NARRATIVAS DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA INDÍGENAS SOBRE SUAS PRÁTICAS E FORMAÇÃO
Resumo
Atualmente, o termo "dar voz" está sendo amplamente discutido e problematizado, pois pode resultar em uma relação de assujeitamento e subalternidade para a pessoa que recebe essa voz. No entanto, as pesquisas que se utilizam da História Oral têm contribuído sobremaneira em fazer com que determinadas narrativas, antes restritas a um pequeno contexto social, circulem também em espaços acadêmicos. Nesse contexto, este trabalho almeja produzir e disseminar as vozes de professores de Matemática indígenas que atuam em escolas municipais ou estaduais na Cidade de Campo Grande, capital do estado. A partir deste ponto, temos como objetivo analisar como se constituem estas identidades profissionais a partir de suas cosmovisões, da diversidade e sobreposição cultural ocidental sobre a educação dos povos indígenas, e quais práticas, identidades, resistências e sujeitos emergem dessa prática e movimentos formativos. Como eixo teórico, será utilizado um referencial que contempla temas centrais como: formação de professores de matemática, perspetivismos culturais, multinaturalismo, multiplicidades e narrativas (Viveiros de Castro, 2018; Cury, 2013). O estudo caracteriza-se por uma abordagem qualitativa, de modo que serão realizadas entrevistas semi-estruturadas com professores de matemática indígenas que atuam em escolas municipais ou estaduais na cidade de Campo Grande-MS, contemplando diferentes estágios de carreira: início, meio (com cerca de 10 anos de experiência) e fim de carreira (próximos da aposentadoria). Ao incluir professores de matemática indígenas em diferentes estágios de carreira, busca-se não apenas captar uma diversidade de experiências e conhecimentos, mas também entender como as diferentes fases da trajetória profissional influenciam suas práticas pedagógicas e suas percepções sobre a educação matemática. A quantidade de docentes não está definida a priori, permitindo a participação voluntária dos interessados. As entrevistas poderão abordar a problematização das subjetividades, seguindo a abordagem da "História Oral de vida" (Garnica; Gomes, 2020). Espera-se que os resultados contribuam para a problematização sobre “o perigo de contar uma única história” (Adichie, 2019), que apaga/menospreza/invisibiliza comunidades geralmente postas à margem. Ao registrar e analisar as narrativas dos professores, busca-se revelar as múltiplas perspectivas e subjetividades que compõem suas vivências, desafiando a homogeneização cultural.
Referências
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Companhia das Letras, 2019.
CASTRO, Eduardo Viveiros de. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. Ubu Editora LTDA-ME, 2018.
CURY, Fernando Guedes. De Narrativas a Análises Narrativas: reflexões sobre a análise de depoimentos em pesquisas de história da educação (matemática). Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 6, n. 1, p. 143-164, 2013.
GARNICA, A. V. M.; GOMES M. L. M. História Oral: diversidade, pluralidade e narratividade em educação matemática. Educação Matemática e Diversidade (s). Porto Alegre: Fi, 15-42. 2020.