Um olhar sobre a faculdade indígena intercultural da UNEMAT e a criação do primeiro mestrado indígena do país

  • ADRIANO MAMEDES NASCIMENTO Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS
  • Thiago Pedro Pinto

Resumo

Apresentamos aqui uma proposta de pesquisa de doutoramento, inserida no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática – PPGEDUMAT da UFMS e no Grupo História da Educação Matemática em Pesquisa. Buscaremos, a partir das narrativas que permeiam o percurso formativo dos graduandos e mestrandos indígenas, bem como dos professores idealizadores do Programa de Mestrado Indígena - PPGECII - o primeiro do País, traçar compreensões sobre este percurso. Neste movimento importa conhecer, também, a história da fundação da Faculdade Indígena Intercultural - FAINDI. Considerando todo histórico de lutas que a educação escolar indígena passou ao longo da história e observando os constantes desafios para a implementação de políticas públicas eficazes na promoção da educação indígena (ZANFERRARI, 2020), a pesquisa tem como “problemática”: Quais depoimentos circulam entre os estudantes indígenas que os levam a procurar qualificação em nível de Graduação e Pós-Graduação? Quais depoimentos dos idealizadores que os possibilitaram a criação de cursos específicos para estas comunidades?

A proposta tem como objetivo investigar, através das entrevistas, o movimento que vai desde a criação da FAINDI até a abertura da primeira turma (2020) do PPGECII da UNEMAT. A fundamentação teórica se inspira no perspectivismo ameríndio segundo Eduardo Viveiros de Castro. Desse modo, é conhecida a ideia de mundo que compreende uma multiplicidade de posições subjetivas, na perspectiva do relativismo. Por exemplo, nas descrições ameríndias que expõe os múltiplos pontos de vista sobre a realidade é tomada como ponto de partida a concepção de que diferentes sujeitos enxergam um mesmo objeto de formas distintas e que todas essas perspectivas são igualmente válidas e verdadeiras. A reflexão proposta por Viveiros de Castro é exatamente o inverso, para ele o perspectivismo ameríndio não supõe uma multiplicidade de representação, ao contrário o pensamento parte do ponto de vista que “todos os seres veem (‘representam’) o mundo da mesma maneira — o que muda é o mundo que eles veem” (VIVEIROS DE CASTRO, p. 239, 2004). Para ele o fato de diferentes seres verem as mesmas coisas diferentemente é apenas uma consequência de que diferentes tipos de seres veem coisas diferentes da mesma maneira. Nesse sentido, o perspectivismo não é um relativismo, mas sim um Multinaturalismo.

A metodologia da História Oral será empregada em todas as etapas do trabalho, critério de rede para escolha dos depoentes, elaboração de um roteiro semiestruturado, realização das entrevistas, transcrição e textualização das mesmas, e, claro, dos protocolos éticos que a metodologia pressupõe (GARNICA, 2015). Nas entrevistas semiestruturadas, as perguntas elaboradas previamente constituem uma direção inicial para o diálogo, que pode tomar outros contornos no decorrer do momento de entrevista. 

Considerando que a FAINDI forma educadores indígenas espera-se compreender os anseios e motivações dos indígenas na busca por uma qualificação em nível de Graduação e Pós-Graduação. Também, conhecer as lutas e entraves enfrentados pelos idealizadores na implementação da proposta de um curso Intercultural, ou seja, os discursos que possibilitaram sua efetivação. Pois, por meio de cursos específicos à realidade de seu público, seus participantes possam encontram espaços para ter voz nas discussões perante autoridades quando o assunto é de seus interesses como escolas bilíngues e multilíngues em todos os níveis da educação, entre outros direitos.

 

Referências

 

GARNICA, A. V. M. História oral em educação matemática: um panorama sobre pressuposto e exercícios de pesquisa. 2015. Disponível em: <https://revista.historiaoral.org.br/index.php?journal=rho&page=article&op=view&path%5B%5D=559>. Acesso em: 13.07.2021.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Perspectivismo e Multinaturalismo na América indígena. Revista: O que nos faz pensar nº18, setembro de 2004.

ZANFERRARI, N. Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. Mato Grosso: fevereiro de 2020. Disponível em: <http://portal.unemat.br/?pg=noticia/12950>. Acesso em 08.10.2020

Biografia do Autor

ADRIANO MAMEDES NASCIMENTO, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS

Professor efetivo do IFMT/Juína

Graduado em Matemática

Mestre em Ensino de Ciências Naturais - UFMT

Doutorando em Edumat - UFMS

 

Publicado
2021-10-16