USOS/SIGNIFICADOS DA GEOMETRIA NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES:

UM ESTUDO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

Resumo

O ensino de geometria é pautado, por vezes, como algo restrito aos axiomas e demonstrações que diminuem o alcance plural desse campo do saber. Nessa perspectiva, temos como objetivo investigar os usos/significados atribuídos à geometria mobilizados em jogos de linguagens na formação inicial da Universidade Federal do Acre. Para subsidiar essa investigação nos ancoramos na terapia desconstrucionista que têm como pressupostos teóricos a terapia filosófica de Wittgenstein e a desconstrução de Derrida, a qual assumimos como atitude metódica de pesquisa. O primeiro nos faz pensar a matemática como um conjunto de jogos de linguagens que carregam consigo traços de diferentes usos em momentos de atividade. O segundo, no que tange à desmistificação da matemática unicista, essencialista, permeada por axiomas e fórmulas. Trata-se de um estudo qualitativo, com viés descritivo, que se constitui por meio de jogos de cenas que se escrevem nos rastros das falas dos alunos da Licenciatura em Matemática, a partir de observações do pesquisador e registros escritos, a partir de práticas indisciplinares, isto é, que busca transgredir as barreiras disciplinares do currículo escolar. Essas mobilizações a serem desenvolvidas servirão como base para construção de jogos de cenas performáticos, em que através de diálogos, descreveremos alguns dos usos/significados da geometria na formação inicial e faremos as devidas análises. Mas o que seria essa atitude metódica, na qual nos propomos a se apoiar na escrita deste trabalho? De início, pode parecer estranho, pois tudo aquilo que é diferente, pode nos causar estranheza. Mas de forma simplista, seria apenas um modo menos enrijecido de conduzir a pesquisa, sem abandonar o rigor da produção científica, na qual nossa maior preocupação não é provar algo, típico de um estudo verificacionista, mas sim, mostrar as outras faces, daquilo que está nas entrelinhas, que muitas vezes passa despercebido. De certo modo, a terapia desconstrucionista a partir desses conceitos busca desconstruir o pensamento de que a pesquisa deve provar algo. Nossa intenção não é esta, mas sim de mostrar alguns desses diferentes modos de mobilização da geometria e analisá-los na tentativa de responder a questão. Em síntese o foco aqui, não é prioritariamente no “porquê”? mas sim, em como esses usos se evidenciam nesses jogos de linguagens. Assim, espera-se como resultados que possamos reconhecer que na formação inicial, não existe somente uma geometria, mas também outras, cada uma carregando traços de suas culturas, materializadas nos sujeitos desta pesquisa. Além disso, é interessante que ao fim da pesquisa possamos entender que a geometria quando constituída nesses jogos de linguagens, pode apresentar construções de significados e mobilizações diferenciadas a depender do uso envolvido, do material didático adotado, da perspectiva política do curso em questão, etc. É importante também que as vivências que serão descritas por meio de diálogos, possam se consolidar como boas práticas de ensino de matemática, possibilitando que estes futuros professores possam replicar algumas dessas experiências nas suas salas de aula, agora sob uma perspectiva ampliada da matemática. Por fim, também se espera que esse processo de desconstrução seja identificado nas ações propostas, em que deixamos de considerar a geometria sob apenas uma lógica, onde o essencialismo prevalece, e, passamos a olhar sob uma ótica contributiva que pluraliza esse campo do saber.

Biografia do Autor

Thassio Kennedy Silva Oliveira, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Atualmente é TAE - Assistente em Administração do quadro permanente de servidores da Universidade Federal do Acre, graduado em Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal do Acre. É Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Nível de Mestrado Profissional no Ensino de Ciências e Matemática - MPECIM/UFAC. Participa também do Grupo de Estudos e Pesquisas em Linguagens, Práticas Culturais e Ensino de Matemática e Ciências (GEPLIMAC/UFAC) se organizam em torno de professores pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação com foco em linhas de pesquisas relacionadas à Formação de Professores, Práticas Culturais, Ensino, Jogos, Recursos e Tecnologias em Ensino de Ciências e Matemática, Saberes e Formação Docente, Tecnologia Assistiva, Etnomatemática, modelagem, Cultura e Sociedade, dentre outras, linhas essas organizadas através de diálogos abertos e produtivos com várias áreas do conhecimento, daí o caráter interdisciplinar do grupo, cujo resultado ou intenção será desenvolver pesquisa científica e/ou tecnológica e produzir materiais didáticos ou afins. Atuou também como bolsista do Programa Institucional de Iniciação à docência - PIBID da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, desenvolvendo atividades iniciais de ensino. Foi também TAE - Auxiliar de Biblioteca do quadro de servidores efetivos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre. Trabalhou no IBGE, possuindo experiência em pesquisas do órgão.

Thiago Pedro Pinto, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS onde atua no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática do INMA (com orientações de mestrado e doutorado) e no Mestrado Profissional em Filosofia (PROFILO); É Editor-chefe da Revista Perspectivas da Educação Matemática (UFMS) desde 2020. Vice-líder do Grupo História da Educação Matemática em Pesquisa (HEMEP) desde 2011. Tem interesses em pesquisas vinculadas à História da Educação Matemática, à Formação de Professores de Matemática e à Filosofia (da/na Educação Matemática). Tem orientado trabalhos que versam sobre a formação de professores indígenas numa perspectiva histórica e sobre a participação das geometrias na formação de professores. Toma como base teórica os estudos de Ludwig Wittgenstein em sua segunda fase e autores contemporâneos de filosofia e antropologia. Quanto sua formação, é Graduado em Licenciatura em Matemática pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho - PR (2005) atual UENP. Mestre em Educação Matemática pela UNESP - Rio Claro (2009). Doutor em Educação para a Ciência UNESP - Bauru (2013). Desde 2006 está vinculado ao GHOEM, Grupo de História Oral e Educação Matemática.

Referências

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Publicado
2024-12-13
Seção
Resumo Expandido – Pôster - XVIII SESEMAT - 2024