COMO SER PROFESSORA EM UM 6º ANO E?

UMA EXPERIÊNCIA EM ESTÁGIO

Resumo

Este trabalho relata a primeira experiência de estágio de uma licencianda em Matemática com uma turma de 6º ano. A disciplina de Estágio Obrigatório I, realizada no 5º semestre do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Aquidauana (UFMS/CPAQ), propôs a atuação em turmas de 6º ou 7º ano do Ensino Fundamental. A atuação ocorreu entre abril e junho de 2024, com uma turma do 6º ano E, no período vespertino, em uma escola pública da cidade. A professora supervisora indicou a sala que mais necessitava de acompanhamento e apoio. Na tentativa de se preparar, a estagiária realizou a seguinte busca na internet: como ser professora em um 6º ano E? Desde o início, foi percebido um ambiente desafiador: alunos desinteressados, dispersos, indisciplinados e, muitas vezes, emocionalmente fragilizados. A realidade encontrada contrastava com a ideia idealizada de sala de aula, provocando reflexões como: o que seria uma sala ideal? Ideal para quem? Enfrentar essa realidade tornou-se uma missão. O estágio teve início com observações diretas em sala e participação nas atividades pedagógicas, como conhecer os estudantes, seus comportamentos e dificuldades, compreender a dinâmica da turma, estabelecer vínculos, apoiar as aulas e a realização das tarefas. Muitos estudantes apresentavam dificuldades de aprendizagem, desmotivação e carências afetivas, expressas em falas como a de um aluno que afirmou desejar que a estagiária fosse sua mãe. Para além das questões pedagógicas, havia uma forte demanda por acolhimento, escuta e afeto. A estagiária começou a desenvolver estratégias para tornar as aulas mais atrativas e acessíveis. Em vez de pedir que os alunos copiassem os conteúdos do quadro, as atividades eram impressas, otimizando o tempo e facilitando a participação. Foram utilizadas dinâmicas, objetos concretos e pequenas recompensas, como doces e balas, para estimular o interesse deles. Em uma das aulas, ao abordar o tema de medidas de comprimento, foram usados exemplos do cotidiano dos alunos, o que resultou em maior engajamento e participação. Após a adoção dessas estratégias, os alunos passaram a demonstrar maior atenção, interesse e participação nas atividades. A professora supervisora também notou diferenças, especialmente em uma aula em que não conseguiu avaliar todos os cadernos, pois todos os estudantes haviam concluído as tarefas propostas. Essa experiência reforçou a compreensão de que a relação entre professor e aluno é central no processo educativo. Como afirmam Linhares et al. (2014), essa relação influencia diretamente a aprendizagem, moldando a percepção dos alunos sobre os conteúdos, as metodologias e a escola. O estágio possibilitou vivenciar a prática pedagógica de forma sensível, humana e reflexiva. Como aponta Januário (2008), estagiar é ensinar e aprender simultaneamente, além de nos colocar diante da complexidade da educação pública. Os desafios encontrados também evidenciaram o cansaço e desgaste de muitos professores em renovar suas práticas pedagógicas, ressaltando a necessidade de promover relações mais humanas no espaço escolar. Ao final da experiência, compreendeu-se que a turma inicialmente considerada “problemática” se tornou a sala ideal para a formação da estagiária: um espaço onde ela foi necessária, acolhida e pôde fazer a diferença. Dessa vivência nasceu o desejo de ser uma professora com humanidade, capaz de transformar realidades por meio da empatia, da escuta atenta e do compromisso com a aprendizagem.

Biografia do Autor

DULCILENE FIALHO CHAVES, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Aquidauana

Acadêmica do 7º semestre do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Aquidauana

Juliana Alves de Souza, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Aquidauana

Licenciada em Matemática (2010), mestre em Educação Matemática (2013) e doutora em Educação Matemática (2018) pela UFMS. Docente efetiva do Curso de Licenciatura em Matemática da UFMS, Campus de Aquidauana. Integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Matemática e Avaliação (GEPEMA).

Publicado
2025-08-26
Seção
Resumo Expandido – Pôster - XIX SESEMAT - 2025