O QUE FAZ UM PESQUISADOR DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (HEM)?
Resumo
O que seria História da Educação Matemática (HEM)? É o estudo do desenvolvimento histórico do ensino e aprendizagem da matemática. Em que investiga como a matemática foi ensinada, aprendida e compreendida ao longo do tempo, incluindo as mudanças nas abordagens pedagógicas, nos currículos, nas ferramentas e nos materiais didáticos. Buscamos como aporte teórico metodológico da história cultural – entre práticas e representações Chartier (1991): em que esclarece sobre o que trata o ofício do historiador cultural Certeau (2002). A história cultural, aplicada ao campo da Educação Matemática, oferece uma contribuição fundamental para compreender não apenas os conteúdos matemáticos ensinados ao longo do tempo, mas também os contextos sociais, culturais e pedagógicos que envolvem o ensino e a aprendizagem dessa disciplina. No que propicia um olhar multifacetado sobre a educação matemática, que vai além da mera descrição cronológica dos conteúdos ministrados ou das instituições escolares. A procura por fontes diferentes daquelas utilizadas por historiadores tradicionais propõe novos objetos de investigação e novas reflexões metodológicas. Nesse sentido, a HEM com o aporte teórico da história cultural enfatiza a importância de analisar documentos nunca anteriormente considerados como fontes de pesquisa, que não se limitam aos textos matemáticos ou aos documentos formais, mas abrangem materiais como livros didáticos, manuais para professores, provas, cadernos de alunos, arquivos escolares e pessoais, além de depoimentos e narrativas dos envolvidos no processo educativo etc. (Valente, 2008; 2013). Essas fontes permitem compreender as práticas pedagógicas e as representações sociais do saber matemático, evidenciando como ele foi produzido, transmitido, apropriado e ressignificado em diferentes contextos históricos. A cultura escolar — um conceito que emergiu na década de 1990 com os estudos de Chervel sobre as disciplinas escolares, para atender a uma demanda por problematizar as práticas escolares para além de uma visão meramente reprodutivista, aproximando a escola das demais esferas culturais (religiosa, familiar, política, social). A cultura escolar (Julia, 2001), entendida como um conjunto de normas, valores, saberes e práticas que definem o que deve ser ensinado e como (inculcar), labora como um campo de tensões e negociações entre diferentes atores e forças sociais, o que torna o estudo da HEM algo dinâmico e complexo. Ao olhar para as práticas educacionais como “um lugar social”, conforme Certeau (2002), possibilita analisar não só o que é ensinado em matemática, mas também como os saberes profissionais dos professores são construídos, transformados e mobilizados em dado tempo. Essa perspectiva aproxima a pesquisa da HEM das experiências vividas pelos sujeitos, suas narrativas e as condições específicas das escolas. Ela permite perceber que o ensino da matemática é uma prática histórica situada, atravessada por normas, condições sociais, políticas e econômicas, que vão moldando seu desenvolvimento e sua função na escola e na sociedade. Em suma, o historiador da educação matemática trabalha na produção de narrativas histórias que abarcam as dimensões sociais e culturais do ensino, as práticas e as representações de professores e alunos, a cultura escolar e a constituição dos saberes profissionais, oferecendo uma análise profunda, crítica e contextualizada da educação matemática ao longo do tempo.