UMA DISCUSSÃO DE UMA ATIVIDADE BASEADA EM CATEGORIAS DO COTIDIANO NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA

Resumo

O objetivo deste trabalho é analisar uma atividade baseada em categorias do cotidiano (AbCC) e explicitar suas potencialidades na formação inicial de professores de matemática. Para a realização dessa investigação, em andamento, foram realizadas leituras de trabalhos que utilizaram como referencial teórico-metodológico o Modelo dos Campos Semânticos (MCS) (Lins, 1999) e que investigaram espaços formativos com a utilização de atividades baseadas em categorias do cotidiano (Viola dos Santos, Barbosa e Linardi, 2018). Neste trabalho apresentamos algumas discussões de uma atividade. De maneira sucinta, “o MCS é uma teorização que oferece possibilidade de realizarmos leituras de processos de produção de significados de sujeitos educacionais. Não se trata de algo estático e engessado, mas sim de um movimento, um modo de ver mundos, nos inventando neles”. (Viola dos Santos, et al, 2018, p 42). Quando pensamos em Matemática é inevitável não pensar em fórmulas e em um ensino totalmente tradicional. Junto a essa narrativa, quase sempre, vem a pergunta de muitos alunos: em que parte da minha vida eu vou usar isso? Essa pergunta também é frequente nas aulas da graduação e, aparecem com frequência, como consequência disso, uma ideia de um ensino tradicional, em que os alunos precisam escutar o que o professor tem a dizer e ocupam espaços para explicitar seus significados, afetos, histórias. Para que aconteça um processo de interação no qual alunos e professores se alterem como sujeitos que produzem significados é preciso que ambos estejam abertos e interessados no que o outro diz.  Como cita Lins “os significados da rua já estão na escola; podemos dar legitimidade a eles, com um projeto de educação matemática que dê voz aos alunos, ou podemos mantê-los na clandestinidade, com um projeto de educação matemática no qual só o professor fale. (p.87, 1999)”. Partindo disso, uma possibilidade para formar professores que ensinam matemática seria trabalhar com AbCC em uma dinâmica que posiciona o licenciando como protagonista e que desloca a centralidade dos conteúdos matemáticos. Espaços, demandas, instâncias da vida que se relacionam a um cotidiano, um comum, que pode ser partilhado, se constitui como uma centralidade nos espaços formativos. Nossa atividade estudada foi: “Thomas Esfirras”, com o seguinte enunciado: Thomaz Esfirras é uma lanchonete que cobra de seus clientes de uma maneira diferenciada. Os salgados ficam em gôndolas e os refrigerantes ficam em geladeiras à disposição dos clientes. Estes se servem à vontade e quando vão pagar o caixa pergunta quanto eles comeram e beberam. Você acha que o dono do Thomaz Esfirras tem prejuízo por cobrar dessa maneira? Essa atividade demanda que o licenciando tome uma decisão em discussões éticas, filosóficas, econômicas, matemáticas. Por exemplo, será que todos os clientes são honestos? Em relação à propaganda do estabelecimento, será que essa atrai mais clientes e compensa aquele que não pagou por tudo? Acreditamos que o papel da formação inicial não é de, apenas, ensinar conteúdos, mas sim em oferecer possibilidades para que futuros professores possam ampliar seus repertórios e construírem tematizações com seus futuros alunos, nas quais processos de produção de significados matemáticos, não-matemáticos, políticos, econômicos, sociais possam fazer parte.

Biografia do Autor

Barbara Tonon da Silva, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Estudante de Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

João Ricardo Viola dos Santos, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Licenciado em Matemática (2004) pela Universidade Estadual de Londrina, Mestre em Educação Matemática (2007) pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática da Universidade Estadual de Londrina. Realizou estágio, durante o mestrado, na Miami University, United States (2006). Doutor em Educação Matemática (2012) pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da UNESP de Rio Claro. Realizou pós-doutorado na School of Education da University of Cape Town, South Africa (2019-2020). É professor associado do Instituto de Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e atua no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática (Mestrado e Doutorado). Atua também como professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências da Natureza e Matemática na UFMT-SINOP (Mestrado Profissional). Foi coordenador Adjunto da UAB-UFMS (2009-2011). Foi coordenador da Licenciatura em Matemática, EAD-UFMS (2016-2017). Foi Editor da revista Perspectivas da Educação Matemática (2014-2019). Foi diretor da Sociedade Brasileira de Educação Matemática, Regional Mato Grosso do Sul (2012-2015 e 2015-2018). Principais interesses de pesquisa: Formação de Professores, Avaliação em Matemática, Modelo dos Campos Semânticos, Filosofias da Diferença, Pós-Humanismo e Pensamento Decolonial. Atualmente é coordenador do Grupo de Trabalho de Avaliação e Educação Matemática da SBEM (2021-2024)

Referências

LINS, Romulo Campos. Por que discutir teoria do conhecimento é relevante para a Educação Matemática. In: BICUDO, Maria Aparecida. Viggiani. (Org.). Pesquisa em Educação Matemática: concepções e perspectivas. São Paulo: Editora Unesp, 1999. p. 75-94

VIOLA DOS SANTOS, João Ricardo; BARBOSA, Edson Pereira; LINARDI, Patrícia Rosana. Uma discussão de atividades baseadas em categorias do cotidiano na formação de professores que ensinam matemática. VIDYA (SANTA MARIA. ONLINE), v. 38, p. 1-19, 2018

Publicado
2024-12-11
Seção
Resumo Expandido – Pôster - XVIII SESEMAT - 2024