EXPLORANDO AS PROFUNDEZAS DISCURSIVAS NO PERCURSO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA
Resumo
O Núcleo Docente Estruturante (NDE) emerge como um elemento que pode possibilitar ambientes educacionais enriquecidos por trocas colaborativas entre professores formadores. Sua contribuição se destaca na promoção de uma atmosfera propícia para a partilha de experiências, aprendizados e conhecimentos entre os membros do corpo docente ao possibilitar articulações entre diferentes concepções. Diante desse contexto, o objetivo desse estudo foi analisar como os membros do NDE buscaram insubordinar-se criativamente diante da resolução CNE/CP de 2015 e de 2019, especificamente no contexto da elaboração do Projeto Pedagógico Curricular (PPC) do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), pois para a reestruturação do PPC de 2024, a resolução de 2015 foi a diretriz explícita sob orientação da Pró-Reitoria da instituição, enquanto a resolução de 2019 foi uma diretriz implícita. Esta resolução propôs uma abordagem mais técnica e voltada para resultados, enfatizando competências específicas e a adequação dos cursos às demandas do mercado de trabalho. No entanto, a resolução de 2019 também foi alvo de críticas por parte de educadores e pesquisadores, que apontaram para a sua tendência de reduzir a formação crítica e humanística dos futuros professores, priorizando uma visão mais instrumental da educação. Embora houvesse a possibilidade de revogação da resolução de 2019, decidimos manter sua análise em nossa pesquisa por dois motivos principais. Primeiro, nossa investigação ocorreu antes de qualquer possível revogação, sendo a resolução ainda válida à época. Segundo, mesmo considerando uma revogação posterior, é crucial reconhecer que o PPC foi reestruturado sob alguns dos seus vieses. Além disso, a resolução de 2019 é parte da história da formação de professores no Brasil e do contexto político em que estávamos inseridos, contextualizando nosso estudo dentro do panorama educacional e político nacional da época. Utilizamos conceitos como Insubordinação Criativa (IC) (D’Ambrosio; Lopes, 2015) e o papel da Colaboração (Saraiva; Ponte, 2003) para possibilitar ações criativas, pois, com a adoção da IC, fomenta-se o pensamento crítico, comunicação entre pares, transformação de realidades e a concretização de aspirações. Realizamos entrevistas semi-estruturadas, incluindo, como participantes, os presidentes do NDE e, no mínimo, um docente representante de cada subárea da matemática, incluindo Educação Matemática, Estatística, Matemática Pura e Aplicada. Para a análise, utilizamos a Análise Textual Discursiva (ATD) (Moraes; Galiazzi, 2016) para explorar as percepções e práticas dos membros do NDE, pois, estudos que atribuem valor ao aspecto discursivo percorrem um caminho que abrange desde o que é explicitamente expresso até aquilo que permanece implícito, em um constante movimento entre o que é manifestado e o que permanece oculto. Do processo de análise emergiram quarenta e duas Unidades de Significado (US). Agrupadas por semelhança temática, essas unidades foram organizadas em nove categorias iniciais (C.1, ..., C.9), para cada uma das quais foi elaborado um argumento parcial representativo. Posteriormente, essas categorias iniciais foram agrupadas em quatro categorias intermediárias, por exemplo a categoria “C.1.4. Desbravando novas fronteiras: a articulação transformadora a partir da colaboração na formação docente que foi composta pelas categorias iniciais [C.4. Caminhos da diversidade: reflexões na construção de PPC que promovem a inclusão e a consciência social na formação de professores (9 US) + C.9. NDE em ação: construindo estratégias para promover a identidade do curso para uma educação matemática articulada (5US)]. Essas categorias estruturaram o metatexto de análise: "Auto(trans)formações do professor formador: um contínuo processo de aprender a articular saberes". A investigação enfatizou a importância da criatividade e colaboração, além de superar resistências institucionais e incorporar práticas pedagógicas reflexivas articuladas com as diretrizes educacionais. Destacamos que a formação contínua essencial para atender às demandas educacionais em constante atualização, promovendo uma educação inclusiva. Concluímos que a IC e a colaboração podem contribuir para a transformação criativa da/na prática docente e criação de condições que permitam aos formadores transformar a realidade que os circunda.
Referências
D'AMBROSIO, Beatriz Silva; LOPES, Celi Espasandin. Insubordinação Criativa: um convite à reinvenção do educador matemático. BOLEMA: Boletim de Educação Matemática, v. 29, n. 51, p. 1-17, 2015.
MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise textual: discursiva. Editora Unijuí, 3 ed. 2016.
SARAIVA, Manuel Joaquim; PONTE, João Pedro da. O trabalho colaborativo e o desenvolvimento profissional do professor. Quadrante, v. 12, n. 2, p. 25-52, 2003.