Os OS NÚMEROS TEM COR?
RACISMO NAS AVALIAÇÕES EXTERNAS EM MATEMÁTICA NO BRASIL
Resumo
O objetivo deste resumo é apresentar uma discussão inicial de reverberações e impactos do racismo, anunciado como estrutural, nos resultados dos estudantes no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2023. A Educação Matemática, embora seja dita neutra, é palco de (re)produção de desigualdades raciais (Almeida, 2018), pois se funda em perspectivas que segregam essa área das emergências da nossa sociedade. Longe da neutralidade, perpetuam-se desigualdades raciais no ensino, que se manifestam em três dimensões interligadas: a infraestrutura escolar; livros eurocêntricos; falta de representatividade docente — elementos que convergem para o que Bento (2022) denomina “Pacto da Branquitude” na educação, e por consequência na Matemática também. Discutir essa dominação da branquitude é perceber que vivemos em uma sociedade em que o racismo estrutura e molda os modos da população negra existir. Ou seja, é compreender que o racismo determina os sistemas governamentais, como por exemplo as avaliações. O racismo estrutural (Almeida, 2018) está ligado diretamente ao desempenho dos estudantes brasileiros nas avaliações. Não por acaso, de acordo com o Ministério da Educação (MEC), a oferta da educação pública não é a mesma para pretos(as), pardos(as) e indígenas, pois os dados revelam um gradiente racial na distribuição de oportunidades educacionais. Em relação à infraestrutura escolar, por exemplo, 98,2% dos(as) estudantes brancos(as) que estão em escolas convencionais têm acesso à água, energia e coleta de lixo e esgoto. O acesso de alunos(as) pretos(as), pardos(as) e indígenas no mesmo tipo de escola é de 96,5%, 92,9% e 89,5%, respectivamente. Em termos gerais, dos 2,3 milhões de discentes sem infraestrutura mínima, 86% são pretos(as), pardos(as) ou/e indígenas. Esses dados explicitam a necropolítica (Mbembe, 2018) em ação: o Estado define quem merece dignidade através de políticas que mantêm hierarquias raciais e define quais corpos merecem condições dignas de aprendizagem. O mecanismo opera de forma circular — a infraestrutura precarizada gera desempenho baixo, que por sua vez justifica novos ciclos de negligência. Os efeitos desse processo aparecem cruelmente nos indicadores de proficiência e, de acordo com o QEdu (2023), apenas 3% dos estudantes autodeclarados pretos(as) atingem o nível considerado adequado em aprendizagem matemática. Tais disparidades não podem ser consideradas supostas “deficiências cognitivas”, mas à cumulatividade de exclusões. Sendo assim, investigar esses dados, na direção de desnaturalizá-los, produzindo relações outras, se constitui como um objetivo de uma pesquisa em educação matemática. Como racismo estrutural e avaliações externas reverberam e se impactam? Como marcadores de nossa sociedade, tais como, raça, classe, gênero, território, ambiente, afetam os desempenhos de nossos(as) estudantes nas avaliações externas, bem como também nas escolas? Nosso foco, primeiro, seria em questões raciais.