ASPECTOS DA PRESENÇA FEMININA NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA DO INMA

Resumo

Na História da Matemática poucos são os registros das contribuições das mulheres em partes pela falta de fontes, mas também pelo pequeno número de mulheres direcionadas a área de exatas, como aponta o Censo da Educação Superior de 2022, que diz que as mulheres representavam apenas 22,0% dos que estavam se formando nos cursos de Ciências, Tecnologias, Engenharias, Matemática. Apesar de condições de acessos igualitárias ao ensino superior, é fato que ainda há uma subrepresentação da presença feminina nos cursos de matemática se compararmos ao número da população. Especificamente nos cursos ofertados pelo Instituto de Matemática (INMA) - bacharelado e licenciatura, tivemos no 1° semestre do ano de 2023 o ingresso de apenas 31% de mulheres. Os desafios encontrados pelas mulheres durante o curso, no entanto, estão para além do ingresso e são muito distintos. Na iniciação científica a que esse texto se refere, realizamos uma entrevista com uma aluna do curso e alguns desses desafios foram apontados. O estudo teve como objetivo mapear a presença feminina no curso de Matemática - licenciatura e bacharelado da UFMS. Para isso, inicialmente, foi realizado um levantamento de dados quantitativos fornecidos pelo site da UFMS, onde foi possível analisar a presença feminina na instituição a partir de resultados estatísticos. Em sequência, foi realizada uma entrevista roteirizada com uma estudante do curso de Matemática-Licenciatura ofertado pela UFMS, com o intuito de publicizar experiências que contenham os desafios pessoais de uma mulher na área de ciências exatas. Dos dados produzidos, temos que no 1° semestre do ano de 2023, as mulheres representaram 54,48% dentre aqueles que cursam ensino superior pela UFMS, enquanto no curso de Matemática (licenciatura), elas representam apenas 33,33%. Se olharmos para os alunos do Instituto de Física (INFI) e da Faculdade de Computação (FACOM) essa diferença é ainda mais expressiva, onde as mulheres representam, respectivamente, 27,65% e 15,53% do total de alunos. Apesar de ser importante olharmos para os números, eles pouco nos dizem sobre os desafios enfrentados pelas mulheres na área de ciências exatas. A entrevista realizada nos traz alguns indícios desses dilemas, como maternidade, jornadas de trabalho (dentro e fora de casa), falta de rede de apoio. Durante sua gravidez, a estudante entrevistada afirma que seu primeiro pensamento foi trancar o curso para se dedicar à maternidade, enquanto seu marido, sequer cogitou essa possibilidade em qualquer momento. Esse relato reflete a realidade de muitas mulheres. A jornada feminina dentro de qualquer profissão já é difícil, e dentro do campo das ciências exatas, essa dificuldade aumenta, uma vez que além de todos os problemas enfrentados e situações pessoais, contam - se ainda com os estereótipos e a desvalorização da mulher dentro desse campo. Tal problema histórico, reflexo da organização da sociedade nos tempos passados e de forte influência da tríplice ancestralidade, conforme pontua Chassot (2003). Olhando para a entrevista realizada, inferimos que mesmo que as condições de acesso aos estudos oferecidas para ambos os gêneros sejam iguais, as alunas sempre estarão em desvantagem aos alunos. Enquanto os homens estão se preparando para uma prova e aproveitando seu tempo de estudos, as mulheres estão cuidando de seus filhos e lidando com afazeres domésticos. Não queremos com essa leitura simplesmente hierarquizar sofrimentos, mas entender que esses estão interceptados pelas estruturas (Akotirene, 2020).

Biografia do Autor

Talita Gabriela Melgarejo Olmedo, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Licencianda em Matemática pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Carla Regina Mariano da Silva, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Doutora em Educação Matemática. Possui graduação em Licenciatura Matemática pela Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de Jacarezinho (2004), mestrado em Educação Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2008) e doutorado em Educação Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2015). Atualmente é professora adjunta do Instituto de Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, docente do Curso de Mestrado da Pós-graduação em Educação Matemática - PPGEDUMAT. Tem experiência na área de Educação Matemática, atuando principalmente nos seguintes temas: educação matemática, formação de professores, história da educação matemática.

Referências

AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. São Paulo: Jandaíra, 2020.

CHASSOT, Attico Inacio. A ciência é masculina? É, sim senhora! Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.

Publicado
2024-12-13
Seção
Resumo Expandido – Pôster - XVIII SESEMAT - 2024