IDENTIDADE
INQUIETAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA TESE NO CAMPO DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
Resumo
Já sentiram aquela sensação de não saber por onde começar a desenvolver uma pesquisa? Ou quando a temática é justamente o que te move, mas o seu (des)orientador lhe apresenta outras cosmopercepções (Oyěwùmí, 2021) do assunto [o que é interessante na construção enquanto futura pesquisadora] e, isso lhe causa aquele sentimento de não saber, não ter conhecimento, sobre o que te atravessa e afeta? Não? Uma das autoras desse resumo tem apresentado seu lugar de fala (Ribeiro, 2023) nessas inquietações. Uma mulher negra, que pesquisa sobre Questões Raciais no campo da Educação Matemática, que há oito anos se descobriu negra e lançou-se no processo de aprender mais sobre a sua identidade negra, a negritude, não acreditou, e não aceitou tão bem, quando se viu em meio a estudos sobre uma construção da negritude sem a identidade (Andrade, 2023). Ingressante do primeiro semestre do curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática (PPGEduMat) da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Thays, se indignou, e não imaginou, que durante a sua primeira orientação seria convidada a pensar a negritude como uma estética e não como um construto identitário. Para ela era difícil, e arrisco dizer que ainda é, “abrir mão” de um conceito que a pouco tempo tenha conquistado. Pois, seus estudos tendem a apresentar tensões com o que lhe foi proposto. Mas, quem disse que para ter outras percepções temos que abandonar o que já sabemos? Operar deste modo, ainda seria estar capturado pela binaridade, essência, representação, ideias muito amasiadas com movimentos racistas, patriarcais e coloniais. Pois bem, nos arriscamos a questionar: como pensar a negritude sem a identidade? O que isso apaga ou silencia? O que potencializa? O que fica dessas angústias? Que outras acontecem? Estava escuro no seu entendimento que: a raça branca criou a ideia de racismo, o racismo criou a raça negra e nós, pessoas que se declaram negras, criamos a negritude. Que é a construção de uma identidade que (re)significa o ser negra. Para as intelectuais negras que Thays tem estudado, a negritude é uma construção, é tornar-se. A novidade, para ela, está em pensar a identidade negra como uma produção do sistema segregador, ocidental e normativo que estamos inseridas. Também está em acreditar, e aceitar, que o racismo nos retira o direito de construir a nossa imagem, identidade, legítima. Que o que falamos e definimos em nós, não passa de uma resposta a branquitude e que, tudo isso, nada mais é que o colonialismo, mais uma vez, determinando critérios raciais legítimos de como dizer e narrar sobre nós mesmos (Andrade, 2023). Não apresentamos definições ou sistematizações com a ideia de identidade. Sim, pontuamos algumas inquietações [em níveis tripais, diga-se de passagem] que nos atravessam quando propomos uma tese com intersecções com a negritude e, com a pretensão de caminhar em direção a dissolução e apresentar a rebeldia de colocar na linha de frente a resistência e a luta de corpos insubmissos (Andrade, 2023). Uma vírgula a mais: que pode uma tese [em contágios com um feminismo negro] em um espaço outro que se afaste do conceito de identidade como uma produção de normas do ocidente?
Referências
ANDRADE, Érico. Negritude sem identidade: sobre as narrativas singulares das pessoas negras. n.1 edições, 2023.
OYĚWÙMÍ, Oyèrónkẹ. A Invenção das Mulheres: construindo um Sentido Africano para os Discursos Ocidentais de Gênero. Bazar do Tempo, 2021.
RIBEIRO, Djamila. Lugar de Fala. Editora Jandaíra, 2023.