A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E A DEFICIÊNCIA VISUAL:

REFLEXÕES SOBRE OS PROCESSOS DE IN/EXCLUSÃO

Resumo

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade da Educação destinada a pessoas que não tiveram acesso ou não concluíram seus estudos na idade adequada. Tem como objetivo proporcionar oportunidades de aprendizado para jovens, adultos e idosos, visando à alfabetização, à continuidade da escolarização e à formação profissional. Como modalidade de ensino possui uma abordagem pedagógica específica, levando em consideração as características e experiências dos estudantes. As aulas costumam ser flexíveis, adaptadas aos horários dos alunos, permitindo que eles conciliem os estudos com outras responsabilidades, como trabalho e família (Corenza, 2024).

Neste resumo apresentamos uma pesquisa de doutorado, em andamento, que tem como objetivo investigar o ensino de Matemática em uma sala da EJA em que a maioria dos alunos têm deficiência visual.

É importante dizer que a deficiência visual é definida como cegueira, quando há percepção de luminosidade, mas ausência total de visão, podendo ser congênita ou adquirida; e baixa visão, quando há grande perda visual, mas com alguma funcionalidade preservada (Brasil, 1999). A pesquisa visa compreender os processos de inclusão e exclusão vivenciados por pessoas com deficiência visual na EJA, focando na alfabetização, letramento e construção do conhecimento matemático. A pesquisa busca contribuir para o desenvolvimento de metodologias e recursos que auxiliem no ensino de Matemática para este público. Utilizando uma abordagem qualitativa e exploratória, empregando técnicas como entrevistas, observações em sala de aula e análise de documentos (Minayo, 2001).

A metodologia adotada é a cartografia, baseada nos conceitos de Deleuze e Guattari. A cartografia permite um contato direto e imersivo com o objeto de estudo, proporcionando uma compreensão profunda das experiências dos alunos (Kastrup; Passos; Escóssia, 2009). Essa abordagem não segue um caminho linear, mas permite que o pesquisador explore múltiplas dimensões e intensidades do objeto ao longo do processo (Costa, 2014).

Para embasar teoricamente essa pesquisa, optamos por olhar para a Filosofia da Multiplicidade, cujo princípio fundamental defendido por Deleuze e Guatarri (2006) é que cada entidade é vista como singular e irreproduzível, e as relações entre as entidades são concebidas como complexas e fluidas. Em resumo, a Filosofia da Multiplicidade busca compreender e abraçar a diversidade e a complexidade do mundo, rejeitando visões simplistas e reducionistas da realidade. Ela promove a valorização das diferenças, a multiplicidade de perspectivas e a abertura para a emergência de novas possibilidades.

A pesquisa será conduzida em uma sala de aula da EJA do ISMAC[1], que atende principalmente pessoas com deficiência visual, com idades entre 45 e 80 anos. Fundado em 1957, o ISMAC oferece serviços de educação, assistência e reabilitação para promover a autonomia e independência de pessoas com deficiência visual. Com base no método cartográfico, a pesquisa desenvolverá oficinas com os alunos da EJA para diversificar os meios de aquisição dos conceitos matemáticos fundamentais, utilizando recursos acessíveis, como o soroban, para mediar a construção do conhecimento matemático.

Ao final, espera-se oferecer contribuições significativas para o campo da Educação Matemática, fortalecendo práticas pedagógicas inclusivas e beneficiando o desenvolvimento de metodologias que atendam às necessidades específicas dos alunos com deficiência visual.

 

[1] O Instituto Sul Mato-Grossense para Cegos "Florivaldo Vargas" (ISMAC), é uma instituição sem fins lucrativos, fundada em 1957, onde são oferecidos atendimentos voltados para assistência, educação, trabalho e saúde de pessoas com deficiência visual em qualquer idade que necessitam de habilitação ou reabilitação social.

Biografia do Autor

Joyce Braga, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Graduada em Licenciatura em Matemática pela Faculdade do Grupo UNIASSELVI (2014). Especialista em Deficiência Visual pela Faculdade Campos Elíseos (2016) Atualmente é docente na Rede Municipal de Ensino. Técnica Pedagógica no Centro Pedagógico de Apoio a Pessoa com Deficiência Visual do Mato Grosso do Sul - CAPDV/MS. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. Atuando na Educação Inclusiva na perspectiva da Educação Especial, possuo grande experiência em transcrição Braille nas áreas: exatas, biológicas e humanas, com conhecimento aprofundado nas grafias de diferentes áreas do conhecimento e Audiodescrição.

Fernanda Malinosky Coelho da Rosa, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Mãe do Heitor. Professora Adjunta do Instituto de Matemática (INMA) e do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS/ Campo Grande). Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática, Diversidade e Diferença (GEduMaD). Foi Editora da Revista Perspectivas da Educação Matemática (2020-2022). De 2018 a 2021 foi Vice coordenadora do GT 13 - Diferença, Inclusão e Educação Matemática da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM). De 2020 a 2022 foi responsável pela Secretaria de Formação de Professores da Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Esporte da UFMS (SEFOR/DIEX/PROECE). Doutora em Educação Matemática na Unesp - Campus de Rio Claro/SP (2014-2017) com estágio de um ano na Miami University, Oxford, Ohio (2015) - doutorado sanduíche (tese escolhida para receber uma menção honrosa no I Prêmio Unesp de Teses, em 2018). Mestre em Educação Matemática na Unesp (2013). Graduação em Matemática- licenciatura pela Universidade Federal Fluminense (2008). Especialização em Educação Especial com ênfase em Deficiência Visual pela UNIRIO (2009).

Referências

CORENZA, Janaina de Azevedo. Eja, relações raciais e tecnologias: diálogos científicos possíveis. CONEDU - Educação e Relações Étnico-Raciais (Vol. 02). Campina Grande: Realize Editora, 2024.

COSTA, Luciano Bedin da. Cartografia: uma outra forma de pesquisar. Revista digital do LAV. Santa Maria, UFSM. Vol. 7, n. 2 (mai./ago. 2014), p. 65-76, 2014.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs 1: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Ed. 34/1995, 4ª reimpressão, 2006.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virginia & ESCÓSSIA, Liliana da. (Orgs.). Pistas do método da cartografia. Porto Alegre: Sulina, 2009.

Publicado
2024-12-12
Seção
Resumo Expandido – Pôster - XVIII SESEMAT - 2024