Produzindo Histórias das Matemáticas Recorrentes em Acampamentos da Reforma Agrária em Mato Grosso do Sul
Resumo
Este texto é uma discussão coletiva para o andamento de um projeto que propõe investigar as diferentes matemáticas praticadas no cotidiano de pessoas que vivem em acampamentos à espera da efetivação da Reforma Agrária em de Mato Grosso do Sul — MS. Portanto, a pesquisa busca entender que educação (matemática) acontece nesses acampamentos, ou seja, quais as percepções sobre a matemática e suas particularidades nas vivências do sem terra e, também, qual matemática é necessária para se viver em um acampamento, ou que matemática é praticada em um acampamento. Concomitante, pretendemos produzir uma história das vivências e re-existências de comunidades acampadas, quando registramos a história do uso da matemática do dia a dia, histórias que só existem quando narradas. Segundo o Instituto Nacional da Reforma Agrária — INCRA, em MS existem 5.172 trabalhadores e trabalhadoras rurais, em 36 acampamentos, localizados em nove municípios do estado. No cenário sul mato-grossense, não há registros oficiais da quantidade de escolas nesses acampamentos, o que é uma chamada para nossos questionamos. Rememorando que o direito à Educação do e no Campo para os povos que vivem em áreas de campesinato no Brasil é uma conquista da luta dos movimentos sociais. No entanto, o que é oferecido a essas comunidades muitas vezes é somente o que sobra das cidades, ou seja, uma escola com currículo e estrutura pensada para o ambiente urbano, mas transplantados para o campo. Em alguns casos, como o apresentado em Oliveira (2025), há até mesmo a extinção deliberada de escolas localizadas em regiões do campesinato. Em outras palavras, a Educação do Campo é fruto de lutas por uma educação, que seja produzida para e com os povos campesinos. Trata-se de um conceito em constante transformação, que não pode ser rigidamente definido de forma universal (Caldart, 2012). Nesse ínterim propomos como questão que movimenta o desejo em realizar a pesquisa: Se e quais os acampamentos de reforma agrária em Mato Grosso do Sul apresentam espaços de (re)existência e organização social, onde as comunidades desenvolvem práticas e saberes matemáticos específicos vinculados às suas realidades? Mesmo partindo do pressuposto que tenham matemática(s) outras sendo mobilizadas, compreendemos, contudo, os sistemas educacionais muitas vezes falham em não reconhecer e valorizar as matemáticas presentes nessas práticas cotidianas. A possibilidade da produção de narrativas que contêm experiências, que pretendemos produzir nesta pesquisa, podem ser estruturadas com base nos procedimentos da História Oral, que tem sido a metodologia utilizada pelos autores no desenvolvimento de pesquisas em Educação Matemática (Silva, 2014; Oliveira, 2025). Nessa metodologia, narrativas são produzidas em momentos de entrevistas, não somente como um método de produção de dados, mas também como um ato de posicionamento político (Garnica; Gomes, 2020). Narrar experiências tem se constituído como um ato de existência, ou seja, um modo de possibilitar a escuta das histórias que só existem quando contadas. As entrevistas são um conjunto de encontros interepistêmicos no qual os/as pesquisadores/as e colaboradores/as ensinam e aprendem entre si (Oliveira; Lima; Silva, 2023). Além disso, propomos uma pesquisa com, significando, na nossa perspectiva, a participação nas diversas dinâmicas diárias dos acampamentos para identificar práticas matemáticas, de existência e re-existência (Arroyo, 2023).