesquisador” (DEMO, 2018 p. 21). Temos como objetivo geral conhecer, descrever e divulgar espécies botânicas utilizadas tradicionalmente pelos habitantes do bairro onde a escola se localiza, por meio de podcasts, relatos de experiências e artigos científicos, com pretensão de envolver todas as áreas possíveis de conhecimentos, principalmente conhecimentos matemáticos, mobilizando toda a comunidade escolar. Os primeiros relatos da existência humana mostram que os mesmos sempre mantiveram uma interação ativa com o ambiente onde vivia, possibilitando a relação humano-planta a base da sua sobrevivência, pelos múltiplos usos possibilitados (ALBUQUERQUE, 2005). No contexto da investigação etnobotânica, o pesquisador procura conhecer a cultura e o dia a dia da comunidade pesquisada, os conceitos locais de doença/saúde, o modo como a comunidade se vale dos recursos naturais para a “cura” de seus males, atrair ou afastar animais, dentre outros, tentando repassar o conhecimento apreendido para o meio científico sem erros de interpretação (ELIZABETSKY, 2003). Provocando também, a busca de informações científicas das plantas, aproximando os educandos do método científico e da práxis científica, além de possibilitar valorização da ciência, do seu conhecimento tradicional e práticas utilizadas na comunidade. Aproximando os conhecimentos tradicionais e científicos sem serem predatórios. Neste sentido, Paulo Freire (2005) diz que educar é um ato de coragem e de amor, implicando em uma constante mudança de atitude, substituindo hábitos de passividade por participação e possibilitando assim aos educandos do projeto ao participarem ativamente das ações propostas, passam a agir ativamente como autores de sua própria história e de seus conhecimentos. Os dados serão produzidos, por meio de entrevistas semiestruturadas com os moradores dos bairros próximos. Esperamos identificar quais as categorias botânicas mais utilizadas no contexto popular, sendo catalogados os usos dessas diversas plantas, tais como: alimentício, medicinal, ornamental, dentre outros, demonstrando a diversidade e relevância dos estudos e saberes tradicionais. Os resultados obtidos serão ordenados, fundamentados com as informações da literatura científica, como: família botânica, distribuição das espécies, nome científico e popular, e em seguida, organizados para serem divulgados por meio de podcasts em programas de rádios da cidade, relatos de experiências e artigos científicos. O projeto financiado pela FUNDECT – PICTEC/MS terá a conceção de cinco bolsas para estudantes de RS 400,00 e uma bolsa para o docente com titulação de Mestre ou Doutor de RS 800,00 por 12 meses. Esperamos que, além da construção do conhecimento, busquemos recursos financeiros para a comunidade escolar, em especial aos estudantes e valorização da prática de pesquisar no ambiente escolar. Assim, o projeto visa propiciar aos educandos a possibilidade de entendimento do método científico integrado à valorização de saberes tradicionais. Ademais, emponderados de novos saberes e oportunidades os educandos poderão vislumbrar novas chances que possam fazê-los autores de suas próprias histórias e de seus conhecimentos.
Referências
ALBUQUERQUE, U. P. Introdução a etnobotânica. 2ed. Rio de Janeiro-RJ: Editora Interciência, 2005.
DEMO, P. Atividades de aprendizagem: sair da mania do ensino para comprometer-se com a aprendizagem do estudante. [recurso eletrônico]. Campo Grande: Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso do Sul – SED/MS, 2018.
ELIZABETSKY, E. Etnofarmacologia. Ciência e Cultura, São Paulo-SP, v. 55, n. 3, p. 35-36, 2003.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra Editora, 2005.