SEXISMO NOS DISCURSOS MATEMÁTICOS
ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO NAS QUESTÕES DO VESTIBULAR DA UFMS
Resumo
O presente trabalho de Iniciação Científica tem como objetivo analisar, por meio de categorias de gênero, os discursos afirmados pelas questões matemáticas no vestibular da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Desse modo, a Matemática, como prática, pode contribuir para a regulação de papéis a serem seguidos por cada gênero, muitas vezes, quando invisibiliza determinadas possibilidades. Vemos nessa “demarcação territorial” para o gênero nas questões de Matemática, o que manifesta uma estrutura sexista, como alguns autores e autoras também mencionam (Souza e Silva, 2018; Valero, 2018; Souza e Fonseca, 2013). Dessa forma, analisamos e discutimos as provas realizadas no vestibular de 2023 e 2024, nos deparamos com questões explícita e implícita evidenciou um sexismo dentro dessas questões.
O processo analítico iniciou com a divisão das questões em duas categorias primárias classificando-as em: cálculo puro e questões contextualizadas. Em seguida, as questões contextualizadas foram submetidas a uma análise mais detalhada, considerando: (i) os diferentes tipos de contextualização presentes; e (ii) a existência ou não de uma problemática sexista. A análise das questões selecionadas revelou padrões significativos de representação de gênero. Identificamos casos nos quais a presença feminina é sistematicamente apagada ou minimizada, configurando uma forma de invisibilização. Nos raros momentos em que mulheres são incluídas na narrativa das questões, observa-se uma hierarquização discursiva que as posiciona em papéis socialmente doméstico/privado. Foi possível identificar como as personagens femininas são frequentemente designadas pelo termo "dona", categoria que, embora aparentemente neutra, opera como marcador de limitação funcional e confinamento ao espaço doméstico/privado. Em contraste, os personagens masculinos são associados a atividades profissionalizadas de alto capital econômico e com ênfase em cargos que envolvem gestão de recursos financeiros em escala macroeconômica. É possível perceber no vestibular da UFMS, por exemplo, que problemas matemáticos estejam ambientados em universos marcadamente masculinos, como o futebol e o mercado financeiro. Essas escolhas não são meramente ilustrativas: elas contribuem para a construção de uma matemática que parece “naturalmente” mais interessante ou acessível para os homens, ao mesmo tempo em que invisibiliza experiências e saberes de outros grupos sociais. Essa disparidade reforça estereótipos de gênero que vinculam masculinidade à esfera pública produtiva e feminilidade à esfera privada reprodutiva.